Sevilla: o príncipe europeu

Gabriel de Araújo Mota
Eurófilos da Bola
Published in
5 min readAug 22, 2020
Foto: Reprodução/Sevilla FC

Na decisão da Europa League, o Sevilla venceu a Inter de Milão na última sexta-feira (21) e se sagrou hexa campeão do torneio. Com gols de Luuk De Jong (2) e Lukaku (contra), os rojiblancos aumentaram seu domínio na segunda grande competição de clubes do velho continente. Os incríveis 100% de aproveitamento em finais, com 6 disputadas, configuram uma dinastia de excelência.

Com todas as suas conquistas no século atual, sendo a primeira em 2005/2006, os sevillistas são os maiores vencedores da Liga Europa. Dessa forma, os espanhóis dominam a hierarquia da nobreza europeia. Enquanto o Real Madrid, com 13 títulos de UEFA Champions League, é entitulado como rei do continente, o Sevilla se apresenta como príncipe.

O jogo

Foto: Ina Fassbender/AFP

Em uma final sempre se espera um grande jogo. Pela lógica, os dois melhores times de um torneio se enfrentam e com isso a expectativa torna-se maior. Neste caso, alguns grandes clubes ficaram atracados pelo caminho. Manchester United, Roma e Arsenal são exemplos. Pela regularidade e o chaveamento, a Inter de Antonio Conte era esperada para decidir a Liga Europa. Do outro lado, o Sevilla enfrentou 2 dos 3 times citados anteriormente em seu trajeto até a finalissima. Era um indício.

Pelos números e desempenho, era justo e agradável uma final entre essas equipes. Com tradição de sobra, a definição se tornou pesada. Além da história, os nerazzurri carregavam consigo uma boa temporada na Itália. Alcançaram o segundo lugar na Serie A (1 ponto a menos que a Juve) e chegaram as semi-finais da Coppa, perdendo para o campeão Napoli. Na balança da temporada, Conte estava descontente. O treinador italiano é insaciável por natureza e a Europa League era o seu oásis no deserto. Paralelamente, o time do Ramón Sánchez Pizjuán se apresentava com uma invencibilidade desde 9 de Fevereiro, quando perdeu para o Celta, em Vigo. Esta sequência proporcionou a quarta colocação de La Liga para Julen Lopetegui e seus comandados, e aumentou as esperanças de voltar a vencer sua competição favorita.

Foto: Lars Baron/AFP

O apito inicial marcou um confronto de ideologias táticas. O intocável 3–5–2 de Antonio Conte contava com grande aptidão física. Oito homens operando por Lukaku e Lautaro. Já o flexível esquema de Lopetegui, se apresentou em um 4–3–3, com liberdade para Suso e Ocampos, e usufruindo da ofensividade de Navas e Reguilón. O primeiro tempo foi de uma dinâmica incrível.

Com 5 minutos de partida, Lukaku abriu a contagem para encarnar um Ronaldo que se tornou fenômeno. Com o tento, de pênalti, o belga igualou as 34 bolas na rede do brasileiro na temporada 1997/1998 pela própria Inter. Na ocasião, o gol 34 saiu em uma final de Copa UEFA (a nova Europa League), vencida pelos nerazzurri. Era o destino?

Luuk de Jong tratou de responder rapidamente. O holandês empatou 7 minutos depois e virou aos 33. O “não” corroía os, parcialmente, predestinados de Milão. A agonizante tortura de Conte a beira do campo foi amenizada com uma testada de Godín. Dois gols para cada lado com pouco mais de meia hora de jogo.

O início da segunda metade de partida denotou a apreensão vivida dentro das quatro linhas. Os ataques se tornaram mais comedidos e ocasionais. As defesas se restringiam ao passe de segurança e à marcação compacta. O futebol se tornou outro. Covardia ou estratégia? Eis que a coragem dominou o então vilão, Diego Carlos. Ao fazer a alavanca e realizar a famosa pedalada completa, sua bicicleta entrou, por sorte. Sorte que faltava ao zagueiro brasileiro e sobrava para quem o ajudou. O chute acrobático estava fora da trajetória das 3 traves e desviou no então iluminado Romelu Lukaku. Um baita roteiro!

Desde então, os lances se tornaram mais amargos para os italianos. A cada ataque malsucedido, a culpa era maior. O sofrimento atingiu seu ápice quando, aos trancos e barrancos, Alexis Sanchez desviou, já no chão, a bola para o gol. A partir daí, uma eterna câmera-lenta dos pés do chileno até a linha da meta. No instante final, Koundé salvou no limite. Era o destino.

Foto: Reprodução/Sevilla FC

O título veio e recaiu sobre as mãos de dois símbolos do que é o Sevilla. Quando aterriçou em Manchester, Jesus Navas era tido como um possível craque de uma geração recheada. O espanhol transmitia uma sensação de talento perdido ao sair da terra da rainha. Não correspondeu e a idade se tornou um empecilho. Era um empecilho. Antes ponta-direita, Navas voltou a Andaluzia para colher de suas raízes. Transformou-se em lateral e dos bons! Hoje, aos 34 anos, integra regularmente a seleção de Luis Enrique e é o grande líder do time de Lopetegui. Ever Banega atuou pela última vez com a camisa rojiblanca em uma final. Como jogou. Aos 32, desfila com sua elegância e inteligência. O tamanho do argentino se espelha nas últimas 3 conquistas sevillistas de Europa League. Ídolo.

A simbologia

Foto: Reprodução/Jornal Marca

O Ramón Sánchez Pizjuán expôe um trecho marcante do hino do clube em sua estrutura. “Dicen que nunca se rinde” ecoa pelas arquibancadas, como um mantra e uma certeza: O Sevilla nunca irá se render, assim como um príncipe nunca se renderá até provar que pode ser rei.

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Gabriel de Araújo Mota
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Estudante de Jornalismo na ESPM-Rio Social Media na 4dois3um no Twitter.