Vingança Druídica | Conto | Nihilo RPG

André ‘Sid’ Osna
Ex Ignorantia
Published in
2 min readMay 19, 2023

Conto curto parte de Nihilo, um livro de RPG sobre humanos que transcendem a própria humanidade em troca da Magicka capaz de satisfazer suas obsessões. Baixe o preview gratuito aqui.

O que mais enchia a mente de Eoh de tristeza e raiva era saber que o mundo que habitava na infância era mais verde, mais vivo, enquanto o que via ao redor, agora uma Magus centenária, era cinza e caía aos pedaços. A frustração, contudo, não a impedia de atuar com maestria.

Os funcionários da madeireira retornavam ao trabalho assim que o sol nasceu, mas Eoh já havia realizado a parte central do plano na calada da noite. Sua magia estava impregnada no ar, absorvida pela terra, inspirada por cada folha viva num raio de algumas centenas de metros.

Quando tudo acontecesse, eles sequer saberiam o que os atingiu até ser tarde demais.

Escondida entre a copa das árvores aguardando o momento certo, a Druida viu o maior homem do grupo apanhar uma serra elétrica e se aproximar de um carvalho ancião com intenções humanamente assassinas e ignorantes. Monstros, pensou, terão exatamente o que merecem.

O motor ruge, cortando o silêncio da floresta, e as lâminas cruéis se aproximam da madeira que resistiu bravamente ao tempo e às intempéries. O momento chega e Eoh inicia o cântico celta que aprendera tanto tempo atrás, enquanto suas mãos se tornam raízes e penetram a árvore imensa, conectando-a ao espírito que vive em tudo.

O homem tem apenas tempo de guinchar como um animal abatido quando a enorme raiz se separa do chão e lhe acerta no centro do peito, como um gigantesco chicote. O capacete nada faz para impedir que seu cérebro se esmigalhe contra as pedras próximas.

A raiz serpenteia em direção ao corpo espasmódico, elevando-o no ar de ponta cabeça pelo calcanhar. O cântico de Eoh se torna um grito gutural que rasga o ar e penetra na própria atmosfera, enchendo-a de Magicka.

Galhos se separam da copa e enrolam os membros do homem cujo sangue pinga sobre a terra, alimentando-a em penitência por pecados passados. Eoh grita. Os membros se esticam de maneira não natural — e se partem com um estampido molhado, fazendo com que algo que um dia foi um homem se torne apenas um monte de adubo para as plantas, alimento para os animais.

Os demais, criaturas vis que estão ali apenas para matar o que a natureza criou com tanto esforço, tempo e paciência, gritam em desespero ao verem um dos seus abatido de maneira tão surpreendente. Tão assustadoramente grotesca.

Eles não veem ou escutam quando as raízes se movem sorrateiras até seus pés cobertos por botas. É tarde demais para eles. A natureza teria sua vingança.

Por Juan Ignacio Hervas / instagram.com/yggy_yggy/

--

--

André ‘Sid’ Osna
Ex Ignorantia

Storyteller de vida inteira com 15+ anos de experiência como redator, roteirista, produtor de pitch, desenvolvedor de IPs e jogos, e criador textual 360º.