Geração "nem-nem"

Eduardo Vasques
evasques
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2 min readJul 3, 2024

Participei de uma reportagem sobre a chamada geração “nem-nem”. Queria aproveitar para trazer uma visão mais abrangente para além da dificuldade de lidar com frustrações e da da necessidade de avaliarmos esse tema a partir de recortes de raça, gênero e classe.

Apesar dos contrapontos e enfrentamentos habituais, o sonho da casa própria continua vivo até mesmo na população entre 21 e 24 anos com indicadores consideráveis até nas classes A e B (https://bit.ly/3yVWrF3).

Ainda temos de contar com um cenário de policrises que persegue o mundo desde o grande abalo do subprime nos Estados Unidos a partir de 2007, responsável por produzir uma recessão prolongada e contínua e por promover um sentimento de insegurança constante sobre o mercado e o futuro.

Seduzidos por discursos e promessas de um mundo melhor, menos desigual e mais humano, por histórias falaciosas ou questionáveis de sucesso tomando a exceção como regra, e realizações que estão demorando a vir concretamente em um cenário de incertezas, acabam decepcionados e sem muitas perspectivas.

A velocidade imposta pelo mundo contemporâneo amplia a sensação de desconforto e fracasso. Essa ansiedade por resultados e conquistas cada vez mais rápidos acabam levando os jovens a quadros depressivos (https://bit.ly/4e6xsPH). Importante destacar que estes jovens foram criados para se inscreverem em uma economia extremamente financeirizada, cobrados por trajetórias brilhantes e especiais em que a autorrealização tem mais significado do que a troca e acúmulo de conhecimento e as experiências em si.

Cresceram as possibilidades comparativas por conta da facilidade de acesso à informação e das mídias sociais. Há muitos e muitos estudos que mostram os impactos dos meios digitais no comportamento e na saúde mental dos jovens. São universos de conflito e criação de paralelos que geram inquietações, angústias e sofrimento. Afinal, a grama do vizinho sempre parece mais verde que a sua. É um dos paradoxos modernos: nunca houve tantas formas de se comunicar por conta dos meios digitais e ao mesmo tempo esses jovens sentem cada vez mais que não estão sendo ouvidos, reconhecidos, identificados e valorizados em seus afetos, demandas e sonhos.

Somam-se a tudo isso as transformações em todos os segmentos do mercado, agravados pela Covid19. Há também um movimento de simbiose entre vida e trabalho, incentivando ambos como indissociáveis. O mercado traz maior pressão por resultados rápidos, achatamento de salários e redução de benefícios. Na outra mão, há uma queda significativa na qualidade da formação, o que torna mais difícil obter empregos com remunerações mais vantajosas. Compõem ainda, este panorama sistemas, métodos e propostas educacionais seculares que parecem não se encaixar com as demandas e desejos dos mais jovens, além da precarização e sucateamento de ensino médio e superior que vêm ocorrendo no país nos últimos anos.

Imagem: Pexels (Inzmam Khan)

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Eduardo Vasques
evasques

Jornalismo, mídias sociais, comunicação digital e fotografia.