Conto espanhol: “Blancaniña y la reina mora” (Branquinha e a rainha moura)
Tradutor: Cássio Gabriel
Era uma vez um Rei que foi caçar e encontrou-se com Branquinha, que estava brincando com seus irmãos. Branquinha tinha longos cabelos e o Rei encantou-se por ela. Queria levá-la com ele em seu cavalo. O Rei pediu à menina que o esperasse, porque queria trazer belos vestidos, pedras brilhantes e uma carruagem transparente, cercada por cavaleiros, para ela entrar como uma rainha.
Branquinha tinha medo de ser deixada sozinha na floresta, mas o Rei a acalmou dizendo que retornaria no dia seguinte, ao meio-dia. E foi-se embora.
A menina viu uma fonte de águas muito claras e subiu em um galho de uma árvore alta para esperar pelo Rei. Além de lá poder ver o caminho, também se via refletida na água, como em um espelho.
Uma mourinha aproximou-se da fonte com um grande cântaro e viu a imagem da menina refletida na água e pensou que fosse ela. E disse, suspirando:
— Moura, mourinha da mouraria… que vem buscar água da fonte fria!
Encheu o cântaro e se foi. Passou o sol alto do meio-dia, mas o Rei não veio. Branquinha entristeceu-se porque temia que o Rei não viesse buscá-la. E penteava seus cabelos dourados com pentes de fina prata.
Na parte da tarde, a mourinha retornou com outro cântaro mais pequeno. Aproximou-se da beira da água e viu outra vez a menina, e crendo que se via novamente ali, deu um suspiro mais profundo e tenso e disse:
— Moura, mourinha da mouraria… que vem buscar água da fonte fria!
Lançou o cântaro com mais força na água e se foi. Branquinha sorriu, e seguiu penteando seus cabelos, pensativa.
Outro sol alto do meio-dia passou e o Rei não veio. Ao entardecer, a mourinha retornou. Enquanto enchia o cântaro, viu outra vez o reflexo da menina na água e disse, crendo que fosse ela mesma:
— Moura, mourinha da mouraria… que vem buscar água da fonte fria!
Tirou o cântaro da água com tanta fúria e raiva que Branquinha riu, com um doce riso.
A mourinha procurou a fonte daquele riso e viu a menina sentada no galho. Como estava com muita raiva, pensou em machucá-la, e disse:
— Que faz aí, branca? Que faz aí, menina?
Branquinha respondeu:
— Estou esperando o Rei, que virá entre às doze e à uma hora da tarde para me levar com ele.
A mourinha ficou verde de inveja e disse:
— Desça daí, menina, que te ajudo a pentear-se!
E pensou em encantá-la e trocar de lugar com ela.
A menina desceu sem medo, e a mourinha ficou atrás dela e começou a pentear os cabelos da Branquinha com seu pentinho de prata. Enquanto fazia as tranças, em um rápido movimento fincou um alfinete negro em Branquinha, e ela transformou-se em uma pomba e saiu voando em direção ao céu azul.
Vinha pelo caminho dois irmãos de Branquinha e perguntaram a mourinha se não tinha visto o Rei passar por ali, com a menina montada em seu cavalo.
A mourinha, ao adivinhar quem eram aqueles rapazes, disse rapidamente não saber nadica de nada. Então, antes que dessem conta do que havia ocorido, os transformou em dois bois.
A mourinha subiu na árvore, e quando o sol já estava alto viu o Rei vindo com seus cavaleiros, pajens e uma luxuosa carruagem.
A mourinha desceu da árvore, apresentou-se ao Rei e este, assustado com a mudança, disse:
— De onde tal cor, branca? De onde tal cor, bela?
A mourinha, muito à vontade, respondeu:
— O sol me fez ficar morena enquanto esperava!
O Rei não soube o que fazer em seu descontentamento. Mas palavras são palavras e promessas são promessas.
Assim, aconteceu que o Rei voltou ao palácio com a mourinha e casou-se com ela. Todas as manhãs pelos jardins do palácio chega uma pomba dizendo:
— Jardim do Rei, jardim do amor, que faz o rei, teu senhor?
— Ai, meu senhor, com a rainha moura é casado! Uns dias, calada; em outros, em lágrimas tem gotejado.
A pomba voejando, voejando, desaparecia. Voltava uma vez ou outra ao jardim. Então, o jardineiro, maravilhado, contou ao Rei.
O Rei ordenou que untasse o galho onde a pomba pousava. Quando chegou o próximo dia, a pomba perguntou ao jardineiro:
— Jardim do Rei, jardim do amor, que faz o rei, teu senhor?
— Ai, meu senhor, com a rainha moura é casado! Uns dias, calada; em outros, em lágrimas tem gotejado.
Quando quis voar ficou presa na roseira. O jardineiro, com cuidado, a levou ao seu senhor. A pomba impressionou o Rei. Então, a pôs em sua mão, sentando-se à mesa para comer. A rainha moura enfureceu-se quando viu a pomba beber na taça do Rei. Ordenou aos seus criados que a assassem à noite. O Rei, que acariciava as penas da pomba, sentiu a sólida cabeça de um alfinete em baixo de suas patas. Seus olhos esbugalharam-se quando viu aquilo e, de uma vez só, tirou o alfinete. Reconheceu em seus braços Branquinha que, chorando, contou a ele tudo que acontecera.
A moura, usando de seus encantos, desapareceu; os irmãos deixaram de ser bois e chegaram ao palácio quando todos estavam festejando o casamento de Branquinha e o Rei, seu senhor.
Como me contaram eu os conto.