ai de mim

Allie Terassi
eu, poesia
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2 min readJan 16, 2021

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(Leia esse texto enquanto ouve a música “Ai de mim" de OutroEu. Comece assim que o verso começar também. Com calma, tá?)

estou pegando uma estrada que não sei direito de onde vem e nem para onde vai, não confio nos meus passos. eles me compraram uma liberdade que dói demais. esse vai-e-vem da dança que tu me ensinou não vou saber fazer sem ti. aquele abraço paterno com o choro engasgado disse mais que esse texto que tento te escrever. vocês não estão nesse trem. e lembro de você me dizendo que iria ficar tudo bem. que eu teria que (trans)cender.

“vai ficar tudo bem, você vai conseguir", te ouvi dizer. vou mesmo? mas que graça tem chegar lá sem ver o seu sorriso? realmente sou preso à liberdade, e ai de mim. o arco-íris que você colocou em meus ombros não tem as mesmas cores sem te pertencer. sou meu próprio lar, mas não tem a mesma graça sem ter vocês pra me bagunçar e pedir esfirras faltando 40 minutos para o metrô fechar.

o amarelo, azul e branco não vão ser a mesma coisa sem te ver coreografar. queria ver o nascer do sol que não nasceu na Paulista de novo. queria chorar contigo e borrar a maquiagem mais uma vez. queria ter te dado o abraço que você me deu, mas eu não consegui. não consigo nem me abraçar. dói demais estar numa estrada que me prende ao mesmo tempo que liberta, e ai de mim.

é foda ser quem a gente é, né? mas é foda demais ser junto contigo. você se voluntariou para esses jogos vorazes e não me deixou morrer no final. se nós queimarmos, vai ser enquanto a gente dança mais uma coreografia espontânea, e vão queimar conosco.

ainda vou ver teu sorriso de perto mais vezes. e pode ter certeza que a graça que se manifestou salvadora a todas as pessoas vai me guardar até o fim. não vou me esquecer, de nada. talvez só de comprar filtro de café. mas prometo lembrar de vocês. o meu sorriso grande pode ser que suma algumas vezes, mas vou ter um guardado para o nosso próximo abraço. ser livre assim, ai de mim. ai de nós.

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Allie Terassi
eu, poesia

sou uma falha epistemológica tentando produzir poesia e teologia. e a melhor delas está no outro.