toc toc

Allie Terassi
eu, poesia
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2 min readOct 10, 2019

entao o amor veio e me encontrou
caído e lavado pelo meu próprio eu
educado, ajeitou o cabelo, e tentou:
"toc, toc" - posso entrar?
eu, ameaçado, não queria
achei que fosse me matar
cada toc-toc em que à porta batia
foi como um tiro que atingia-me
só queria o expulsar
era a minha casa, o meu lugar
então gritei, mas amedrontado,
gritei uma canção diferente da que eu planejara
agora quem falava era minha própria alma

claro, eu disse, só não repare nessa bagunça
e nessas lágrimas que deixei cair
só não repare no ar
é de sufocar

ah, essas são umas canções que tomei para mim
por um tempo, foram a minha emoção
mas não repare nelas,
esqueço sempre de abafar o som

isso, sinta-se em casa
mas cuidado com as paredes
de tantos gritos que se ouvem
estão quase a desabar
isso, aí! fique nesse lugar

não se mexa, amor
os cômodos não estão acomodados a terem uma companhia agradável
afinal, essa casa sou eu
inclusive, por que viera me visitar?
de um jardim de rosas, escolhera um cravo?
por que eu, por que viera me amar?

o amor sorriu pra mim, com ternura, e no íntimo me enxergou
olhou em meus olhos
e cantou

"sinto-me em casa, porque nela estou,
posso transformá-la em lar?
amor, não se preocupe, sua bagunça é minha

então, vamos dançar
por cima de suas lágrimas
vamos gritar e fazer isso desabar,
depois reconstruiremos um lar
e gritaremos as paredes: cantai e dançai!
sim, amor, your mess is mine"

eu, chorando, corri aos braços do amor e ali descobri o porque minha casa se despedaçou
ele era o lar, mais nenhum outro
nele decidi morar
o meu cravo se fez rosa
e ele se fez meu
sou teu, amor meu

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Allie Terassi
eu, poesia

sou uma falha epistemológica tentando produzir poesia e teologia. e a melhor delas está no outro.