ilustração do livro de Jarid Arraes e Aline Valek

O cordel de Dandara, a heroína esquecida

Símbolo da resistência à escravidão, Dandara de Palmares é homenageada em cordel e livro ilustrado

Amanda Mazzei
Eu Lírica
Published in
3 min readOct 1, 2016

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Você há de concordar que literatura de cordel é realmente um encanto. É a alma da cultura nordestina, que faz crítica às situações de opressão e abandono com humor ácido. Dando vida a esse importante gênero literário que não entra nos best-sellers, com uma ilustre personagem que não entra nos livros de História, Jarid Arraes faz mais do que um bom trabalho.

Os simpáticos cancioneiros nordestinos vão desde histórias do cangaço até política, humor e aventuras eróticas. São abordados também temas éticos e sociais, biografias, pelejas, romances e religiosidade.

Nascida em Juazeiro do Norte, Ceará, Jarid resolveu usar seus cordéis para discutir questões de gênero, xenofobia , e principalmente, visibilidade negra.

Há não muito tempo atrás, Dandara dos Palmares lutava pelo fim da escravidão e por uma melhor condição de vida para os negros escravos e quilombolas, mantendo sua resistência em Palmares. Liderava com Zumbi.

Dandara participava das atividades de colheita, caça, manutenção doméstica, dominava a capoeira, pegava em armas e ficava à frente nos batalhões de negras que defendiam aquela enorme comunidade na Serra da Barriga. Lutou ao lado de homens e mulheres por diversas vezes.

Apesar de ter sido uma figura tão importante quanto Zumbi, o único retratado nos livros de História é seu companheiro. As informações sobre Dandara são tão escassas que não se sabe onde ela nasceu (provavelmente no Brasil, apenas levando em consideração relatos). O que isso significa?

Em todas as escolas ouvimos sobre a brilhante e heroica vida de Zumbi. Mas e Dandara, você sabe quem foi?

Os fatos registrados pela História são uma boa maneira de analisar a humanidade do presente através do passado. Mas talvez, aqueles fatos que não foram incluídos na grande linha do tempo sejam ainda mais reveladores. Se por ventura o registro de Dandara e de tantas outras mulheres importantes não foi considerado necessário, podemos e devemos todos nos perguntar o porquê.

Agora falemos de coisas boas! Voltando para nossos tempos atuais, temos também mulheres incríveis dispostas a nos deixar verdadeiros presentes em forma de literatura, arte, música… Francamente, até mesmo abrir nossos olhos fazendo o necessário “trabalho de formiguinha” já é uma grande dádiva. Além do cordel sobre Dandara, Jarid ainda lançou um livro sobre a guerreira, As Lendas de Dandara, com ilustrações de Aline Valek.

Deem uma olhada na página do livro. Está lindo, de verdade. Tem versão física e virtual!

Só que Jarid não parou com Dandara. Lançou mais cordéis biográficos (Antonieta de Barros, Aqualtune, Luisa Mahin, Tereza de Benguela, e Zeferina são algumas das personalidades) e cordéis infantis/adultos sobre questões raciais, de gênero e representatividade. Também lançou cordel LGBT e cordel que trata de xenofobia.

Continuando a chuva de amor: Algumas escolas brasileiras já organizaram atividades com os cordéis de Jarid, incentivando desde cedo a problematização de temas importantes e o conhecimento de histórias esquecidas. Se você é educador ou educadora e gostaria de participar da construção da empatia e solidariedade em seus alunos, futuros cidadãos, neste link tem maiores informações. Ou, se quiser encomendar seu próprio cordel, contando a sua história, siga aquele link também.

Ainda vou ter meu varalzinho, podem acreditar. Tem coisa melhor para embelezar, divertir e esclarecer?

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