Do lado esquerdo uma das figuras mais “memeáveis” atualmente, a cantora Gretchen, do lado direito o símbolo do Site dos Menes, um avestruz.

Qual é a diferença entre Meme e Mene?

Um guia feito pros internautas que estão cansados de se confundir

Nathalia Menezes
ETNOdigital
Published in
4 min readNov 15, 2017

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Memes e menes são muito parecidos, mas representam ideias quase opostas. Compartilhado em diferentes contextos, o meme é o que todo mundo conhece. Aquele gif engraçado da celebridade num reality show, aquela imagem com fonte branca em negrito e até mesmo as mensagens motivacionais que você vê no grupo de WhatsApp da famíla.

Meme brasileiro com a vilã Nazaré, personagem de Renata Sorrah em “A Senhora do Destino”

O apelo do meme incide em sua repetição, em como ele foi feito para ser usado em situações diversas. É até comum que muita gente tenha uma pasta do computador só com fotos engraçadas, esperando o momento certo do debate para usá-las. Se formos até o longínquo ano de 2011, em que os memes começaram a se popularizar no Brasil, podemos perceber o grande sucesso de tipos como “trollface”, “forever alone” e “fuck yeah”, figuras que eram basicamente emoticons super evoluídos. Se a pessoa gostasse do meme, ela o usaria outra vez ou pelo menos acharia engraçado se o visse de novo, numa situação ligeiramente diferente.

Mene postado no Site dos Menes com a legenda: “A Nazaré de Exatas”

O mesmo não pode ser dito sobre os menes. A primeira diferença notável é que mene é um conceito 100% brasileiro (embora os gringos possam argumentar que os “dank memes” cumprem um papel parecido, não são a mesma coisa). O primeiro mene surgiu com a página “Site dos Menes”, que do Tumblr migrou para o Facebook, no qual ela alcançou 1 milhão de curtidas.

Os primeiros menes postados se baseavam num humor mais absurdo. Com o crescimento da página, porém, eles começaram a surgir como paródias de memes. Entretanto, apesar das diferenças, transformações podem acontecer. Menes que fazem muito sucesso acabam sendo muito compartilhados e vistos por pessoas que não entendem a proposta da página. Esse foi o caso do mene “Cachorro do deixa disso”, que apesar de ter nascido um mene sobre um cachorro que evita conflitos acabou virando uma imagem que várias pessoas compartilhavam para apartar brigas. Ou seja, acabou virando um meme.

Mene postado no Site dos Menes com a legenda: “O cachorro do deixa disso”

Teve origem também o Site dos Menes — O Grupo, no qual se seleciona o que vai para a página. Mas nem todo mundo pode ser um membro. É preciso responder a um pequeno questionário em que se pergunta justamente a diferença entre meme e mene, e quem avalia as respostas são os administradores.

No entanto, isso não é suficiente para que a comunidade “aprove” o que é postado no grupo. O número de curtidas que um post recebe é proporcional ao grau de hospitalidade com que o conteúdo é recebido. Mas, afinal, o que está embutido na boa acolhida de uma publicação?

No fórum Meme Economy, em que se julgam os memes a partir de uma perspectiva “econômica”, os critérios avaliativos passam por certa objetivação. O fato de o meme vir do Facebook — chamado pelo grupo de “Normiebook” — ou do Twitter, por exemplo, faz com que ele seja prontamente avaliado como ruim. Mesmo que o conteúdo não tenha surgido nessas redes sociais, nas quais se proliferaria todo tipo de normie (o usuário não pertencente à comunidade), os participantes do fórum podem identificar na postagem um conjunto de valores que é, negativamente, próprio da massa de usuários. Certamente, esse aspecto afasta o meme da comunidade não normie.

Muitas são as contradições que atravessam o julgamento de memes e menes, resguardadas as particularidades destes e daqueles. Em alguma medida, elas refletem, não temos a menor dúvida, a complexidade característica das relações intersubjetivas offline, que encontram na internet um novo terreno. Mas será esse novo terreno, que a cada dia se ara, tão complexo quanto o antigo? Será ele, e aí vamos um pouco adiante, ainda mais contraditório? O mundo offline se translada para o online? A antropologia digital nos ajuda a ir atrás das respostas.

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Texto realizado por e .

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