Considerações sobre a Pandemia

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3 min readJun 7, 2022

Bem, penso que a pandemia de Covid-19 ficará marcada na história, pelos grandes impactos que trouxe a sociedade mundial. Impacto este, o qual ainda não se pode mensurar, uma vez que ainda está em curso, e mesmo mais controlada em certas regiões do planeta, ainda traz preocupações, limitações,
isolamento, dor e morte. Além de questionamentos sobre quando poderemos voltar a viver nossa rotina cotidiana normal, e se este “normal’ será como entendíamos o “normal”.

Particularmente, os impactos em minha vida foram grandes, uma vez que minha mãe tem algumas comorbidades, sendo o DRC (Doença Renal Crônica) a principal, o qual a obriga realizar sessões de hemodiálise de cerca de quatro horas de duração cada, pelo menos três vezes por semana numa clínica especializada. O paciente renal, segundo estudiosos, tem cinco vezes mais chances de contrair um quadro de Covid-19 grave. Logo, quando foi declarado o início das fases de isolamento, restringindo as atividades econômicas em geral, a minha preocupação em minha mãe contrair Covid-19 era muito grande. Ou, a dela vir a servir de vetor para mim! Lembro que minhas preocupações comigo mesmo também eram grandes, por ser filho único, e meus pais já terem idades um pouco mais avançada.

Estas questões impuseram uma rotina de muita de limpeza e higienização, intensificada em cada vez que minha mãe chegava de seu tratamento, e quando era necessário ir a rua para comprar alimentos, ou remédios. Por muitos meses as minhas atividades e rotina de cuidados com o ambiente domiciliar foram exaustivas! Trabalhava muito mais, mesmo sabendo que aquilo podia não impedir o contágio do vírus.

Com relação a alimentação, lembro que tentava manter a dieta parecida com a normal de antes, mas após as restrições o paladar acaba enjoando um pouco de certas coisas, além de você se permitir mais concessões no consumo de alimentos menos ou nada saudáveis, que ajudam a ganhar peso. Até porque parei as atividades de exercícios externas, a fim de manter o máximo possível de isolamento, o que por consequência nos faz ganhar peso.

Com relação a medicamentos, ou terapias não mudamos nada, ou fizemos uso de coquetéis que prometiam ser preventivos ao vírus da pandemia.

Minha mãe teve atrasos para entrar na fila de transplante renal em virtude das paralisações das atividades, foram cerca de cinco meses de atraso, mas em fevereiro deste ano ela entrou na lista. Para isso foi necessário uma bateria de exames bem grande, o que me trazia bastante tensão, porque muitas vezes era
necessário ir ao hospital, que também atendia a quadros de Covid-19.

Um momento que me trouxe muita tristeza foi logo no início da pandemia, a mãe de meu padrinho, que era como uma segunda mãe para mim, estava tratando um câncer e veio a ficar em estado grave no início do período de isolamento, e o hospital impediu visitas. Ela faleceu em março mesmo, e para prevenção minha e de meus familiares não pude velar um ente querido! Isto
trouxe bastante consternação!

Em maio deste ano tive Covid em seu tipo leve a moderado, não precisei de internação, mas por catorze dias tive muita febre, enjôo, cansaço, tosse e muita indisposição. Além do quadro psicológico, porque os sintomas se mantêm iguais por muito tempo, só senti melhoras depois do décimo quinto dia, daí você fica pensando: E se eu piorar? E se precisar de internação? E se
vir a faltar aos meus? Etc… Felizmente, nada disso ocorreu, mas tive meus pulmões comprometidos em cerca de vinte e cinco por cento.

O pós Covid me trouxe um desânimo maior, como se sentisse ao golpe de todo este período de cuidados, restrições e privações.

Agora, já estou vacinado e pude estar presente com amigos que não via desde março do ano passado, e percebi como senti falta e a presença com os nossos nos faz bem.

Não foi e não está sendo fácil, mas vai passar!

Leandro

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Exercício de escrita do tempo presente proposto pelos integrantes do CONATUS - laboratório de pesquisas sobre Corpos, Naturezas e Sentidos (antropologia/UFF).