Com paciência ou com angústia

Etnografismos
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2 min readMay 17, 2022

De início pensava que isso tudo seria muito breve. Talvez não muito. Porém, bastaria segurar as pontas que mais ou menos tudo ia dar certo e em breve eu estaria desfrutando dos mesmos afetos de sempre, inclusive aqueles que não eram construtivos. Me vi a todo momento maquinando a esbórnia, imaginando encontros e situações, principalmente de diversão, que sempre
foi meio que um norte pra mim. No começo até que fazia bem, era como uma criança contando os dias para o Natal ou seu aniversário e projetando esse momento. Isso me ajudava a cumprir a missão: segurar as pontas.
O que de início era uma forma de me apoiar virou extremamente angustiante, a cada notícia que vinha acompanhada do prolongamento dessa solidão instituída, começava um novo ciclo de esperança e decepção. Tinha para mim que eu poderia ser menos rigoroso com minhas aspirações e me focar apenas em ficar bem, que seria demais cobrar certas posturas agora que o mundo está uma bagunça, o importante era ficar bem. Mas eu não ficava. Não ficava porque me vi esgotado desse “hiato” na vida, ainda mais me dando conta de que não existe estimativa razoável pra quando terei meus afetos costumeiros de volta, fiquei sem paciência.
O ponto de virada foi entender que não estava em uma pausa da minha vida. Amadureci frente ao isolamento quando percebo que essa é a minha vida, e preciso, pacientemente, buscar horizontes através dessa perspectiva. Senão será tudo muito angustiante. Eu posso escolher.

Lucas

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Exercício de escrita do tempo presente proposto pelos integrantes do CONATUS - laboratório de pesquisas sobre Corpos, Naturezas e Sentidos (antropologia/UFF).