MINHOCAS FORA DA TERRA
“Minhocas fora da terra” é o conto dois, do mês de fevereiro de 2019.
Escrito por Gean Paulo Naue para o projeto “EU CONTO: um conto por mês durante um ano”. Esta publicação foi elaborada pelo autor, valendo a ele todos os direitos autorais. O texto foi revisado por Leonardo Brockmann, criador da editora Casa das Letras
Venâncio Aires / Rio Grande do Sul — Brasil
Seria uma afronta à terra não cavoucar e cultivar ali. A presença do arroio de correnteza mansa tornava o lugar semelhante ao paraíso em que Eva viveu, antes do humano escolher ser o que é.
No pé da Serra Gaúcha, enormes árvores, certeza de boas moradas aos pássaros, vergavam conforme o capitão dos ares soprava, sem nunca quebrar. Nem o ramo mais fino e distante do tronco se rendia.
Assim que os primeiros chegaram, já ouvia-se a invasão de longe, expulsaram a tribo indígena que ali vivia. Fizeram de suas ocas fogueiras para iluminar as noites, deixando as corujas cegas e famintas. Enquanto queimavam, diminuía o matagal, preparando o terreno para os futuros lotes. Depois as hortas, ridiculamente organizadas, tiravam do lugar a naturalidade dos ingás.
A notícia do “Jardim do Éden” se espalhava, moradores assentavam-se a cada nova semana. Aqueles que vinham costeando a margem do arroio percebiam que eram muitas as voltas, o curso aquático serpenteava como um “S” que emendava-se em outro semelhante e outro.
Batizaram as águas de “Minhoca”, por não saberem onde está o começo, tampouco o fim; em qual extremidade estava a cabeça e em qual encontrava-se rabo. Arroio Minhoca, por não ter pernas nem patas, por ser pardo, por viver entre a terra e por se contorcer pra lá e pra cá no chão.
Quando já contavam doze casas na gênese da vila, os índios voltaram reivindicando suas terras. Juntaram suas forças, armaram-se e fizeram o regresso à la manière dos imigrantes.
Com a última das ocas queimando e servindo aos novos moradores de lampião, a tribo deu origem ao conhecido ditado popular no qual se diz que o feitiço vira contra o feiticeiro. Usaram do próprio fogo, sagrado e temido, para incendiar as moradas feitas das árvores.
Com a queimada indígena, não sobrou uma parede. A madeira nativa tem fascínio por fogo. Quando encontram-se, fica difícil acertar quem consome quem.
Assustados, os moradores, sobreviventes, foram se instalar em outro canto. Sem coragem de deixar aquele lugar próspero, os moradores deslocaram-se para apenas alguns quilômetros dali, e continuaram a usufruir do Arroio Minhoca, das árvores que vergam mas não quebram e da terra fértil.
Com os índios fizeram um acordo de paz, tendo entendido que quem queima a morada alheia é queimado da mesma forma. Do lado de lá fica sendo a vila das ocas, e do lado de cá do arroio, a vila das casas. Oca também é casa, porém assim foi tratado e acertado. Ocas lá, casas cá. As águas marcavam com perfeição os limites dos povos de ímãs ao avesso. Mais uma maravilha geográfica do local. Não era preciso cercas de arame para delimitar território.
Sim, os índios já tinham perdido tudo. Se o acordo, injusto, tivesse sido pensado de antemão, instalar-se-iam do outro lado do rio e deixariam a tribo onde estava. Como se tratava de um povo sem eira nem beira, os índios, que correm pelados por entre o capim a darem gritos como animais selvagens, nem se preocuparam em perguntar alguma coisa. Chegaram ali e ocuparam. Foi surpresa, inclusive, quando ao firmarem a divisão de terras, entenderam o que os moradores nativos diziam, achavam que nem isso saberiam fazer.
E assim cresceu a vila de um dos lados, do lado de cá. Do lado de lá, os índios construíram uma e outra oca, mas já não parecia ser a mesma coisa. Volta e meia alguém da tribo, sofrendo de saudades, atravessava o Minhoca com uma habilidade que só quem conhece água e entende de correntezas consegue fazer, para visitar a antiga terra.
Foi numa dessas andanças, ditas clandestinas, que um morador da vila, caçando porco-do-mato perto da margem, avistou uma índia e a matou de imediato. Parecia ser o começo de uma nova guerra entre as comunidades, mas do lado de lá só houve pranto e dor. Nenhum ataque. Do lado de cá, acharam sensata a escolha da tribo em não revidar.
Com medo de ser morto, de ter o mesmo destino da índia, o atirador arrependido enterrou o corpo de pele parda deste lado, junto ao antigo cemitério que a eles pertencia. E quando, um tempo depois, uma moradora da vila morreu de desgosto e velhice, enterraram seu corpo, branco, nas proximidades.
Assim foram morrendo uns e outros, como naturalmente acontece, e iam sendo enterrados por ali, por ordem do padre. Não junto aos índios, mas um tanto adiante. Quando se deram conta, um cemitério ia se erguendo do lado de cá. Construíram muros e túmulos. Trouxeram flores e velas.
Perto do Arroio Minhoca, ninguém mais queria morar. Era o local mais próximo da aldeia do outro lado, mas nem por isso deixava de ser uma área nobre. A ideia de um cemitério ali foi bem recebida. Em algum lugar deveriam ficar os que não respiram, que não caminham, que pensar já não conseguem, que não movimentam sequer os cílios. Os mortos não iriam se incomodar, como se incomodariam os vivos, de morar perto do Minhoca.
A vila cresceu ainda mais, e o cemitério junto. Era a bactéria viva a se multiplicar. De um lado, o de cá, as coisas aconteciam. Lavouras de erva-mate, campos de gado e cercados de porcos. Do lado de lá, o que crescia eram as árvores perto da encosta do arroio e o mato.
Os índios haviam abandonado, depois de tanta renunciação, o lado de lá. Se mudaram para longe do Minhoca. Para onde ninguém sabe, ninguém viu, nem se preocuparam. Talvez migraram para uma terra em que pudessem olhar para além da margem do arroio e não ver a bagunça dos imigrantes.
Com os boatos da falta de ameaça dos índios, as casas foram se multiplicando. A terra realmente abundante, as árvores fortes e a vida do arroio chamaram a atenção da família Fagundes, e mudaram-se todos para lá.
E se os Fagundes, uma das linhagens mais poderosas da região, escolheram mudar-se para a vila do Arroio Minhoca, mudaram-se, também, um padeiro, um alfaiate, um médico e até rameiras. Todos juntaram-se aos agricultores, moradores e ao padre que já habitavam naquele torrão.
Conto dessa origem não porque quero, mas dizem que tem relação aos próximos acontecimentos. De garantido não há nada, porque a certeza é palpável. Mas nem por isso todos conseguem a segurar com facilidade. Então, o que aconteceu de concreto pouco tem, pois tudo começou com a chuva. Chuva que se sente, que se vê, que se escuta, mas que é difícil de pegar, escorre entre os dedos e mesmo quando se bebe, os pingos precisam ser generosos a ponto de superar a própria saliva para então formar um gole.
E choveu sem parar o dia todo, e de noite nem um pingo sequer.
A tempestade chegava ao amanhecer. Não tinha cinza, nem escuridão total. O céu permanecia azul, o Sol a pino e a chuva caía sem que as nuvens se fizessem presentes e pudessem ser responsabilizadas.
“Sol e chuva, casamento de viúva”, mas na vila nenhuma das viúvas estava a se casar novamente, até porque o padre jamais aceitaria tal comunhão. Arco-íris ausente. Não se tratava de uma penugem de água mansa, os pingos eram violentos e iam fazendo barulhos por todos os lados, gerando poças nos maiores e até nos menores buracos.
A fonte era tão no alto que dava tempo do Sol esquentar a água, dando origem a uma tempestade quente. Todos os moradores, não havia um que não, olhavam para o céu em busca das malditas nuvens que deveriam estar por lá, mas nada. Em seu lugar, o Sol. Chegando perto das sete da noite, a chuva ia se acalmando, e no instante em que a Lua tomava o céu, as gotas paravam de vez.
A partir do terceiro dia da estranha tormenta, os moradores entenderam a tempestade e passaram a ficar em casa durante o período claro, e foram socializar assim que escurecia. Levavam consigo velas, tochas, candeeiros e lampiões, trocando o dia molhado pela noite seca.
Nas ruas de chão batido, nas mais largas e nas mais estreitas, quando duas ou mais pessoas se encontravam para ter uma breve conversa noturna, o assunto não era outro: chuva. A questão só foi mudar de foco quando o zelador do cemitério espalhou a notícia de que o Arroio Minhoca estava a transbordar, e com um pouco mais suas águas iriam bater no muro atrás do campo-santo.
O fato chegou aos ouvidos do seu Fagundes, que já era quase um prefeito da vila, tamanho suas posses. Ele foi às cinco da manhã, com o início da chuva, junto aos seus empregados até o cemitério, a fim de avaliar a situação do Minhoca, que de minhoca já não tinha mais nada. Seu aspecto mudara para o de uma jiboia gorda que recém se alimentara de um ratão-do-banhado.
Com estranheza, logo após um grande espanto, constataram que o arroio transbordava somente de um lado da margem, do lado de cá. Do lado de lá, continuava dentro dos limites de sempre.
Fagundes mandou espalhar a notícia e convocou um chamamento ao povo. De guarda-chuvas, boa parte da cidade se concentrou na única praça para ouvir o que o homem tinha a dizer sobre a chuvarada. Mas, a tormenta estava tão grande que mal se ouvia. Dessa forma, migraram todos para a capela.
De início o padre não quis abrir a porta ao Fagundes, alegando que igreja não é lugar de linguagens políticas, e acrescentou que o santuário fora construído para um único propósito: o de louvar a Deus, e não sendo o Fagundes a própria entidade, primeira na Santíssima Trindade, não lhe era permitido usar do sagrado altar para falar com o povo.
Pouco importando-se com a opinião do padre, o homem mais poderoso da vila se meteu porta adentro.
O padre, sentindo-se profundamente ofendido, tentou detê-lo quando já estava a passos firmes no corredor, rumo ao altar-mor, mas liberou o acesso a quem quisesse quando Fagundes gritou: “É pra salvar o seus mortos no cemitério que preciso falar, seu padre de merda”.
Não demorou nada para a capela lotar. Isso deixou o vigário ainda mais endemoniado, pois em dias de missa poucos apareciam. “Talvez seja esse”, pensou ele, “o motivo de tanta água cair do céu”. Não seria essa a primeira vez que Deus usara da chuva para dar uma lição.
Quando não havia mais assentos, o pessoal ficou de pé onde conseguia. Por ter um teto alto, de dentro da capela a chuva parecia não ser tanta, e Fagundes pôs-se a falar. Não era em nada um discurso, mas sim uma decisão:
“Longe dos bons dias que aqui galgamos, estamos transpassando por um desequilíbrio. Por sorte, os primeiros e antigos habitantes da cidade construíram nosso faxinal um tanto longe do Arroio Minhoca, que na tarde de ontem, começou a transbordar. Todavia, será preciso que chova, como vem chovendo, cerca de oito dias mais para que a água chegue, aqui, no centro. Eu acho isso impossível de acontecer, e vamos nos preocupar com este cenário mais adiante. Por enquanto, há uma questão iminente a ser tratada! Como sabem, o cemitério não fica longe da margem do arroio. Hoje mesmo, por volta do meio-dia, os primeiro túmulos serão tapados pela água. Sendo assim, eu, como homem que zela pelo bem de todos, já liberei uma das minhas áreas longe do arroio para um novo cemitério. Quem quiser pegar seus mortos e levá-los para tal lugar tem a minha permissão”. E foi embora em meio à discussão do povo. Nem se ouvia mais a chuva estatelar no telhado de tão grande o falatório dentro da capela.
Com a saída do Fagundes e de seus outros homens, o padre subiu ao altar. Dando gritos de silêncio, o velho tomou-se de um vermelhão que parecia estar possuído por aquele que tanto teme.
Quando calaram-se, o sacerdote confrontou: “Todos os entes queridos que se foram já estão salvos no Reino de Deus. Não há motivos e nem lógica cabível para desenterrar os restos mortais de nossos parentes crendo na redenção. Deixem que lá descansem, não profanaremos seus túmulos com a promessa de que assim fazendo iremos salvar suas almas”.
A partir daí, a população se dividiu. Alguns confiaram nas palavras do Fagundes, outros nas palavras do padre. E antes das dez da manhã, em meio à chuva atípica, moradores foram ao cemitério salvar as ossadas do afogamento. Os contrários à retirada ficaram nas janelas de suas casas, observando o trâmite. Caixão de lá pra cá nas carroças a todo momento, isso quando não eram só sacos de batatas.
No cemitério, saía-se bem qualquer um que sabia lidar com a terra. Desmontaram os túmulos e cavaram até encontrar o tesouro. Cordas içaram os caixões e traziam à luz os segredos da putrefação.
Com a ininterrupta chuva, pouco se percebia se havia choro ou não. Mas a tarefa tinha que ser realizada o mais depressa possível, o Minhoca crescia desenfreadamente, não querendo saber se no seu avanço havia morto ou vivo.
Como na previsão do Fagundes, ao meio-dia a água marrom tapou os túmulos mais próximos ao muro do cemitério. Quem havia retirado seus parentes, ou seja lá no que eles se transformaram, não sofreram a angústia de ver a última morada ser encoberta pela água.
Mortos sendo afogados.
Até o suor brotava dos trabalhadores que abriam e remexiam as covas. Por terem que cavoucar rápido contra o levante do arroio, alguns tiraram suas vestes, que atrapalhavam no processo de desenterrar, e com roupas íntimas, nenhuma ou poucos trapos, continuaram o processo. Quem via de longe não acreditava. Gente viva, pelada, em busca de gente morta, desmontada.
A terra embebida não ajudava ninguém, nem os vivos a retirar os mortos do buraco, nem aos mortos que tinham seus caixões demolidos pelos vivos.
No novo cemitério, alguns funcionários do Fagundes recebiam o que vinha. Identificavam como podiam e reservavam para o cadáver um lugar digno, garantindo que cada nome deveria pertencer a cada parte que aparecia.
No começo da noite, quando a chuva ia se acalmando outra vez, constataram que quem não tirou o seu morto do cemitério não o tiraria mais. A água do Arroio Minhoca havia ultrapassado o portão de entrada e aos poucos ia invadindo a estrada.
Já com a Lua cheia no céu, os moradores foram, secos, até onde podiam do ponto mais próximo ao cemitério submerso. Uma e outra cruz tinham suas pontas para fora da água, um e outro Jesus Cristo ali pregado com a cabeça na superfície, já aceitando a morte por afogamento. E diziam que ele andava sobre as águas.
Logo depois, o padre e o Fagundes encontraram-se brevemente no novo cemitério. O poderoso prometeu ao sacerdote que iria erguer ali o maior símbolo cristão da vila, com direito a igreja, porque assim era o correto.
Como o padre se deixa vender por uma extravagância religiosa, o Fagundes foi absolvido das afrontas contra a sua pessoa, desde que fosse cumprida a promessa de uma igreja ali, um templo com duas torres.
Chovia novamente no dia seguinte, crescia ainda mais o arroio para fora do seu eixo, e quando todos se preparavam para sair das casas à noite, a chuva continuou.
O pânico tomou conta dos moradores: “Agora, além de chover de dia, resolveu chover à noite também”. O céu enluarado e estrelado com chuva a cair. Tão estranho quanto a tempestade diária em meio ao Sol.
O morador número um da vila, velho sem dentes e sem cabelos, acordou Fagundes em meio à primeira tempestade noturna e profanou: “Isso é obra dos índios, senhor! É uma maldição contra alguém do nosso povo por ter tido a ideia de tomarmos esta terra. Esse será um solo amaldiçoado até a eternidade. Nada irá pra frente, as cidades que aqui existirem carregarão sempre, consigo, essa danação”.
Quando amanheceu, os pingos haviam parado. Alguns estavam felizes por terem os dias normais de volta; outros, apreensivos com a teoria de que a lógica se invertera e que a partir de então choveria estranhamente no período da noite e durante o dia, o Sol, seco. Se assim fosse, o arroio continuaria a subir de qualquer jeito até toda vila ser embargada. Seria preciso desenterrar uma vez mais os mortos. Teriam que desencravar as casas do chão e transportá-las para longe.
Fagundes teve uma ideia, em frente ao morador número um e ao padre puxa-saco, para que a tormenta parasse. Se fosse maldição mesmo, precisariam agradar os índios, mostrar a todos que o povo de pele parda era importante e reconhecido. O padre, como sempre na contramão, afirmou em nome do Todo-Poderoso que não existia maldição indígena alguma.
Condenado por Fagundes por não ter pedido a Deus que parasse com as chuvas, o padre foi ignorado. Iriam homenagear os índios da maior forma possível e assim rebatizaram o “Arroio Minhoca” de “Arroio Castelhano”.
Fagundes soltou alguns subordinados pelos cantos para que o novo nome corresse por aí, pelos ventos e terras, até chegar aos ouvidos dos índios. Mas, o morador número um acabou com sua alegria, dizendo que tal ato não resolveria nada: “Como você acha que eu ainda estou vivo? Já enterrei vários amigos e vizinhos meus no cemitério submerso e a minha vez nunca chega”.
O morador contou a Fagundes o seu maior segredo. Ele enamorou-se em sua juventude, às escondidas pelos matos, por uma das índias, já morta a tiros, antes da tribo incendiar as casas e acabar com a primeira vila perto do arroio. Quando se dividiram, índios lá, imigrantes cá, sua amada revoltou-se contra todos os moradores e em especial, ele. Lançou-lhe uma maldição, desacelerou sua velhice, o que permitiria ver os estragos da sua gente ao longo dos anos.
O padre, ao lado, riu da blasfêmia. Só ficou sério quando o morador número um voltou a falar: “Não sei do que tanto ri, padre. Foi justamente o senhor quem me carregou no colo quando ainda menino e quem batizou meus filhos todos, que já morreram de velhice. Até o seu cemitério já morreu, afogado, e o senhor continua”.
Quando faltava pouco para o anoitecer, todos juntos aguardaram ansiosamente a chegada da escuridão. Cabeças levantadas, rostos olhando para o céu, morrendo de medo de terem suas testas molhados por gotas d’água noturna.
Enquanto isso, no cemitério perto ao Arroio Castelhano, acontecia, a espreita, o primeiro enterro feito debaixo da água. Os subordinados do Fagundes, que monitorava de longe a cerimônia, tiraram suas roupas todas e entraram nas águas do cemitério até onde foi possível para não se afogarem e lá jogaram o caixão. O viram afundar sem pressa. De dentro dele ainda se escutava uma oração.
Por detrás do conto
Parece uma loucura, mas essa história está na minha família anos e anos. Sempre a ouvi picotada das gerações que me antecederam, ninguém sabia contá-la ao certo. Resolvi, então, correr atrás do máximo de informações para conseguir contá-la. Perguntei para minha mãe, que perguntou para minha vó e chegamos a um tio-avô, cuja trisavó era índia. Foi ele, com seus 87 anos, que conseguiu montar uma linha do tempo na minha cabeça, sem a qual este texto não se sustentaria. Quando fui escrever, de fato, percebi que alguns elementos ainda faltavam, mas eles nunca mais seriam encontrados, não há documentos, nem pessoas vivas, conhecidas, que pudessem tapar os buracos, me restou imaginar.
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