Afinal, o que é conteúdo?

.ricardo .laranja
Eu acredito em conteúdo
4 min readNov 3, 2016
digita digita digita

Webwriter. Redator. Especialista em conteúdo. Conteudista. Vários nomes para uma função meio esquisita dentro das agências digitais e outras empresas ~do ramo.

Fato é: hoje, quando se contrata um “especialista em conteúdo”, contrata-se um profissional que é fera em texto: tem um português afiado, sabe adaptar seu conhecimento linguístico às necessidades do cliente, entende pacas de social media, escreve com tanta naturalidade quanto respira. Eventualmente, esse cara sabe até dialogar com o pessoal do design pra criar umas peças bonitonas, selecionar a melhor imagem para um post ou campanha e, se precisar, ainda dá uma pinta no Photoshop e encaixa a foto que pegou do banco de imagem no template pronto.

Hmm, e aí? Tá errado? Não, não tá. Tem nada errado nisso tudo aí. Mas poderia estar melhor? Claro que poderia.

Pelas minhas andanças pelo mercado, pelos bate papos com outros amigos dos web jobs e pela observação das vagas divulgadas por aí, boa parte das empresas “digitais” e/ou “especializadas em conteúdo” estão presas em um modelo chatíssimo de produção. Neste modelo, duas coisas me incomodam bastante:

1 — Criar conteúdo, no nosso mercado hoje, significa escrever um post para o blog do cliente por dia, fazer um post pro Facebook e uns três no Twitter (se, e somente se, o contrato prever, uma foto no Instagram também rola).
2 — Essa aparentemente eterna briga de comadres entre online e offline.

Em primeiro lugar, por mais que a gente afirme e reafirme (mais como autoafirmação do que como prática de mercado de fato), online e offline não estão caminhando de mãos dadas. Ainda não. E o trabalho que a gente faz não tá ajudando. A gente tá cada dia mais separatista, extremista. Chega o pessoal do offline apresentar uma ideia e a galera descolada de digital já torce o nariz. Se a ideia surge no núcleo digital então, sem chance — os offs vão custar pra aceitar. Se é que vão. Não percebo uma vontade REAL de integração do trabalho. A tal “comunicação integrada” ainda me parece uma balela na maioria dos casos. Tá cada um fazendo o seu corre e “problema seu” se a sua campanha não se adapta ao meu formato.

Refletindo sobre essa linha nada tênue que separa uma coisa da outra, fiquei pensando sobre o que é conteúdo e quem é essa pessoa que faz conteúdo (no caso, eu). O “cara do conteúdo” deveria ser um outro tipo de cara. O “cara do conteúdo” não devia ficar adaptando texto de campanha pra postar no Facebook, ou se remoendo pra achar uma pauta que seja ao mesmo tempo interessante para o público (de verdade) e interessante pro SEO. O “cara do conteúdo” não deveria ser só um cara que escreve bem (apesar de que todo mundo deveria escrever bem, mas prossigamos).

A visão deturpada de que conteúdo é só o texto do blog e os posts de social media está acabando com a fé no conteúdo. Conteúdo é muito mais do que isso. Conteúdo é tudo. O blog, as redes sociais, os vídeos do Youtube. E também os adesivos, as placas de sinalização de trânsito, as mensagens de aviso de perigo ao entrar no avião e até, veja você, aquelas faixas de pano penduradas pela rua. Isso tudo é conteúdo. E muito mais.

Enquanto no modelo offline temos o redator publicitário, o cara especializado em criar os textos geniais das campanhas, no digital temos o Conteudista, que entende de tudo, tá ligadinho em tudo o que tá rolando no mundo e, ainda assim, é diminuído à função quase que de blogueiro da agência. O redator tem um diálogo muito maior com o design, com a criação da campanha. O “webwriter” fica lá no cantinho dele com o Word aberto digitando desesperadamente tentando dar sentido ao seu dia (nem sempre consegue, coitado).

Precisamos quebrar a barreira do conteúdo digital e offline, e colocar tudo no mesmo pote: junta o redator publicitário, o webwriter e os designers e bota pra criar. Pode ser que no meio dessa conversa eles decidam que, para este cliente específico, o melhor é um post no blog mesmo. Mas pode ser que eles queiram fazer, sei lá, um envelopamento na Torre Eifel ou uma Galinha Pintadinha gigante sobrevoando uma estrada. É, ainda assim, conteúdo. E é conteúdo lindo. Real, palpável, muito maior do que uns pixels na tela no formato de letra.

Eu tô bem a fim de discutir o que é conteúdo e pra onde ele vai — e pra onde nós e o resto do mercado vai junto.

Vem comigo?

Publicado originalmente em janeiro/2015

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