É um vilarejo, à beira mar. Um pescador acaricia a barriga da esposa, prestes a dar à luz ao primogênito do casal. Um funeral, um ‘gringo’ tirando fotos do cortejo e algumas ‘gracinhas’ ditas a boca entreaberta pelas fofoqueiras de plantão da pequena vila.
Não sabemos onde está situado aquele vilarejo, quem são os personagens ou o que cada um tem a ver com outro. E quer saber? Não precisamos. Trata-se de um filme sobre amor e como amar pode mudar as pessoas.
É um filme sobre como as pessoas se limitam, se malogram e deixam de viver o que querem por medo do julgamento da sociedade. É um filme sobre perda, dor e também sobre felicidade e o alívio de ser o que se é: humano.
Afora a fotografia maravilhosa, esse é um filme sobre expressão. E o personagem principal, o pescador Miguel (Cristian Mercado) conseguiu ser simplesmente maravilhoso em sua interpretação. Os três personagens centrais são capazes de transmitir com maestria a dor e a alegria de seus papeis.
O ritual de passagem e libertação dos mortos seguido pelos moradores do povoado é a chave para a própria liberdade de Miguel e do amor por ele embuçado.
Com um ‘quê’ de Dona Flor e Seus Dois Maridos, romance de Jorge Amado, o filme recorre à presença do amante morto. A ideia que Miguel tem de conseguir unir duas felicidades logo se esvai, ao cabo que reconhece seu egoísmo e o corpo do seu amado é encontrado.
Apesar de ser um filme gay, não faz proselitismo gay ou qualquer coisa semelhante, o que o torna ainda mais encantador. Trata-se apenas sobre amor, um amor diferente do convencional no lugarejo de Miguel e a defesa de desse amor de forma digna e justa.
Contracorrente/Contracorriente
Diretor: Javier Fuentes-León (Peru-Colômbia-França-Alemanha, 2009)
Argumento e roteiro: Javier Fuentes-León
Fotografia: Mauricio Vidal
Elenco (principais): Cristian Mercado (Miguel), Tatiana Astengo (Mariela), Manolo Cardona (Santiago), José Chacaltana (Héctor), Maria Edelmira Palomino (Doña Flor).
Estreou no Brasil em 2011.