“Ninguém sabe na primeira vez. Nem na segunda.”

Juliana Ferracioli
#Eudisse
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3 min readMar 27, 2020
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Eu costumava achar que era na adolescência o momento que mais existem dúvidas e perguntas não respondidas. Ledo engano. Cada fase, cada mudança, cada experiência traz consigo sua carga de novidades, mas também de incertezas.

Quando desde cedo — por cedo entendam como 15,16 anos — você permeia o famigerado Ensino Médio, começa a corrida contra o tempo em busca da sonhada vaga numa boa universidade. Em uma tradução mais realista, começa a “livre e espontânea” pressão por respostas.

“E aí, vai fazer o que na faculdade?”

Planejamos a melhor faculdade, o melhor curso, sem muitas opções para dúvidas, buscando agradar gregos e troianos. Afinal não podemos errar o alvo. Entrar na Universidade com mais de 18 anos? Jamais! Temos que estar formados e bem sucedidos aos 24.

“Você consegue, relaxa!”

“Como você é boa, inteligente!”

“Quando crescer quero ser como você!”

“Te admiro muito!”

São frases que, comumente, aparecem nessa etapa do caminho.

E seguimos. Conseguimos. Conquistamos.

“Passei!”

E como num estalar de dedos (VOI LÁ), temos todas os nossos jovens anseios acadêmicos e profissionais resolvidos. Por hora.

O que ninguém nos diz e o que não entra no nosso planejamento é a chance de dar errado. Pior: associamos dar errado como algo ruim e negativo.

Estamos tão socialmente condicionados a sermos os melhores e a “dar certo” e a dar certo rápido que ninguém te diz o que fazer quando “não dá”.

E ninguém vai.

No meu caso, eu comecei muito cedo na área da química e levei essa realidade para a graduação como objetivo único e exclusivo.

E adivinhem? Não era!

Por ser um pouco curiosa, e me envolver em outros projetos, ficou difícil (para não dizer impossível) permanecer na realidade que eu me encontrava. E eu estava justamente aonde planejei estar. Melhor: aonde meu eu de 16 anos planejou estar.

Se dar conta de que tudo que você planejou um dia, cheia de sonhos, ambições, “certezas”, não faz mais sentido, é pesado. Sim, pesado. Difícil. Dói.

Mas sabe o que dói mais? Velar a inquietude que te aflige toda vez que você dá mais um passo no caminho reto, mas se lembra daquele atalho diferente que te deu frio na barriga. E aí o incentivo e toda a imagem “bem sucedida aos 24” perde o sentido. E quando fazemos coisas em que não vemos propósito,finalidade, a gente mais cai e se machuca na caminhada, do que de fato segue.

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Costumo dizer que, uma vez que a gente olha pela fresta da janela e gosta do que vê não dá pra “desver”. Mesmo tendo uma casa planejada e bem decorada, nada te anima mais do que a ideia de sair e tatear o que tem lá fora.

Não é da noite pro dia que a gente muda de direção. É um processo. Para alguns, uma especialização, para outros um emprego numa área diferente. Para mim, uma mudança de curso.

A inquietude e animação ao ver outro horizonte se abrir na nossa frente, as vezes, é tanta que não da pra fingir que não viu. Algo precisa ser feito.

Nessa fase todas as perguntas que você pareceu não ter lá atrás, surgem como uma avalanche. E as mensagens de incentivo? Talvez sejam substituídas por questionamentos, algumas reprovações e mais perguntas:

“Você é louca!”

“Nossa, mas você é tão inteligente!”

“Vai fazer tudo de novo?”

Mas, pasme: você não precisa lidar com elas .

Em resumo, a maior lição que levo disso tudo é:

“Faça o que te faz se sentir vivo”

Sábia frase do Guilherme Caetano que me ajudou em todo processo de mudança e que levo comigo até hoje.

Afinal,como cita “O Terno”, uma banda que particularmente gosto muito:

“Ninguém sabe na primeira vez , nem na segunda.”

(e tudo bem).

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Juliana Ferracioli
#Eudisse
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Universitária inquieta e com mente empreendedora. Constantemente minha resposta é “eu não sei”.