Sobre a dor de irmão.
Ao invés do doce boa noite de sempre, fui recebida com lágrimas doloridas. Pela primeira vez em quase 2 anos, ela decidiu não repreender a mágoa e chorou a responsabilidade que lhe foi atribuída assim que os irmãos chegaram à família.
A primeira imposição cruel da vida. Dessas, que descem arranhando a garganta e queimando o coração. De uma hora pra outra ela não era mais o centro das atenções. Ela teve de crescer e assumir o papel de irmã mais velha. Teve de lidar com pessoas que passaram a ignora-la nas conversas fúteis de elevador para observar as gracinhas dos irmãos mais novos. E você? Ajuda sua mãe? – é a pergunta mais recorrente. E a resposta, dada sempre de cabeça baixa, com as palavras entre os lábios como se quisessem se esconder da obrigação: ajudo.
Mas são dois, vocês vão dizer. Ela precisa entender. Precisa, realmente. Mas não sem antes sofrer o luto da perda do espaço único, da atenção exclusiva, do amor não compartilhado.
E hoje, de braços abertos, recebi seu choro. De coração em frangalhos, acolhi seu luto. E com um sorriso no rosto prometi que dias melhores virão.