Experimendrops #02

Tales Marques
experimentales
Published in
5 min readNov 14, 2020

Depois de mais um mês passado, mantendo a rotina de postagens esporádicas por aqui, trago mais uma vez minha curadoria com o que o que eu tenho de melhor pra indicar a vocês.

Dessa vez, exploro em sua maioria o campo da música com um documentário, uma série de vídeos para o YouTube e o disco que eu considerei o melhor do ano até agora. Ah, e pra encerrar eu também trago um livro que foge um tanto da temática musical, mas sem deixar de ter certa relação.

O documentário “Uma noite em 67" completo no YouTube

Uma noite em 67

Primeiramente, vamos falar desse documentário que retrata talvez a noite mais importante da música popular brasileira no século passado. No dia 21 de Outubro de 1967, no que é hoje o Teatro Renault em São Paulo, aconteceu o Festival da Música Popular Brasileira da TV Record.

Esse evento mudou o curso da música no Brasil e o documentário explora cada nuance do tornado musical que foi esse Festival, por meio de depoimentos dos principais nomes do festival que iam da organização como o realizador Solano Ribeiro, o crítico e jurado Sérgio Cabral (pai do condenado governador do Rio) e de Zuza Homem de Mello, falecido no início deste mês de outubro até grandes nomes da música popular brasileira como o MPB4, Caetano Veloso e Chico Buarque.

O documentário traz as grandes histórias dessa noite que ficou conhecida por mudar a história da MPB. Do violão quebrado de Sérgio Ricardo, passando pelas vaias à Roberto Carlos e chegando ao marco inicial da Tropicália com a interpretação de Gilberto Gil e Os Mutantes da maravilhosa canção “Domingo no Parque”.

Ainda mais incrível é entender o furor causado por Caetano e Gil que — indo contra a terrível Marcha contra a Guitarra Elétrica e seu olhar extremamente conservador sobre a MPB — levaram duas bandas de rock ao festival.

O gênero que começava a ganhar espaço no Brasil amedrontava grandes nomes da música brasileira que diziam temer pela tradição cultural brasileira. Uma grande balela que foi colocada terra abaixo com a Tropicália que assimilava elementos da cultura pop norte americana em uma manifestação claramente brasileira.

Foto de divulgação do álbum Women In Music, pt. 3

HAIM — Women In Music, pt.3

Alana, Danielle e Este Haim são o que há de melhor na música atual. Um trio de irmãs, que traz em seu som um rock calcado em diversos outros gêneros como R&B, Folk e música eletrônica.

Depois de dois discos que abriram portas e colocaram o grupo como um dos mais influentes grupos musicais de sua época. O debute “Days Are Gone” é um album que depende muito de seus ótimos singles “The Wire”, “Falling” e “Forever”.

Já o segundo disco “Something to Tell You” demonstra um claro amadurecimento do grupo, com a produção do ótimo Ariel Rechtshaid — produtor que trabalhou com nomes como Adele, Beyoncé e Vampire Weekend. STTY tem muito mais corpo e profundidade em sua música, fugindo do padrão soft rock radiofônico do primeiro disco.

Já Women in Music, pt. III demonstra como Alana, Danielle e Este parecem entender muito melhor tudo o que são capaz de entregar. Os arranjos soam muito mais inventivos, incorporando elementos importantes para dar corpo a suas canções como o saxofone, que ressoa por todo álbum. As letras trazem contemplações e reflexões que entram em nossa cabeça graça aos coros muito bem encaixadas das três irmãs.

Além da audição do disco completo, também sugiro que vocês assistam a ótima live que o grupo lançou em seu YouTube ainda no início desta interminável pandemia.

PS: Vale ficar de olho em Alana, que vem sendo tratada como a nova musa do diretor e assíduo colaborador do grupo Paul Thomas Anderson (Magnolia, Sangue Negro). Ela irá protagonizar o próximo filme do diretor ao lado de Bradley Cooper e Benny Safdie.

Episódio da série “Under the Influences” da Pitchfork com o baixista Thundercat

Under The Influences

Na última sugestão musical que trouxe para essa curadoria, trago um programa especial do canal do YouTube da mídia que talvez seja a mais influente do universo musical nos dias atuais, a Pitchfork.

Em Under The Influences, a publicação americana traz grandes nomes da música atual como Sean Paul, Thundercat, Kevin Parker e, mais recentemente, o assíduo colaborador de Lady Gaga, BURNS.

Todos os episódios são focados em determinada influência que esses artistas sofreram, indo dos grooves de baixos preferidos de Thundercat até as músicas de Dancehall preferidas de Sean Paul.

Vale muito assistir para conhecer um pouco mais as influências e referências destes que são alguns dos grandes nomes da música nos dias de hoje. Acho importante pontuar que não existe criação sem referência, nada se cria tudo se copia, everything is a remix. Se você souber compreender o que te influencia, você será capaz de criar algo completamente novo.

Capa do livro “Easy RIders, Raging Bulls” do autor Peter Biskind

Easy Riders, Raging Bulls: Como a Geração Sexo, Drogas e Rock’n’roll mudou Hollywood.

No mesmo período em que a guitarra elétrica tomava os palcos do Teatro Renault e mudava a música popular brasileira, Hollywood passava por sua própria revolução. Um momento que também mudaria para sempre essa indústria cultural.

O livro de Peter Biskind retrata justamente este período, quando uma crise financeira e criativa forçou os grandes estúdios comandados a mãos de ferro pelos mesmos executivos há 20, 30 anos, abrirem mão de suas convicções e dar espaço para uma nova e sedenta geração de diretores, atores, roteiristas e produtores.

Biskind narra grandes fatos históricos que vão da produção de filmes como Bonnie & Clyde e Easy Rider até o declínio físico e mental dessa nova geração de filmmakers em obras como Apocalypse Now e O Portão do Paraíso.

O livro traz grandes personagens que mudaram o jeito de se fazer e consumir filmes, refletindo a geração que mudou o mundo com manifestações políticas e culturais como a Primavera de Praga, as manifestações de Maio de 68 na França e a era de ouro dos festivais. Os nomes vão de Scorsese, Coppola, Spielberg e Lucas até Hopper, Beatty e Nicholson.

A obra também foi adaptada para um documentário com a direção do ótimo Kenneth Bowser e com depoimentos de todos os grandes nomes presentes nesta renovação da indústria cinematográfica.

--

--

Tales Marques
experimentales

Música, cinema, quadrinhos e café. RP, produtor artístico e propagador de ideias.