saturno
nasci no vácuo
num eterno vazio eu surgi
cresci
minh’alma inexistente expeliu vida
pois fui forjado na eternidade
por mãos manchadas pelo próprio sangue
pregadas pela ira amarga
em defesa da verdade
ouvi um barulho
de pés descansando por sobre o nada
o engenheiro de minha órbita desceu até mim
e pôs em si o que era pra ser meu fim
e então sangrou
e chorou
as lágrimas diluviaram por sobre minha atmosfera
e dancei na chuva
tornei-me minha própria tempestade
e vi que de mim mesmo fiz alarde
sangrou e me pediu em casamento
encheu-me de anéis nos dedos
tornou-me grande
mesmo sendo eu pequeno
sou saturno, amor meu
e o tempo que tenho
eternizo-lhe em ti
por tu és quem faz de mim belo
o vácuo em que minh’alma clama
preencheu-se
e o aroma subiu a ti
tu és o elo
tu desceste e sangrou
subiste e cantou
convidou-me pra valsar
e meus medos afugentaram-se em tua canção
aliviados
fizeste meu coração se harmonizar
colocaste em mim os anéis seus
e então sou teu, Deus meu