#17, TLC, “Crazysexycool”

Tales Marques
experimentales
Published in
3 min readSep 17, 2017

Ontem falamos sobre dois álbuns produzidos quase que por completo por mulheres e diretamente conectados a cultura hip hop. Esses discos de rap com produção de primeira e com essa presença feminina tão forte talvez não fossem realizados hoje em dia se não fosse pelo marco que TLC teve nesse envolvimento das minas com a cultura hip-hop.

O som do grupo misturava era claramente pop mas com uma participação muito clara nos arranjos do R&B, do Soul e, principalmente a partir de “Crazysexcool”, do Hip Hop. Tudo isso combinado com um grande sucesso comercial e de crítica, colaboraram para que o grupo se estabelecesse como um grupo de pop mais com raíz negras e todo formado por mulheres. Num momento em que os grandes sucessos comercias no rap eram ou de cantores brancos com essa pegada mais pop ou rappers negros colocados diretamente dentro da briga do Leste contra o Oeste.

A última apresentação do grupo com “Left-Eye” Fonte: Wetpaint

Apesar de todo o sucesso do grupo as cantoras sempre tiveram problemas para dar 100% do seu potencial nas produções. O disco que resenho hoje inclusive é marcante por ter sido gravado de maneira tão indireta, com as artistas tendo agenda muito apertadas para as gravações. Quem mais sofreu com essa situação na época foi a já falecida Lisa Lopes, conhecida como Left-Eye. Ela vinha passando por um relacionamento abusivo com um jogador da NFL, Andre Rison, e vinha voltando a ter problemas com o álcool.

Lisa apesar de tudo isso se destaca demais com o seu rap que misturava um flow rápido e cheio de técnica com a suavidade do R&B do grupo. Tionne Watkins e Rozonda Thomas acrescentam demais aos arranjos com um estilo puxado para o Soul, remetendo a grupos dos anos 60 como The Supremes, entre outros representantes do estilo propagado pelos Estados Unidos pela antológica gravadora Motown.

O grupo produziu esse disco como segundo produto do acordo entre a LaFace, responsável pela produção, e a Arista Records/BMG. Esse acordo além de dar um alcance muito grande aos seus lançamentos também trouxe um grande nome para a produção-executiva, L.A. Reid, um dos executivos de maior influência nos anos 90.

Além disso, a pegada hip-hop trazida aqui pelo grande Puffy Daddy, deu um tom completamente inovador para o som delas. Tudo isso ajudou o álbum a alcançar o top 5 da Billboard com todos os seus singles, além de alcançar número incríveis para a época chegando a se tornar o álbum mais vendido por todos os grupos femininos na história da música norte-americana.

TLC, “Crazysexycool” (1994)

O sucesso comercial também se refletiu no apoio da crítica, sendo tratado até hoje como um novo clássico pela mídia especializada. O disco inclusive fez parte de listas da Rolling Stone, como um dos 100 Melhore Álbuns dos anos 90 e como um dos 500 Melhores Álbuns de Todos os Tempos, além de ser colocado na lista de novos clássicos do Entertainment Weekly.

Um disco com uma pegada dançante, retratando problemas pessoais e sociais e ainda mantendo o apelo pop enquanto inova com a sincretização do hip-hop, é definitivamente uma obra-prima do R&B. Merece ser ouvido várias e várias vezes, com um destaque aos dois singles de maior sucesso, a ótima Creep e o hit Waterfalls.

--

--

Tales Marques
experimentales

Música, cinema, quadrinhos e café. RP, produtor artístico e propagador de ideias.