Ave, César!

A história visível nas pedras de Roma

Não viajou de verdade quem não visitou a Cidade Eterna

Émerson Hernandez
Exploradores
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7 min readJan 6, 2020

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A internet está cheia de citações sobre a capital italiana. De como você tem de ir, quais os lugares que tem de visitar. Muitas vezes, parece exagero. Até que você está lá e vive várias situações que te fazem entender de verdade expressões como "museu a céu aberto" ou "capital do mundo". Por isso, sempre que converso com alguém, a pergunta mais difícil de responder é: "Émerson, quanto tempo você acha que eu preciso para conhecer bem a cidade?".

Há tanta coisa para ver e fazer que a dificuldade em responder essa pergunta se reflete na hora de escolher sobre o que escrever. Assim sendo, vou ser obrigado a resumir alguns pontos que acho dignos de serem compartilhados. E no melhor estilo de lista com "as melhores músicas da década de 90", certamente alguém vai dizer que faltou falar sobre aquele super ponto turístico ou restaurante. Vai faltar mesmo.

Para ajudar a executar a viagem, mapeamos os pontos de interesse. Em verde, o que conseguimos visitar, em vermelho ou amarelo (lugares para comer), não. Em cinza, monumentos que estavam fechados quando fomos.

Os pontos turísticos mais populares aparecem em toda a lista de visitas que você encontra em guias físicos ou digitais. Eles são extremamente movimentados e, por causa disso, a dica principal é: planeje-os com antecedência e sempre que possível compre os ingressos online. O site oficial (Coop Culture) apresenta várias opções e você pode acomodar a visita à sua agenda. Alguns aprendizados que tivemos que valem a lembrança:

  • Roma no verão é muito quente, e vários dos sítios arqueológicos são a céu aberto.
  • Há alguns lugares com limite de pessoas. O Coliseu é um deles. Então mesmo com o agendamento, você pode precisar esperar mais tempo para poder entrar, pela lotação do local ter sido atingida.
À esquerda: o Arco de Constatino com o Coliseu ao fundo. À direita, a Fontana de Trevi.

Não é nem um pouco a toa que eles são super populares. Eles são exuberantes. Roma é certamente o lugar com mais coisa (feita pelo ser humano) espetacular por metro quadrado que eu vi na vida. Claro que um pouco de estudo sobre a história do lugar vai te ajudar a entender um pouco do que você está vivenciando. E você também vai precisar de imaginação, pois vários dos materiais originais, como mármore, acabaram sendo saqueados em tempos de guerra e reaproveitados em outros lugares da cidade, ou mesmo fora.

Foto panorâmica do Fórum Romano, a partir do Monte Palatino. Se prestar atenção, dá pra ver as pessoas e com isso ter um pouco de noção das dimensões.

Para você que quer ser o diferentão que vai a lugares fora do comum, ou que quer fugir das grandes aglomerações, há sim alguns lugares em Roma que são menos conhecidos e que valem a visita. Um deles é o Monte Aventino. Encaminhe-se para lá no final da tarde, visite Il Buco Della Serratura (O Buraco da Fechadura) e depois se encaminhe para o Giardino degli Aranci (Jardim das Laranjeiras).

A fechadura mais popular de Roma se encontra na entrada da Villa del Priorato dei Cavalieri di Malta e como a entrada é bastante restrita, normalmente está fechada. Não vai ser difícil de achar, pois uma pequena fila vai estar na frente. Na sua vez, abaixe-se e contemple uma bela vista de um corredor verde que direciona teu olhar até a Basílica de São Pedro.

Depois desse momento peculiar, vá caminhando até o Giardino. De casais a grupos fazendo piquenique, o espaço atrai muita gente atrás de um dos melhores espaços para admirar o pôr-do-sol da cidade. O jardim é cercado e ao ouvir o apito, você vai saber que está sendo intimado a sair dali, pelo cuidador.

Com o dia encerrado, desça até as margens do Rio Tibre e atravesse-o em direção a região do Trastevere. Por lá, divirta-se jantando ou curtindo um happy em uma das várias opções de pubs e restaurantes da região. Para quem gosta de cerveja artesanal, recomendo o Ma Che Siete Venuti a Fà.

À esquerda: o buraco da fechadura. Ao centro: a vista da Basílica de São Pedro. À Direita, o jardim das laranjeiras.

Há duas coisas que existem aos milhares em Roma: fontes e gelaterias. Aproveite ambas, sem moderação. Principalmente nos dias quentes de verão. Tenha uma garrafa ou cantil a tiracolo e desfrute das várias fontes que se espalham por toda a cidade. E aceite que as caminhadas vão gastar as calorias dos gelatos. Por ter provado vários, agora entendo que quanto menos verde, mais interessante é o de pistache.

As refeições na Itália seguem o ritual de ter primeiro e segundo prato. Não se preocupe em pedir um de cada nos restaurantes. É totalmente aceitável escolher apenas entre um dos dois, sem passar por mal-educado. Na grande maioria dos lugares vai ser comida o suficiente.

Outra coisa extremamente popular na península itálica é o hábito de tomar café. Talvez você até já saiba disso, mas me impressionou o fato da bebida ser realmente degustada a qualquer momento, inclusive na madrugada. O que você talvez precise saber é que por lá eles levam esse assunto muito a sério. Então por isso, a bebida é feita com água. Leite é apenas para a primeira refeição do dia e você provavelmente não vai encontrar um cappuccino depois das dez da manhã.

Mas acima de todas as coisas, a minha maior surpresa foi a presença massiva de alcachofra nas receitas. Ela está em todos os lugares, sejam paninis, pizzas ou massas. Por essa onipresença, existe uma receita conhecida como “carciofi alla romana” ou "carciofi alla giudia". Por esse segundo nome, já deu pra entender que pra degustá-la, você deve ir ao bairro judeu. Peça e só se arrependa se pedir menos do que uma por pessoa.

Em sentido horário: ponte sorbe o Rio Tibre, dois ângulos da Piazza del Popolo e detalhe da Coluna de Trajano.

Muitos com quem falo não ficaram tão apaixonados pela cidade quanto eu esperava. Conversando um pouco mais com essa pessoas, eu estabeleci uma hipótese (e espero a ajuda de vocês para confirmá-la ou refutá-la). O lugar onde as pessoas se hospedam na cidade muda fundamentalmente a experiência.

Roma é uma grande cidade, com todos os ônus e bônus disso. E muitas vezes, parece menos dentro do que o imaginário popular nos define com a expressão “cidade europeia”. Assim, minha sugestão é: escolha algum dos rioni (divisão administrativa da cidade) cujos números sejam de V a IX, XI, XIV ou XXII. Penso que nesses lugares, a estrutura e a vizinhança sejam mais interessantes.

Por exemplo, o hotel que fiquei era simples, funcional e super recomendo, localizado no rione XXII, perto do Castel Sant’Angelo. A propósito, está sinalizado em preto no mapa do início do post.

Parte de Roma e do Vaticano, a partir do Castel Sant’Angelo

Vale lembrar, claro, que quanto mais central você estiver em Roma, mais difícil vai ser se locomover de carro. Nada de outro mundo, mas pode ser importante planejar a distância que você quer andar puxando a sua mala.

E por falar em transporte, prepare-se para algumas coisas: há metrô, mas não necessariamente para todos os lugares. Cavar em Roma é um problema e por isso as linhas são bem modestas em comparação a outras cidades do mesmo porte no continente. Ônibus existem, mas algumas linhas parecem meio toscas nos seus itinerários. Então com isso, muitas vezes você vai se deparar com a opção de caminhar para levar exatamente o mesmo tempo de trajeto. Logo, prepare-se para andar bastante.

Um serviço que não existe por lá é aplicativo de mobilidade, então a opção de transporte seletivo é táxi. Mas preste bastante atenção e converse sobre preços e taxas antes de entrar, para não haver surpresas. Nas poucas vezes que usamos, sempre tivemos alguma diferença entre o que deveria ser e o que foi cobrado.

Detalhe noturno da Fontana dei Quatro Fiumi, na Piazza Navona.

Talvez você tenha notado que eu não falei muito sobre a parte sacra da cidade. É outra parte imperdível da visita e precisa ser abordada. Realmente, Roma não foi feita em um dia. Então para não deixar esse artigo mais comprido do que já está, paramos por aqui e fica esse assunto para o próximo texto!

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Agilista. Professor. Viajeiro. Colorado. Cantor.