Chuva

Por que ela faz tudo parecer melhor?

Deve estar fazendo cerca de vinte e oito graus lá fora. Dentro do meu quarto eu arrisco dizer que esteja fazendo uns trinta e dois. É nesse inferno escaldante (redundância?) que estou inserido no momento.

Parece mais difícil fazer as coisas quando está tanto calor assim. Tudo parece exigir um esforço maior do que o normal para ser executado. A vontade parece decair a medida que a temperatura aumenta. Tudo fica pedante e a única coisa que parece viável a fazer é derreter-se em uma poça de preguiça e desconforto.

Não sou fã de dias frios. Prefiro que faça calor. E acima de tudo prefiro que chova. Que chova mas não faça frio. Que chova mas que não levante-se da rua aquele mormaço. Que chova e pronto. Sem muita frescura, apesar de parecer que uma série de eventos tenha que se suceder para que eu me sinta confortável, mas isso é bobagem.

Eu gosto do clima que um dia chuvoso tem. A cara do dia, a maneira como percebemos as coisas ao nosso redor muda, transfigura-se, tudo parece adquirir uma leve capa de melancolia, uma leve tristeza azul que, por mais estranho que pareça, deixa o ambiente mais alegre. Ou no mínimo mais agradável de se estar.

É gostoso olhar pela janela e ficar imaginando o tanto de coisa que você poderia estar fazendo se não estivesse chovendo. Poderia ir ao banco, passear com o cachorro, devolver ao amigo aquela HQ que pegou emprestada a mais de ano. Claro que se não estivesse chovendo você não faria nada disso. A chuva é a desculpa derradeira que você precisava para ficar em casa de molho, sem levantar uma pena pra nada. Você fica tranquilo por pensar que está se esforçando para cumprir com suas obrigações e só não as está cumprindo por causa de um empecilho gigantesco que é um dia de chuva. Você quer, mas não há como. Fazer o quê? Sente-se, relaxe, abra um livro, continue sendo hipócrita; está funcionando e você se sente bem com isto.

Por mim poderia chover todos os dias. Eu que não iria me importar.