Tales Marques
experimentales
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4 min readSep 3, 2017

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#02, Tribalistas, “Tribalistas”(2017)

A MPB manteve-se como sucesso nas paradas brasileiras durante boa parte do século XX, no entanto com a popularização do rock nos anos 80, ela acabou perdendo os seus primeiros lugares entre os sucessos aos poucos. Com a chegada da década de 90, passou a ocorrer uma influência muito maior da música Pop americana nos sons de maior sucesso comercial da época, mesmo com os artistas de estilos já consolidados, como o rock.

No entanto, existe um acontecimento em especial que fez a MPB retomar sua participação maior entre os sucessos comerciais no Brasil, o lançamento de Tribalistas (2002). O grupo, formado por um ex-membro de uma das bandas mais influentes do rock brasileiro oitentista, Arnaldo Antunes, um ex-vocalista e percussionista do grupo de axé Timbalada, Carlinhos Brown, e uma influente cantora da MPB, Marisa Monte, teve na época uma recepção morna.

Variando entre críticas extremamente favoráveis e críticas que pontuavam falhas na mensagem passada pelos artistas, entrou em destaque a produção musical do álbum.

Tribalistas, “Tribalistas” (2002)

O disco trouxe entre suas faixas diversos exemplos que facilmente se encaixavam como músicas pop, mas com um caráter muito próximo da música popular brasileira. Tratando sobre a liberação sexual, amor, fora sons com uma temática mais infantil, e até a isenção a quais nos submetemos, sempre com letras providas de beleza e bastante grudentas. Além de ter um instrumental sempre leve, deixando espaço para a instrumentação vocal, com sobreposições muito bem colocadas.

Fonte: Wikipedia

A produção, que soube utilizar as três potencias presentes nos vocais, deu espaço para que, cada um a sua maneira, os artistas pudessem brilhar e os arranjos todos respeitam a força dos mesmos. Tudo isso levou esse disco a alcançar também um grande sucesso comercial, alcançando boas colocações nas paradas de sucesso não só no Brasil, como em diversos países da Europa também. O grande sucesso com certeza foi a música “Já Sei Namorar”, que além de alcançar a primeira colocação na parada brasileira, ainda chegou ao segundo em Portugal, e aparece entre os 100 primeiros em vários outros países.

Eis que então, no primeiro semestre desse ano, 15 anos depois do lançamento desse primeiro álbum, os Tribalistas anunciam que estavam voltando a produzir em conjunto novamente. Parecia um bom cenário para o lançamento do disco, a música Pop no Brasil tem demonstrado um aumento esporádico da influência da MPB em seus sucessos. No entanto, talvez esse cenário seja o que tornou esse disco tão decepcionante.

Capa do álbum “Tribalistas” (2017). Fonte: Vá de Cultura

Chegou um momento, durante a audição do álbum em que cochilei durante uma música com um caráter mais lento. Sendo acordado em seguida por outra com uma batida mais rápida, foi nesse momento que eu percebi: Os arranjos vocais estavam tendo uma influencia menor no som, as batidas ganhavam em força do vocal. Uma escolha muito pouco acertada, principalmente levando em conta a grande voz de Marisa Monte, que em contraste a de Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown, trazia um som muito inovador na época do lançamento do primeiro álbum.

O álbum é muito bem produzido, traz músicas muito bem trabalhadas, principalmente no caráter da produção musical, assim como no primeiro disco. No entanto, as escolhas tomadas para a definição do que daria-se destaque na mixagem talvez não tenha sido a ideal. Uma participação maior das vozes, principalmente com a utilização de efeitos no vocal, ainda mais com o tanto de inovação que temos nessa área de produção nos últimos 15 anos.

Vale ressaltar que as batidas eletrônicas também não conversam tanto com o estilo de música que a maioria dos participantes costuma produzir, e isso também leva a um estranhamento. Não só pela falta de costume de ouvir suas vozes com suas batidas, mas por destoar da escrita da música, que parece não fazer muito sentido com esse tipo de produção. No mais, é isso, um ótimo álbum na questão da produção, mas que não parece compreender exatamente como desenvolver suas ideias.

AVALIAÇÃO: Medíocre.

Ps: Que não significa que achei o álbum ruim, apenas que ele atingiu a média absoluta!

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Tales Marques
experimentales

Música, cinema, quadrinhos e café. RP, produtor artístico e propagador de ideias.