#14, The Alan Parsons Project, “Turn of a Friendly Card”

Tales Marques
experimentales
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4 min readSep 14, 2017

A criação de uma banda sempre foi um dos grandes mitos do rock’n’roll. Desde os primórdios do gênero as pessoas tendem a propagar a ideia de que grandes bandas de Rock são formadas por amigos de adolescência e juventude, se juntando e aprendendo a tocar enquanto vivem a vida regada a sexo, drogas e rock’n’roll. Temos diversos exemplos do tipo, dos clássicos Beatles até os contemporâneos Arctic Monkeys, mas se esquecem que mesmo essas bandas tiveram interferências externas trocando seus bateristas.

Eric Wolfson & Alan Parsons nos anos 80. Fonte: Billboard

O grupo “The Alan Parsons Project”, formado por Alan Parsons e Eric Wolfson, tem um início completamente diferenciado desse estereótipo. Ambos se conheceram nos estúdios Abbey Road, onde o primeiro trabalhava com engenharia de som com bandas do calibre de Beatles e Pink Floyd e o segundo trabalhava representando juridicamente a EMI, depois de uma carreira prolífica como pianista de estúdio.

A formação do conjunto se deu por uma junção de coincidências. Alan já começava a se aventurar na área de produção musical tendo gravado com Steve Harley & Cockney Rebel. Wolfson tinha um álbum conceitual sobre a obra de Edgar Allen Poe só esperando a oportunidade de gravar em algum lugar. Graças à aproximação dos dois e desse encontro de ideias surgiu o primeiro álbum da banda, “Tales of Mystery and Imagination”, lançado em 1976.

O grupo levou o nome de Parsons por decisão das duas mentes criativas, que acreditavam que o nome do engenheiro de som do Abbey Road seria muito mais conhecido no meio musical. Outra curiosidade sobre essa época do surgimento do grupo é que Alan recusou uma oferta do Pink Floyd para ser seu engenheiro de som oficial, trabalhando tanto na produção dos discos quanto nas apresentações ao vivo. A recusa em participar aparentava que o músico sabia o que os seus futuros projetos, mais pessoais, poderiam trazer.

O álbum “The Turn of a Friendly Card” é tratado por parte da crítica especializada e por fãs do rock progressivo como a obra que traz o som definitivo do grupo. Seu som é completamente instalado no rock progressivo, mas trazendo diversos elementos externos como o soft rock, o pop e até o Minneapolis sound.

The Alan Parsons Project, “The Turn of a Friendly Card” (1980)

Além disso o som do grupo se apresenta conceitual como em todos os seus lançamentos anteriores, tratando sobre a influência do jogo e o reflexo disso na nossa sociedade. O que não impede que os artistas tratem sobre assuntos como a maneira como nos relacionamos e até como consumimos as coisas. Esse pra mim é a força das bandas de rock progressivo, mesmo adotando quase sempre a pegada conceitual para as suas produções, sempre acabam conseguindo tratar sobre diversos assuntos de importância maior ou menor mas de maneira objetiva e bem construída.

O ponto alto do som do Projeto Alan Parsons é, no entanto, a diversidade existente no seu som. Com quatro vocais principais durante todo o álbum, e com Alan participando muitas vezes em backing vocals, o canto talvez seja o principal destaque desse disco. É incrível como a banda e a sua estética ganham muito com o som graças a essa alternância em seu cargo de cantor, basta ouvir “The Turn of A Friendly Card (Pt. 1)” música-título do álbum e cantada por Chris Rainbow e ouvir “Time” o maior hit do álbum alcançando o Top 15 da Billboard e cantada por Wolfson.

O álbum apresenta uma estrutura muito interessante, com uma leve diferença entre seu lado um e seu lado dois. O primeiro aparece com arranjos mais leves e mais claros, como se representasse uma visão otimista sobre o tema do álbum. Já a segunda parte traz uma atmosfera mais relacionada a escuridão, com temas mais dark colocados principalmente pelos sintetizadores.

Esse álbum é um dos melhores discos do rock progressivo dos anos 70/80, ele soa leve apesar de todo o peso que coloca em seus arranjos. Por isso é um dos discos mais repetíveis lançados pelo gênero em sua época, se colocar em seguida na playlist por duas ou três vezes a imersão do som se complementa muito bem a cada audição. Vale ouvir e reouvir.

AVALIAÇÃO: 9/10

Um disco muito gostoso de ouvir, que inova em diversas partes técnicas e é capaz de desenvolver um conceito muito profundamente. Só não é mais clássico pra banda que o seu disco de maior sucesso “Eye in the Sky”.

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Tales Marques
experimentales

Música, cinema, quadrinhos e café. RP, produtor artístico e propagador de ideias.