A quarentena e a folclorista

Raisa Jakubiak
Eu folclorista
Published in
3 min readAug 19, 2020

Já é agosto e por onde andamos nós, os folcloristas?

Acordei ao som do despertador. Peguei meu celular para desligar o bendito e vi: Sábado, 1 de agosto. Agosto!

Parte do que isso significa para mim com certeza é o mesmo para que outros folcloristas aqui do Paraná: o Festival Folclórico e de Etnias do Paraná da Aintepar já teria passado. As férias já teriam passado. Estaríamos voltando a ensaiar.

Por isso, é um pouco surreal pensar que já estamos em agosto e “nada aconteceu”. Não se pode dizer que nada também, porque alguns grupos (não só aqui do Paraná, do Brasil todo) vêm realizando ensaios virtuais para pelo menos manter o clima de união. Outros também vêm realizando ações culturais — no Grupo Folclórico Polonês do Paraná Wisła, onde eu danço, além do ensaio virtual, quase todo sábado é dia de live de culinária polonesa. Começou como uma pequena confraternização e agora tem gente do Brasil todo acompanhando (se você tem interesse, acompanhe o nosso Facebook para ser avisado das próximas).

Estávamos cansados após um ano com muitas apresentações e uma turnê pela Polônia. Mal sabíamos que seria melhor se 2019 não tivesse acabado! (Foto: apresentação em Bydgoszcz, por Anna Kopeć)

Mas, mesmo assim, não é a mesma coisa que estar lá dançando. Os amigos, o cansaço, os palcos, os trajes…é, parece um clichê e romantizado, porque às vezes cansa. Às vezes dá muita preguiça de ensaiar, é claro. Ainda mais quem ensaia no fim de semana e acaba perdendo eventos familiares, festas com os amigos. Mas não é por isso que deixa de fazer parte de nós: prefiro ir ensaiar com preguiça do que simplesmente não ter opção porque não existe ensaio.

Estávamos cansados após um ano com muitas apresentações e uma turnês pela Polônia. Mal sabíamos que seria melhor se 2019 não tivesse acabado!

Engraçado que, no fim de 2019, estávamos desesperados para que as férias chegassem, pois tivemos muitas apresentações no ano, mas muitas mesmo! Estávamos cansados de verdade. Quem diria que 2019 seria um ano tão diferente de 2020?

Eu achei que ia dançar loucamente em 2020, mas acabei assim.

No começo da quarentena, brincamos que a Jaselka, auto do Natal Polonês que acontece todos os anos no Bosque do Papa no começo de dezembro, seria a próxima apresentação do ano. A ironia é que talvez nem isso aconteça. Eu também achava que seria um dos meus melhores anos como dançarina, porque estava com mil planos engatilhados para melhorar minha técnica e meu condicionamento físico. Eu já não sou muito boa, então sempre procuro várias formas de melhorar. Mas agora? Agora me sinto uma lesma me arrastando.

Mas é algo com que temos que nos acostumar por enquanto, talvez testando novos jeitos de “ser folclorista”. É uma fase dura, mas vai passar. E espero que todos saiamos ilesos dessa.

O Festival Folclórico, tradicionalmente realizado em julho no Teatro Guaíra, será totalmente online entre 15 e 30/08

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