Experiência com a Covid-19

Minha experiência com a covid-19 pode ser descrita, a princípio, pela relação de trabalho, pois sou profissional de saúde e atuo num hospital que foi retaguarda para os primeiros casos da doença em março de 2020, quando ainda não havia em minha cidade um hospital de campanha, o que se deu em
meados de julho de 2020. Hoje, continuamos como emergência para a covid-19 e dependendo do momento, estamos com os leitos mais ocupados ou mais disponíveis. Fato, é que aqui também enfrentamos oposições às primeiras mudanças e medidas preventivas, como o uso de máscara, álcool e o distanciamento. Mesmo sabendo o que vinha pela frente, foram muitos os que confrontaram as regras impostas, ainda que fossem baseadas em evidências científicas. Aqui também estamos rodeados de “ terraplanistas”! ……E com o passar do tempo foram surgindo os afastamentos dos profissionais que
eram contaminados pelo vírus.
Minhas primeiras percepções em minha vida pessoal foram as de que enquanto os meus parentes e amigos estavam isolados e ocupados com as novas rotinas , imperava “neles” um clima de medo, preocupação e incertezas com todo o contexto, e “deles” comigo também, por conta de minha profissão.
Entretanto, o meu primeiro pensamento diário era “coragem” para sair de casa e enfrentar as situações que estavam por vir, e depois …as incertezas sobre o meu estado de saúde e o quanto isso poderia contaminar meus filhos e outras pessoas do meu convívio. Óbvio que em algum momento eu teria a covid e isso aconteceu no final de junho de 2020. A doença cursou de forma branda, mas o período de convalescência foi bastante tenso, porque ela se agrava após o sétimo dia do quadro infeccioso, e isso sim definirá o desfecho da doença. As condições de hoje, pós-vacina, me colocam em situação de alerta e dentro de uma normalidade vigilante, saudosa dos entes queridos que se foram, indignada com tantas mortes desnecessárias e com o rumo da
pandemia no país, mas sobretudo, com esperança de dias melhores.

Gleyce