Natacha Portal
Portal Ensaios
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2 min readFeb 18, 2014

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Ontem, por um desses acasos que acabam te levando onde tu não imaginavas ir, me veio a lembrança alguém de quem não recordava há um bom tempo, embora nunca tenha esquecido.

Nunca me acostumei com a situação em que conheces alguém e esse alguém te lembra outra pessoa. É como se eu estivesse roubando a individualidade dessa pessoa, a ‘uniqueza’ dela. É o mesmo sentimento que tenho quando alguém diz “Você lembra muito uma amiga minha”. Não me sinto ofendida, mas me incomoda parecer com alguém que nem se quer conheço.

Mas o fato é, ela lembrou muito alguém que já passou pela minha vida e deixou tudo um turbilhão. Fiquei olhando, tentei disfarçar para não constrange-la, afinal é sempre incômodo perceber que alguém te observa. A fisionomia, os olhos, um pouco do jeito e até o cabelo me pareceram semelhantes. O melhor foi perceber essa semelhança e achar engraçado, lembrar de coisas boas.

Mas a sensação de que comparar alguém é desfavorece-lo é inevitável. Uma vez li que “Nada é bom ou mal se não for por comparação”, de algum historiador britânico, alguma nota de rodapé que ficou guardada na cabeça e encontrou espaço neste texto. Porém o que me oprime também é o que me redime: percebi a semelhança e fiz a comparação com leveza, busquei pontos bons e fiquei feliz em perceber que não guardo rancor.

Então, talvez, não tenha sido um acaso qualquer. Nessa busca constante por renovação; por evoluir, comecei a encarar o ocorrido como a constatação de que essa é, realmente, uma nova fase. E extraí o melhor.

Acho que por isso, hoje, resolvi escrever esse texto. Uma forma de guardar a sensação causada pelo encontro e evitar perde-la nas vielas da memória.

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