Uma defesa do pessimismo

Eduardo Vasques
evasques
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2 min readJul 3, 2024

O mundo anda bastante duro com a gente. Dando muita porrada. Basta ver os indicadores gerais (especialmente econômicos e de saúde mental) para ver que a coisa não anda fácil pra ninguém.

Falar sobre esperança de forma abrangente é complicado. Tem muitas nuances e variáveis que precisam ser consideradas. O otimismo é sempre celebrado como uma virtude, mas esconde muitas armadilhas (quem já quebrou a cara com discursos de gurus e autoajuda sabe bem disso).

Mas vou sair em defesa do pessimismo.Poxa, que chato. Sério que está dizendo isso? A gente precisa ter um mínimo de expectativa, de emoção, de comoção. Isso auxilia até a ter um sentido para a vida. Concordo. Mas trago alguns pontos aqui para te convencer de que, sim, tem um lado positivo em ser pessimista. Por mais que a gente não controle nada na vida e nunca vai conseguir prever todos os cenários.

Eu mesmo já fui muito questionado e criticado por ter uma visão extremamente descrente de tudo. Talvez tenha passado do ponto em um caso ou outro, mas sempre na proposta de sustentar as ideias que estavam sendo discutidas, de testar para ver até onde elas parariam de pé.

Ser pessimista naturalmente — isto é, quando esse comportamento está na nossa essência — desde sempre tem muitas desvantagens. Tira um pouco do brilho e da empolgação, aumenta a régua de riscos nos relacionamentos, nos trabalhos desenvolvidos e pode até mesmo bloquear bastante a criatividade.

Em outras frentes, entretanto, entendo que falta esse olhar mais cético, descrente no mercado. O pessoal anda muito “emocionado” com qualquer coisa.

A velocidade impressa no mundo contemporâneo pode até despertar a emoção em fração de segundos, mas não provoca

Contar com essa característica em áreas de comunicação (jornalismo, marketing etc)é fundamental. E não se trata de derrotismo, ao contrário. Nosso papel é questionar, duvidar, contrapor, no fim, ter uma visão mais crítica do que e para o que estamos lidando.

A empolgação é bacana, mas ela precisa vir acompanhada dos “por ques”. O pessimismo, aqui, pode ser saudável. É ótimo por nos trazer para o chão, colocar o mundo como ele é realmente é diante dos nossos olhos. Força a gente a ter uma perspectiva mais realista e nos tira de uma camada superficial.

Permite identificar potenciais obstáculos, pontos fracos e riscos antes que se tornem problemas críticos.

Para além disso, tendo a acreditar que esse perfil possa provocar uma discussão mais honesta e transparente sobre o que está sendo pensado e desenvolvido. Isso envolve ter debates com mais confiança e credibilidade, compartilhamento das ameaças presentes (sem a personalização na hora que der ruim).

O grande negócio, no fim, é equilibrar os dois comportamentos. Mas isso é outro debate imenso, porque equilíbrio é algo que a gente menos vive atualmente.

Foto: Pexels (Marcelo Moreira)

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Eduardo Vasques
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Jornalismo, mídias sociais, comunicação digital e fotografia.