Habilidades interpessoais necessárias para a pessoa pesquisadora

Um resumo da palestra com Bárbara Villar na Observe2021

UX em Casa
Experiência Observe
9 min readDec 3, 2021

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A produção e curadoria desse conteúdo foi realizada por integrantes da comunidade UX em Casa: Ale Sassaki, Leticia Emidio, Lucas Lopes e Natalia L’Abbate

Habilidades interpessoais necessárias para a pessoa pesquisadora

Bárbara Villar

Bárbara Villar é formada em marketing, com especializações em design thinking, design estratégico e design de serviços. Com estudos em práticas contemplativas: pós graduada em ciências do yoga e fazendo uma pós graduação no Einstein em Equilíbrio Emocional nas Organizações.

Head de UX na Natura e Co Latino-américa, liderando mais de 50 designers.

Habilidades interpessoais = soft skills = habilidades humanas, sobre relações

Uma busca sobre habilidades interpessoais na internet retorna que 85% do sucesso da carreira está relacionado às habilidades interpessoais (Softskills, relações humanas), enquanto 15% está relacionado às habilidades técnicas (hard skill)

O quão é importante nos connhecermos, saber das nossas vantagens e desvantagens.

Habilidades Humanas VS Competências Técnicas

Habilidades humanas são mais subjetivas, mais difíceis de serem treinadas e são mais relacionadas ao comportamental de uma pessoa. Pautada em vivências pessoais (Comunicação, inteligência emocional, resiliência). São introduzidas na nossa forma de agir e pensar desde a primeira infância.

Competências técnicas são mais concretas, quantificáveis: ações de pesquisa, análise, design, programação, etc.. São competências as que escolhemos desenvolver, estão mais relacionadas ao nosso trabalho/tarefa. São treináveis, aprendíveis com prática e repetição.

→ Normalmente é nas competências técnicas que focamos para nos desenvolver e preparar para atuar uma carreira/área.

→ Atualmente, têm se notado, que para se viver na sociedade atual (cada vez mais fluída, mais volátil e sofre mais impacto pela globalização e cenários macroeconômicos), em contextos onde não há controle, as qualidades/habilidades interpessoais têm sido cada vez mais essenciais e necessárias para navegarmos na incerteza/contexto volátil. Isso reflete na contratação de pessoas, uma vez que as empresas estão buscando mais habilidades interpessoais do que técnicas, uma vez que as técnicas estão mudando com bastante rapidez.

→ Para lidar com grandes mudanças e grandes transformações são exigidas de nós muito mais nossas habilidades interpessoais do que competências técnicas.

→ Essas habilidades estão sendo tão buscadas que o curso do Linkedin Learning “Habilidades interpessoais” foi o mais popular de 2020.

Um pouco de dados

Global talent trends é uma pesquisa realizada pelo Linkedin. De acordo com ela:

  • 80% de líderes de empresas disseram que habilidades interpessoais são cada vez mais importantes para o sucesso da empresa.
  • 92% consideraram as habilidades interpessoais importam tanto quanto ou até mais que as competências técnicas

De acordo com líderes de empresas, contratações de sucesso são feitas puramente a partir de:

  • 30% habilidades interpessoais
  • 62% habilidades interpessoais e competências técnicas
  • 8% competências técnicas

Quando se fala de contratações ruins, as principais causas relatadas são:

  • 45% habilidades interpessoais
  • 44% habilidades interpessoais e competências técnicas
  • 11% competências técnicas

→ Competências técnicas são desenvolvidas mais rapidamente e também tendem a ser mais voláteis.

“I really reject the idea of soft skills. There is nothing soft about them. We have hard skills and we have HUMAN skills. We need more human skills in business today” (Simon Sinek)

→ No contexto atual e dentro das organizações o que realmente precisamos é de habilidades cada vez mais humanas, que o olhar possa ser cada vez mais ampliado sobre as relações e impactos nos negócios.

Habilidades interpessoais para a pessoa pesquisadora

Imagem da NNG

Habilidades Principais

  • Pesquisa
  • Escrita
  • Falar em Público

Habilidade Mais Desejada

  • Design visual → Por ajudar muito no processo de comunicação dos aprendizados da pesquisa

Principais Atividades

  • Testes qualitativos de usabilidade
  • Entrevistas
  • Estudos de Campo
  • Questionários

Experiência

  • Graduação em psicologia, sociologia, antropologia e humanidades

→ Neste quadro, não aparece nada sobre as habilidades interpessoais das pessoas pesquisadores

Descritivo de um curso da BERKELEY

  • Trabalhar bem em equipe
  • Ter processo de escuta ativa
  • Ter empatia
  • Se comunicar bem
  • Manter a mente aberta
  • Aprender, ser atenciosa
  • Ser uma pessoa empática e perceptiva

Competências (hard skills) e habilidades (soft skills) da pessoa pesquisadora

Competências: Pesquisa, Redação, Design Visual, Mapas de Experiência, Criação de Personas, Falar em Público, Testes com Usuários, Entrevistas, Design Thinking, Facilitação. Habilidades: Pensamento Sistêmico, Empatia, Colaboração, Escuta Ativa, Comunicação, Persuasão, Curiosidade, Criatividade, Confiança, Perspectiva.
Imagem retirada da apresentação de Bárbara Villar durante a palestra da Observe 2021

Empatia e escuta ativa

  • É essencial ter autoconhecimento: ter muita clareza de quais são as suas crenças, valores, bagagens familiares e de contexto que te moldaram como pessoa e como estes pontos podem causar viéses inconscientes. Tentar mapeá-los e neutralizá-los durante processos de pesquisa (associações que trazem os viéses) é essencial para exercitar a empatia e a escuta ativa, de modo a ouvir sem julgar a outra pessoa com base nos seus viéses.
  • Entender que não temos todo o repertório do mundo e devemos sempre ter abertura para aprender coisas novas
  • Viéses são como lentes que podem nos impedir de ter uma visão real do que está acontecendo. É essencial tirar estas lentes inconscientes e estar presente no processo empático para atentar ao que a outra pessoa comunica.
  • Praticar empatia 360º, ou seja, não apenas com usuários finais, mas também sobre colegas de trabalho, stakeholders, etc. Seja empático também com colegas para estabelecer uma boa relação e transitar bem nas conversas, estabelecendo uma relação de confiança.
  • Escuta ativa: uma das habilidades mais importantes da inteligência emocional e do processo empático. É saber conectar com outras pessoas sem julgá-las por nossos viéses inconscientes, transparecer durante a comunicação que nossa atenção está focada naquilo que está sendo compartilhado.
  • A escuta ativa estabelece um ambiente, uma atmosfera de confiança, que faz com que a conexão entre as pessoas flua muito melhor.
  • O que nos confunde na escuta ativa é nossa mente que começa a fazer múltiplas associações e conexões e podem nos levar ao processo de julgamento ou de precipitação, tentando adivinhar o que a pessoa irá falar, nos fazendo parar de prestar atenção.
  • O foco da escuta ativa é ouvir plenamente o que a outra pessoa diz e construir esse ambiente de confiança.

Confiança e perspectiva (do profissional)

  • A habilidade da confiança está em um lugar muito importante para a pessoa pesquisadora, por que nos colocamos neste lugar de escuta ativa, de entender as problemáticas e mapear tudo o que a outra pessoa pensa, expressa e sente sobre o produto/serviço. Então, passa a ser natural termos repertório sobre os usuários e passamos a ter uma posição de referência dentro do time no que diz respeito ao conhecimento sobre as pessoas usuárias
  • Nem sempre a pessoa pesquisadora irá trazer uma boa notícia ou um insight que é valioso para aquele momento do time e/ou do produto.
  • Apesar de sermos confiantes em relação aos conteúdos de pesquisa é essencial nos colocarmos em um lugar honesto de entender se estamos trazendo insumos que são genuinamente úteis naquele momento → Neste cenário, poderá ser necessário trabalhar na perspectiva de buscar uma nova motivação/continuar buscando mais informações para reformular ou acrescentar embasamentos ao estudo, para trazer de volta o time para olhar para aquele achado/insights e buscar novas soluções, formas de lidar com eles, ou seja, usar a perspectiva como forma de automotivação para coletar novos achados e insights
  • Encontrar equilíbrio entre ser “quem sabe tudo” (ser referência na equipe para trazer as informações), ser acessível e útil para o time, mas ter assertividade para liderar abordagem de pesquisa e trazer a perspectiva da pessoa usuária, agindo de forma mais persuasiva para que as pessoas absorvam os itens
  • Maturidade de perspectiva pode ser diferente entre as pessoas de uma equipe. Algumas pessoas podem não estar tão abertas a entender a fundo determinadas necessidades das pessoas usuárias em um dado momento, mas é muito importante que a pessoa pesquisadora utilize skills de persuasão para começar a introduzir determinados pontos para a equipe.

Colaboração e trabalho em equipe

  • Existem alguns times onde a pessoa de pesquisa trabalha muito sozinha. O ideal é que, mesmo neste contexto, a pessoa pesquisadora encontre maneiras de estabelecer ambientes colaborativos com os times.
  • Compartilhar com o time os planos de pesquisa, o que está sendo feito e como está sendo feito pode facilitar a colaboração de outras pessoas em etapas de pesquisa.
  • Contar sobre as vivências da pesquisa pode trazer interesse de colaboração não apenas de outras pessoas do time de design, mas da equipe como um todo, o que enriquece muito qualquer processo (olhar além da squad, tribo, departamento)
  • Construir pontes com outras equipes: entender o que pode ser compartilhado entre equipes, para que todos os estudos fiquem mais completos, dados possam ser triangulados afim de ter uma pesquisa com mais dados para análise e por fim, mais completa e robusta.
  • Isso apóia muito na comunicação entre a empresa
  • Exemplos: Triangular pesquisa com escutas de canais de atendimento, SAC, de mídia social. Isto pode ser feito no processo de planejamento ou desk research, antes mesmo de iniciar a pesquisa.

Comunicação e persuasão

  • A pesquisa e a síntese da pesquisa são importantes quando são úteis e acionáveis. (Deve ser acessada e os dados coletados devem ser utilizados para trabalhar)
  • É essencial ter boas skills de comunicação e persuasão para compartilhar com pessoas do time as descobertas, os insights e oportunidades de uma pesquisa e fazer com que o time se conecte com as descobertas de pesquisa
  • Ninguém melhor que a pessoa pesquisadora para contar a história
  • Saber como comunicar para que as pessoas absorvam os resultados dos estudos e dêem continuidade em ações a partir das descobertas de pesquisa
  • Contar descobertas de forma que traga entusiasmo para quem está trabalhando, para que as pessoas queiram ouvir e colaborar
  • A persuasão fornece apoio para tornar a narrativa mais embasada: trazer dados, vídeos, falas das pessoas, fotos para apoiar a conexão entre o ouvinte e a pesquisa.

Curiosidade e criatividade

  • Curiosidade é chave para a pessoa pesquisadora
  • Em determinadas situações, é preciso explorar mais e aprofundar mais (ou seja, ser uma pessoa curiosa)
  • Permitir sua curiosidade para imergir na problemática/tema da pesquisa para que todas as possibilidades possam ser trazidas à tona
  • Usar a criatividade para compartilhar os aprendizados
  • A curiosidade não é útil apenas no momento de pesquisa, mas também no momento de entender com o time o que precisam descobrir
  • A criatividade, por sua vez, pode apoiar muito na forma que a pesquisa será estruturada, na forma de construir as perguntas, na escolha de metodologias, etc.

Inteligência emocional

Lado emocional do cérebro envia estímulos/funciona mais rapidamente que o lado racional, ou seja, agimos mais rapidamente na emoção enquanto a razão ainda está processando/analisando um fato

  • É uma das habilidades mais importantes, pois denotam resiliência, pessoas que estabeleçam bons ambientes de trabalho, espaços de confiança com o time.
  • É nas reações que vêm nosso lado emocional com nossas vivências e crenças.
  • Conhecer, gerenciar e controlar as próprias emoções → reconhecer quais são os gatilhos que acionam essas emoções e quando acionadas, quais são as reações? são reações positivas ou negativas? → Entender o que pode ser feito para mudar estes gatilhos
  • Automotivação → para que se busque sempre o lado positivo, o que aprendemos com cada situação.

Como desenvolver habilidades interpessoais

  • Processos de autoconhecimento, mapeamento das emoções e das respectivas reações (raiva, palpitação, etc) → reconhecer emoções, gatilhos e entender como lidar com elas
  • Estabelecer prática de troca: feedback, ouvir o que os outros percebem de mim, compartilhar o que percebemos das outras pessoas
  • Gestão das habilidades
  • Ter abertura para novos aprendizados, novos desafios e habilidades para desaprender coisas.

E aí, curtiu?

A Experiência Observe e a comunidade UX em Casa se juntaram em uma iniciativa para tornar mais acessível o conteúdo da conferência brasileira de pesquisa de experiência. Iniciamos uma série de artigos que resumem cada apresentação da Observe 2021onde você poderá rever os principais pontos discutidos durante as palestras, pilulas e paineis, além de conferir uma curadoria de materiais em alguns artigos para quem quiser se aprofundar um pouco mais nos assuntos. Confira os resumos de todas as apresentações da Observe 2021 aqui no nosso Medium.

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Comunidade e grupo de estudos para quem está começando agora na área, com intuito de democratizar o conhecimento em UX.