Amor Corrupto | Conto | Nihilo RPG
Conto curto parte de Nihilo, um livro de RPG sobre humanos que transcendem a própria humanidade em troca da Magicka capaz de satisfazer suas obsessões. Baixe o preview gratuito aqui.
“Eu não tenho mestres,” disse a criatura reanimada portando o rosto da esposa falecida de Jin. “Eu não tenho um criador. Eu não tenho iguais”, ela concluiu antes de esmagar a traqueia do Magus que a havia trazido à vida.
Alguns anos antes, Jin Tan jamais poderia prever que o resultado de seus experimentos seria a própria morte. Jin só desejava ter a esposa de volta, estava cansado da existência solitária de um Magus preso ao laboratório. Vendo tudo e todos que o tocava sendo levados pelo tempo, pela biologia falha da humanidade.
Ela seria diferente. Ela tinha de ser diferente. E depois dela, talvez, ele pudesse enfrentar os poderes que regiam o Mundo Invisível e mudar a vida de toda a humanidade. A morte poderia ser deixada para trás, e haveria de ser o maior dos Anatomistas que traria este próximo passo evolutivo ao nosso mundo.
As partes necessárias não foram difíceis de obter. Há sempre aqueles dispostos a fazerem corpos destinados ao estudo desaparecerem em troca de pagamento ou dos favores certos. O Dr. Tan dispunha de ambos, após séculos atuando sob diferentes nomes na lucrativa indústria da medicina laboratorial.
O conhecimento necessário para unir as partes da maneira certa para a reanimação permanente, a execução dos selos e magias requeridos para obter os resultados desejados, e a ajuda de uma poderosa Necromante para localizar e capturar a alma de sua amada Simin… Estes sim foram difíceis. Custosos. Mas ele fizera o que precisava fazer. Simin valeria cada mancha em sua alma, cada centímetro que a Corrupção avançava sobre sua essência após tantas tentativas e erros.
Quando ela se levantou e o observou nos olhos, ele jurou ter visto o mesmo brilho que via todas as manhãs nos curtos anos em que foram casados. Um momento depois, contudo, aquele brilho foi substituído por algo diferente.
Algo estranho, alheio. Não era sua amada que ocupava aquele corpo, ele precisaria começar novamente.
“Como seu criador, eu lhe peço perdão por isso”, disse Jin de maneira cerimonial antes de puxar a alavanca que levaria o erro mágico para dissecação e reciclagem no andar de baixo. Porém, uma mão reanimada o impediu. Sua força, inesperadamente monstruosa, esmagou os frágeis ossos do acadêmico.
Outra mão partiu como um raio na direção de sua garganta, trazendo o rosto do cientista a apenas centímetros de sua criação. O que ele via naqueles olhos… Era sua própria Corrupção lhe encarando.
O pensamento é interrompido pela voz familiar, mas tão diferente, que lhe diz: “eu não tenho mestres. Eu não tenho um criador. Eu não tenho iguais”.
