Em busca do contrato social do século XXI

Bruna Santos
ethos insights
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3 min readMar 7, 2016

É pertinente e urgente o debate e a observação profunda sobre os modelos de negócios emergentes no século XXI. Organizações híbridas, são diferentes de negócios sociais, que são diferentes de ONGs e por aí vai…

Definir e conhecer essas diferenças é o primeiro passo para que possamos catalisar a emergência de contratos sociais alternativos, que se baseiam na horizontalização das relações humanas, na descentralização dos instrumentos de produção e troca, e na abertura de caminhos para laços de cooperação direta entre pessoas. Conhecer profundamente esses movimentos ajudará para que eles não se tornem jargões vazios repetidos exaustivamente em palestras inconsistentes e com sobrevida insignificante.

A problematização desses conceitos nos levará mais rápido a formalização desses novos modelos, com um marco regulatório apropriado, uma organização societária diferente das que conhecemos hoje e a legitimidade junto à investidores e consumidores.

Por isso a ethos produz, de quando em vez, conteúdo para aquecer e informar essa conversa. Esta é uma das postagens do blog em que discutimos asorganizações híbridas como pontes possíveis entre lucratividade e impacto social. Leiam mais abaixo. O texto foi escrito pela Luana Santos, sócia e consultora da ethos.

“Os modelos de negócios híbridos transpõem as atividades “com e sem fins lucrativos” e “do setor público e privado” para resolver problemas sociais. Eles representam uma ponte entre as duas extremidades da dicotomia lucro-missão social, integrado-as em uma mesma estratégia.”

Organizações híbridas — construindo pontes entre lucratividade e impacto social:

Um dos grandes desafios das organizações na atualidade é o desenvolvimento de modelos inovadores de negócios, que alinhem lucratividade e impacto social. Essa necessidade de mudança é resultado do crescente número de pessoas que percebem valor diferenciado em produtos e/ou serviços ambiental e socialmente sustentáveis, da crise de legitimidade do sistema capitalista e da falta de qualidade de alguns serviços públicos.

Diante desse desafio, as empresas não podem mais ter somente o lucro como propósito. As questões sociais e ambientais precisam ser consideradas no raciocínio econômico. Os modelos de negócios tradicionais adotados até hoje pela maioria das organizações já se demonstraram superados. Como resultados, vimos a comoditização, disputa de preços, pouca inovação de verdade, crescimento lento e nenhuma vantagem competitiva real. A proposta dos autores Porter e Krammer é a criação de valor econômico e valor social, que podem seguir três caminhos: 1) mudança de concepção dos produtos e serviços, 2) redefinição da produtividade da cadeia de valor e 3) desenvolvimento de clusters setoriais. Portanto, a partir do valor compartilhado, podem-se desenvolver novos mercados e novas configurações de cadeias de valor. Desta forma, surgirão novas formas de pensar o negócio, novas oportunidades de posicionamento estratégico e de obter vantagens competitivas. Além disso, ao adicionar a dimensão social à proposta de valor, a estratégia da organização se torna mais sustentável.

Nesse contexto de exigência de transformação dos negócios, surgem os modelos híbridos, que criam valor para sociedade nas áreas em que os mercados e os governos estão falhando, por meio do desenvolvimento de negócios financeiramente sustentáveis e escaláveis. Esses modelos transpõem as atividades “com e sem fins lucrativos” e “do setor público e privado” para resolver problemas sociais. Eles representam uma ponte entre as duas extremidades da dicotomia lucro-missão social, integrado-as em uma mesma estratégia. Esta integração permite um ciclo de lucro e reinvestimento que constrói soluções efetivas para problemas sociais. As organizações híbridas são, ao mesmo tempo, resultado e protagonistas da evolução do sentido de propósito, forma e papel das organizações com e sem fins lucrativos. Elas estão experimentando formas de combinar as forças dos negócios tradicionais com as forças de inovação para se tornarem catalisadoras de mudanças sociais. Ao superar os modelos de negócio com e sem fins lucrativos, essas organizações desafiam conceitos acadêmicos e práticos. Em relação aos conceitos práticos, desafiam ideias tradicionais do papel e da finalidade da empresa, bem como o que significa ser um negócio sustentável. Aos acadêmicos, desafiam as classificações padronizadas utilizadas para categorizar organizações públicas e privadas, bem como as maneiras de compreender seus objetivos e funções. O modelo de negócio híbrido está alterando as normas e concepções do papel das organizações na sociedade, agindo como uma força de mudança dentro das instituições de negócios e retomando os fundamentos do desenvolvimento sustentável. Segundo este modelo, a prática sustentável resulta mais da busca pelo aumento dos impactos positivos do que pela redução dos impactos negativos.

Para entender melhor o conceito, assista ao vídeo publicado pela California Management Review: https://youtu.be/9poHaUkPQ-Y

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Bruna Santos
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Knowledge & Innovation Director at Comunitas, Open Gov activist & forever a student of Systems Thinking, Chinese Mandarin, Flamenco and photography