Cogito RPG — “Pier 22, meia noite”

Ex Ignorantia
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3 min readApr 15, 2019

Fumando um cigarro ansiosamente, Evan McGuire aguarda a chegada de sua mais importante missão. Aquela que o lançaria pelos ares metafórica ou literalmente, dependendo dos resultados.

Os doze homens a sua volta todas portam armas e são quase inigualavelmente treinados com elas. Aquilo lhe dava alguma sensação de segurança, mas nada realmente palpável. Sua única certeza é o metal familiar da Desert Eagle guardada no coldre sob o paletó, uma constante e pulsante sensação de calor. Seu porto seguro.

- Ainda estamos no horário? Já estamos atrasados? — pergunta a seu assistente enquanto afrouxa a gravata levemente.

O homem checa a prancheta repleta de papéis silenciosamente por alguns segundos. Ao ler minuciosamente todas as palavras, balança a cabeça negativamente dizendo:

- Não senhor. Ainda temos quinze minutos

Ao dizer isso, todos percebem, apesar da escuridão e da ausência de luzes de aviso, um navio de porte médio que se aproxima do cais. Provavelmente atracaria logo a sua frente em cerca de quinze minutos.

-Russo maldito, exatamente na hora — ele diz, sorrindo.

- Todos a postos, cavalheiros. Não podemos nos dar ao luxo de erros. Não dessa vez, não com esse homem — diz Evan, imponente enquanto observa cada um de seus homens profunda e longamente nos olhos. Eles concordam silenciosamente com as cabeças.

Todos os cigarros são apagados. Todas as luzes desligadas. O mundo mergulha numa imensa escuridão, apenas um sinalizador vermelho cintilando fracamente na beirada do cais, jogando sombras sinistras que dançam contra as paredes enferrujadas do lugar.

Dezessete minutos depois, o navio está atracado e lentamente entrega à terra firme os enormes contêineres trazidos consigo. Todos ladeados por enormes estrelas vermelhas claras cortadas por linhas negras diagonais.

A marca de Vronsky, O Vermelho.

Cerca de uma hora depois, todos os enormes caixotes metálicos foram colocados em seus devidos caminhões e direcionados para seus destinos. Traficantes, exércitos mercenários, tiranos assassinos, Evan não ligava quem as armas iriam matar, contanto que sua cota da barganha fosse colocada corretamente em sua conta na manhã seguinte. Ele mantinha seu sono intacto, “Eu não mato, apenas forneço as ferramentas. Ninguém culpa o adolescente da loja de conveniência pelo câncer de pulmão”, costumava dizer o Demônio para seus poucos amigos.

Então, após o cais se tornar quase deserto, o silêncio é quebrado pelo som de botas que descem as escadas de acesso ao navio.

- Senhor Alexei, presumo. — diz Evan vacilante, mas mantendo ao máximo a firmeza de sua voz.

- Eto. — responde o homem protegido por um grosso casaco de pele cinza que agora entra na área recentemente iluminada do lugar — Chame-me de Vronsky.

- É claro, senhor Vronsky. É um prazer fazer negócios com alguém tão ilustre — diz Evan, cordialmente se adaptando à língua russa de seu atual contratante, nada menos do que o Barão de Moscou — As coisas foram de seu agrado? Não tivemos nenhuma quebra de segurança.

- Excelente. Agora vamos, presumo que você está de carro, sim? Tenho negócios a completar e seu pagamento para efetuar. Diga-me, o senhor gosta de metralhadoras de alta potência?

Um sorriso triunfante surge no rosto de Evan McGuire que, sem saber que havia sido observado por olhos angelicais todo o tempo, já comemora mentalmente uma enorme vitória em seus negócios.

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