Carreira e Mercado de UX Research

Um resumo do painel com Camila Borja, Juliana Crizo e Thiago Marques na Observe2021

UX em Casa
Experiência Observe
10 min readDec 3, 2021

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A produção e curadoria desse conteúdo foi realizada por integrantes da comunidade UX em Casa: Ale Sassaki, Leticia Emidio, Lucas Lopes e Natalia L’Abbate

Carreira e Mercado de UX Research

Fotos das pessoas convidadas do painel. Camila, Juliana e Thiago, respectivamente

Como está o mercado de research nesse momento?

Camila Borja

Design Research Lead |Facilitator in the LEGO® SERIOUS PLAY® methodology

Está aquecido não só no Brasil, mas em outros países e essa procura vem logo após a explosão pelo procura por profissionais de ux designers e essas especialidades dentro do design estão sendo requisitadas pois o profissional não consegue ser full stack abrindo mercado para os especialistas por conseguirem desempenhar suas habilidades de forma mais rápida e aprofundada atendendo as demandas do mercado. A procura por especialistas se estende não só para a parte de pesquisas, mas para outras áreas do design que a médio e longo prazo a tendência é crescer cada vez mais, especialmente no Brasil por conta da grande procura por produtos que possam gerar experiências.

Juliana Crizo

Designer de Serviço | Pesquisadora

Concordo com tudo o que a Camila disse e resgatando um pouco do
contexto dos anos 90 onde não se tinha acesso a internet sendo privilégio para
poucos e hoje tornou-se mais acessível do que era antigamente. Antes tinha apenas o profissional de web design que fazia de tudo e hoje existem muito mais especialistas que fazem entregas muito mais aprofundadas até por conta de novas ferramentas existentes no mercado que entregam uma experiência que busca facilitar e agilizar o dia a dia dos usuários. A área de ux research está super aquecida e as empresas estão se adaptando e entendendo a importância desse especialista que varia conforme o porte/estrutura e necessidade de cada uma delas. Eu vejo que a tendência é existir mais especialistas e possivelmente novas ramificações.

Thiago Marques

UX Research Coordinator @ Hotmart| Research Ops | Design Ops

Eu endosso o que o pessoal falou até agora e gostaria de trazer uma visão do quão amplo é o mercado em diferentes frentes de atuação como house, consultoria, fixa, freelancer, ambiente de startup, multinacionais e quando paro para pensar nessas diferentes frentes de trabalho vejo isso como algo muito positivo pelo leque de opções com seu modus operandis e ao mesmo tempo cria uma certa complexidade pois você precisa entender essas diferentes formas de atuação. Por isso acho super importante termos espaços para trocar experiências, pois é um mercado que permite que esse profissional possa escolher desde que entenda seu momento de vida pessoal e profissional para dar match com o que é oferecido

Vamos falar um pouco sobre as diferentes nomenclaturas do mercado em relação a área de design. (UX Lead, Head, pleno…)

Camila - Acredito que esse tema está desgastado pois X título não ajuda a nossa área e essa discussão está quente há anos, mas eu gosto muito porque você escolheu uma descrição para seu cargo com base no que você acredita fazendo parte da sua filosofia e essa cultura é evidenciado no Linkedin. Faça uma reflexão e descrição com base no que você leu, pessoas que são suas referências, como você se imagina no futuro, sendo importante que as pessoas tenham essa liberdade de escolhas. Fui buscar meu título no Linkedin e tinha até me esquecido dessa nomenclatura e tenho como fonte de inspiração a pesquisadora Érica Hall que dissemina o conceito do design centrado no ser humano. Eu não tenho nada contra nomenclatura e isso é muito pessoal pois é o acreditamos que o trabalho deve ser.

Juliana - Ao mesmo tempo que esses nomes dizem tudo, no final não dizem nada, podendo ser coisas iguais ou diferentes, que no final do dia podem dizer a mesma coisa ou não pelos diferentes tipos de contextos de atuação. Eu prefiro dizer pessoa pesquisadora, pessoa experiência do usuário pois dessa forma eu acredito que a abrangência é maior. Olhando para a minha trajetória de service design o trabalho do ux e do service design são diferentes no foco do trabalho e onde está atuando. O ux research está mais focado na primeira parte do double diamond na parte do entendimento e da exploração ajudando outras pessoas com tudo o que descobrem. Já o profissional de service design passa pelas demais áreas (mercado, concorrência, ecossistema como um todo) não ficando somente na parte inicial do diamante, mas não se apeguem a nome e sim a job description.

Thiago - Concordo muito com o que foi dito, muito mais que um nome eu acredito muito mais na sua funcionalidade para aquele cargo e trazendo para um lado mais prático do ambiente Hotmart, antigamente o Lead era muito mais próximo do ux research ops que é aquela pessoa responsável por pensar em processos, ferramentas e demais operações sendo criado para atender a demanda da empresa difundindo a área para outras equipes, eu estava ali para ajudar em processos. O que eu faço como coordenador, eu ajudo as pessoas a pensarem na carreira na área de research, enxergando muito mais do que o nome que vai aparecer no Linkedin. Eu me identifico mais com o que eu faço no dia a dia do que aquilo que está escrito no Linkedin

Existe algum país que vocês têm como referência tanto de mercado, job description, nomenclatura, etc…?

Camila - Pelo que eu tenho pesquisado até hoje, considero o Brasil como uma
referência na área de pesquisa tanto de pessoas disponíveis e boas como de
mercado como um todo onde estamos dando 7x1 no resto do mundo inteiro onde deveríamos ser o benchmark de todos os países. Eu não me recordo de ter visto um evento tão organizado como está sendo a Observe 2021 deste ano em relação a assuntos, variedade, organização.

Juliana - Complementando o que a Camila nos trouxe, os desafios, complexidades e adversidades que nós temos aqui são únicos mesmo olhando para o mercado fora do Brasil e a troca de experiências na qual temos a oportunidade de discutir sobre a pesquisa de experiências à brasileira adaptando as ferramentas utilizadas em outros contextos para a nossa necessidade.

Camila - Eu trabalho para uma empresa alemã e vejo o contexto da Europa e demais países, eu vejo que nós somos muito batalhadores e guerreiros pois fazemos acontecer buscando alternativas caso algum processo não ocorra por N motivos. Apesar de não termos ferramentas tão boas que poderiam facilitar mais o nosso trabalho, temos pessoas com a mais alta resiliência e criatividade que fazem as coisas acontecerem. Um exemplo é a lei LGPD que limitou muito nosso acesso às pessoas, mas nós não ficamos parados brasileiros somos profissionais que estamos sempre procurando nos adaptar para conseguir chegar ao objetivo sem desrespeitar as leis.

Thiago - Concordo com tudo o que foi dito e o preço das ferramentas para a nossa realidade olhando para o lado das empresas, acaba se tornando muito caro (dólar ou euro) e uma das dificuldades é que quase não temos tantas opções de empresas de recrutamento. Um dos pontos que eu gostaria de ressaltar é que a comunidade se ajuda com diversas opções de conteúdo gratuito como youtube, redes sociais, mentorias, diversos grupos, entre outros. Acho que isso é a parte que mais curto!

Como podemos identificar um(a) bom(a) pesquisador(a)?
Como vocês identificam isso no time de vocês?

Thiago - Olhando num contexto geral, essa pessoa precisa saber contar histórias pois isso tem se tornado cada vez mais comum tanto para contar como para ouvir para poder se comunicar melhor suas ideias para as demais pessoas da equipe, seja dev ou stakeholder. Além disso, ser uma pessoa de mente aberta e curiosa para poder se conectar melhor com as pessoas.

Juliana - Eu gosto de pessoas que fazem muitas perguntas principalmente na hora da entrevista. Esse tipo personalidade deve acontecer a todo momento não só quando você está à frente de uma entrevista qualitativa, o saber falar (quando, como, em qual momento e com que tipo de linguagem usar) é muito importante, mas um ponto que chama mesmo a minha atenção é a presença ou seja estar presente no lugar e estar com o foco no aqui e agora e isso ajuda muito na hora de uma condução e facilitação. Caso a pessoa entrevistada fique travada, você saberá como ajudar para que ela dê o próximo passo sem enviesar no contexto, sendo uma importante soft skill para uma pessoa pesquisadora.

Camila - Uma coisa que eu considero super importante é você se encaixar com a cultura da empresa onde boa parte delas estão trabalhando em um modelo de entrega ágil e percebo o quanto as pessoas de pesquisas estão engajadas com suas entregas e no final suas pesquisas acabam sendo engavetadas por questões que não poderiam ser implementadas em espaço x de tempo. O importante disso aí tudo é que você deve entender qual é a cultura da empresa onde você trabalha, não se fazer de vítima e trabalhar sua resiliência para sempre dar o próximo passo, pois nem sempre tudo o que foi projetado por você com o melhor das suas entregas significa que será utilizado no prazo solicitado.

Thiago - Precisamos ser muito criativos para decidir qual ferramenta usar, quais etapas irei definir para essa jornada, com quem eu vou falar, como eu chego nessas pessoas, pegar diferentes estilos e repertórios para combiná-los para sair alguma coisa além de conhecer muito bem as ferramentas.

Qual o papel de um lead para a formação dos futuros research?

Thiago - Acredito que juntar as pessoas diretamente relacionadas como por
exemplo ux dos dev, stakeholders, marketing e demais áreas de ux. Existem
algumas formas que podemos buscar para fazermos uma conexão com pessoas de áreas até mais distantes das empresas através da divulgação da nossa parte de pesquisa periodicamente para que os demais colaboradores possam interagir conosco trazendo principalmente as vozes de nossos usuários.

Camila - Gostaria de trazer uma polêmica: ao mesmo tempo que devemos dar um pouco mais de autonomia para novas pessoas de research para que possam fazer suas próprias pesquisas trazendo critérios para assuntos mais polêmicos ou que precise mais de metodologias. Eu sempre vejo o design como protagonista e a pessoa de pesquisa no backstage, eu entendo que o designer é a pessoa que irá materializar a experiência e a comunicação entre nós é o que irá se transformar na sinergia dos nossos trabalhos. Nem sempre a comunicação que é transmitida é a mesma que é recebida e as vezes pode acontecer do designer ler e interpretar e fazer de outra forma, por isso que a comunicação entre as partes é sempre muito importante.

Thiago - Complementando o que você nos trouxe, todo mundo anda querendo fazer pesquisa agora parecendo moda, tanto pessoas de outras áreas como pessoas que estão mais próximas do pessoal de research, mas geralmente têm vindo sem objetivo daquilo que realmente necessitam saber.
Camila- Sim, e fazer perguntas você pode assistir meia dúzia de vídeos do NNG com dicas de alto valor com um nível de detalhamento incrível.
Para quem não está familiarizado com a área de research se depara com muitas informações do tipo: que problema você está resolvendo, quem irá implementar essa solução, como você irá elaborar uma síntese, interpretar e apresentar esse material.

Como você enxerga o desenvolvimento de carreira dos pesquisadores?

Juliana - Acredito que vai depender muito do contexto individual com diversas variáveis do ponto de vista da empresa com a qual você trabalha, gestores e o mercado em si que nos trazem muitos desafios. O básico é você saber aonde você se encontra e onde quer chegar em um específico espaço de tempo, como ser percebido para receber uma promoção, o quanto essa pessoa depende menos de superiores para tomar uma decisão (quando couber) com diferentes graus de segurança entendendo o peso pela escolha se será por de x ou y. O saber como disponibilizar tudo o que é feito de uma forma simples para que todos consigam entender e o quanto o trabalho do pesquisador se conecta com o negócio da empresa, são pontos importantes que irão se refletir no resultado final da empresa.

O que vocês têm visto e consideram que seja uma má prática em todo o período de experiência em research?

Thiago - Quando uma pessoa lança uma pesquisa em grupo de whatsapp, grupo da família ou no meio onde se tem muitos ux designers, essa pesquisa pode estar sendo enviesada. Devemos nos atentar se as nossas escolhas que tomamos serão úteis para o projeto, pois é fácil elaborar uma survey no google docs e sair espalhando por aí. O que isso irá nos trazer de aprendizados?

Camila - Eu tenho muita dificuldade e acabo improvisando em alguns casos. Acho que tem um ponto que te obriga a ter mais qualidade em sua pesquisa e divulgo bastante isso nos meus canais de comunicação que é fazer muitos testes de usabilidade. O modo como você cria e elabora uma tarefa é uma arte milenar e esse é um ponto que eu considero importante para se evitar más práticas. A importância de um teste de usabilidade se dá por conta da materialização e interseção entre a solução e a descoberta de problemas, se você tiver esse conceito de teste de usabilidade bem consolidado, você irá entender o grau de complexidade de se criar uma pergunta e o que você está criando sendo uma das formas de se evitar más práticas.

Juliana - O fato de estarmos imersos cada vez mais em ambientes de metodologia ágil, dar respostas rápidas, têm altas taxas de acabar saindo más práticas nas mais diversas etapas de um processo, seja pela escolha de uma ferramenta errada, consolidação das informações. As empresas estão se adaptando para performar melhor dentro dessa lógica e a má prática no meu ponto de vista é a falta de tempo para refletirmos melhor e só ir respondendo aquilo que é pedido tendo que recorrer a adaptações com o uso de ferramentas em nossas formas de fazer dentro do nosso contexto.

E aí, curtiu?

A Experiência Observe e a comunidade UX em Casa se juntaram em uma iniciativa para tornar mais acessível o conteúdo da conferência brasileira de pesquisa de experiência. Iniciamos uma série de artigos que resumem cada apresentação da Observe 2021onde você poderá rever os principais pontos discutidos durante as palestras, pilulas e paineis, além de conferir uma curadoria de materiais em alguns artigos para quem quiser se aprofundar um pouco mais nos assuntos. Confira os resumos de todas as apresentações da Observe 2021 aqui no nosso Medium.

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UX em Casa
Experiência Observe

Comunidade e grupo de estudos para quem está começando agora na área, com intuito de democratizar o conhecimento em UX.