El Cruce de Los Andes 2018

Renata Alchorne
Exploradores
Published in
8 min readDec 17, 2018

Esta postagem veio bem a calhar! Acabei de chegar da minha maior aventura esportiva até hoje: a corrida de montanhas El Cruce de Los Andes. O objetivo dessa prova, que realizou a sua 17a edição, é cruzar os Andes do Chile à Argentina, percorrendo uma distância de aproximadamente 100 km, durante três dias.

Uma vez que as cordilheiras possuem vários trechos de contato entre os dois países, a cada edição da prova, um novo trecho é pensado pela organização! Ou seja, os 100km a serem percorridos irão mostrar um trajeto totalmente diferente, com montanhas, paisagens, dificuldades e desafios novos para os participantes. Isso é um grande diferencial da prova.

A prova foi inspirada na Travessia dos Andes, um dos feitos mais importantes nas guerras de independência da Argentina e do Chile, em que um exército de soldados argentinos e exilados chilenos invadiu o Chile, levando à libertação da região do domínio espanhol.

Percurso do 1o dia da prova.

Mas, como fui parar no Chile para esta prova? Bom, sou corredora apaixonada e fazer turismo esportivo é uma grande oportunidade para mim, duas coisas que combinam perfeitamente. Na minha trajetória de corridas, sempre fui mais de correr no asfalto, mas após escutar alguns depoimentos de pessoas que fizeram essa prova e relataram o quão fascinante e desafiadora ela é, surgiu o “por que não?”, em meados de agosto de 2017, algo que parecia tão distante! No entanto, essa antecedência é bem importante, pois envolve planejamento de férias (pelo menos 6 dias, se for apenas correr), financeiro (inscrição, hotel, vôos, equipamentos para acampar, acessórios obrigatórios para corrida no frio e na montanha) e a preparação física (já que não tinha experiência com montanha) e emocional (provas de trilhas e montanhas tendem a levar um tempo bem acima das de asfalto). Nosso professor de corrida topou e iniciamos a preparação!

A base da prova este ano foi Pucon, no Chile, cidade turística pelas suas montanhas, rafting, termas naturais nas suas redondezas e o vulcão Villarica (em atividade) tendo sido sua última erupção em 2015.

Vulcão Villarica visto de Pucon.

Assim que abriram as inscrições em 2017, optamos em comprar um pacote da Agência de Turismo Esportivo Maratonas no Mundo, eles reservam as inscrições e o hotel, em Pucon. Normalmente, eu e Marcelo fazemos tudo “avulso”, mas por ser um evento bem conhecido, ficamos com receio de perder alguma data ou hotel, pela concorrência da época, além da Agência ter bastante experiência com a logística deste tipo de prova.

Para chegar ao destino da prova, a saída foi de Porto Alegre -> Guarulhos -> Santiago -> Temuco. Desta última, o pacote fornecia um transfer de, aproximadamente, 1h20 até Pucon.

A chegada foi na quarta-feira à noite e, na quinta pela manhã, fomos fazer a acreditação, pegar os kits e entrar no clima da prova na cidade, que é uma graça! Muitas opções de passeios e alimentação, com restaurantes e cafés. Nesta época, temos dias longos (até umas 21h), ensolarados e quentes. Depois chega um friozinho com vento à noite, causando uma variação considerável na amplitude térmica.

Acreditação dos atletas no espaço de eventos do Gran Hotel Pucon.

A logística da corrida é mais ou menos a seguinte: os 100km são percorridos em três dias (7, 8 e 9 de dezembro). Existe uma distância pré-definida para cada dia, onde existe um tempo limite para completar o trecho (normalmente, todos os corredores concluem, a não ser que se machuquem e precisem abandonar a prova). A organização exige um conjunto de itens obrigatórios para levar na mochila, de forma a garantir a segurança dos atletas quanto a baixas temperaturas no alto das montanhas, possíveis ventos, alimentação, hidratação, sinalização, entre outros. Ao final do trecho do dia, chegamos a um acampamento com uma estrutura pronta de cabanas, alimentação, um lago gélido para a gente se banhar e recuperar para o dia seguinte.

Trecho de subida no 1o dia.

O 1o dia foi de maior altimetria e com gelo, foram quase 28km percorridos em mais de 6h de duração. A chegada foi ensolarada e me senti bem, sem nenhum desconforto.

Chegada do trecho do dia 7/dez.

Durante a prova, existe um plano psicológico, pois sabemos mais ou menos o trajeto, a altimetria, treinamos para isso, mas é preciso pensar que devemos estar inteiros para encarar os 31km do dia 2. O acampamento tem um clima gostoso, com todos comentando como foram no dia e compartilhando as experiências; encontramos alguns conhecidos “virtuais”.

Acampamento 1o dia com vista para o Villarica.

Neste dia 7, conseguimos aproveitar o lago, pois estava quente o dia. Aquela água foi uma ótima terapia para recuperação dos músculos para o próximo dia. A propósito: não é permitido utilizar nenhum produto de higiene, como xampu, sabonete, etc, para não alterar/contaminar o ambiente natural do lugar.

Lago no acampamento 7/dez.

O dia 8/dez foi o mais difícil para mim, apesar da altimetria menor, tinha chovido na noite anterior e estava nublado. Foi um dia com bastante vento e frio na montanha, chegando a -5 graus no topo. Rolou um medo de cair pela montanha e depois soubemos que duas pessoas pediram resgate naquele trecho. Depois de toda a descida, consegui me recompor e curtir o restante da corrida, chegando bem ao final.

Chegada do dia 8/dez.

O segundo trecho nos levava para um outro acampamento, de onde partiríamos para o 3o dia de prova para retornar a Pucon, cidade base da prova.

Fogo de chão para alimentar os corredores.

Falando um pouco da nossa alimentação, a organização da prova preparava, todos os dias, um cardápio de almoço e jantar com massa e molhos (carboidrato), carne e frango, preparados no fogo de chão (proteínas), salada, pães e frutas como sobremesa. Os atletas tinham direito a uma quantidade de refrigerante e água por dia, incluídos no pacote. Caso quisesse cerveja ou mais bebidas, tínhamos uma pulseira com crédito para irmos comprando durante a prova.

Pulseira de identificação do atleta e créditos para compras no acampamento.

No café da manhã, o cardápio era pão na chapa com manteiga/doce de leite/goiabada, café, chá, iogurte e granola. Podíamos abastecer nossas garrafas com água para levar para o dia. Para o acampamento, levamos nossos talheres e copos, os pratos eram fornecidos pela organização. Existia uma estrutura de banheiros para nos dar suporte, impressionantemente limpos o tempo inteiro.

A alimentação durante o trajeto do dia era por nossa conta (planejávamos já o que levar, até porque treinamos com base naquela suplementação). Mas, havia alguns pontos chamados “Oásis”, onde podíamos encontrar salgados, frutas, isotônicos, coca cola, balas, enfim, era um paraíso mesmo!

Almoço do dia 8/dez.

A largada do 3o dia deu um ar de nostalgia, pois passou tão rápido! Estava sendo um momento esperado há mais de 1 ano, com tantos treinos, foco, altos e baixos, até chegar ali.

Despedida para largada do 3o e último dia.

O 3o dia foram 34km de um trajeto muito delicado e cheio de descidas, o que favorecia o último dia, pois podia dar o máximo de mim, já que não queria saber do dia de amanhã :P As descidas precisam ser técnicas, senão, são piores do que subidas; exigem bastante dos quadríceps (nossas coxas) e panturrilhas, além de joelhos. O trajeto foi um espetáculo, passando por rochas, lindas flores amarelas e riachos.

Super visual no dia 9/dez.

Próximo a Pucon, pegamos um trecho de estrada de asfalto que me deu um “up”, pois os carros passavam e buzinavam com as pessoas gritando “dá-le!”. Vocês não têm noção do valor que isso tem para um corredor, é muito motivador!

A chegada foi pela “praia” que dava acesso ao Gran Hotel Pucon, o hotel oficial da prova (aquele no qual pegamos os kits e fizemos a acreditação).

Chegando pela praia ao final da prova.

O trechinho final, pela areia da praia, são uns 800m. Nesse trecho, estava bem exausta, mas não podia caminhar, só faltava aquilo e todos estavam ali torcendo e vibrando!

Ao chegarmos, a moça orienta que, após passar pelo pórtico, onde é fechado o tempo oficial, subiríamos uma rampa para a foto oficial de chegada.

Nesta prova, existe um tipo de inscrição em dupla (qualquer tipo de dupla), onde os dois devem correr juntos e passar por todos os pontos de marcação juntos. Caso um desista, ou se machuque e não possa continuar a prova, ambos são desclassificados. No nosso caso, eu e Marcelo optamos pela inscrição individual, pois caso ocorresse um imprevisto, o outro poderia continuar e aproveitar a prova. De qualquer forma, a gente correu lado a lado nos dias de prova e nosso desafio era continuarmos casados :P Missão cumprida!

Foto oficial da chegada.

Depois que eu baixei essa foto que percebi que a orientação da moça era para passar exatamente pelo lado esquerdo, pois ali, já tinham detectado meu chip e meu nome apareceria no alto, uau!

Medalha El Cruce 2018!

Depois da foto oficial, hora de pegar a medalha.

As medalhas possuem o nome gravado do atleta :D

Ao final da prova, fizemos uma análise rápida daquela trajetória: o El Cruce não é para super heróis, ele é para pessoas extremamente comuns, como eu. Só uma questão de treino e preparação, a magia desta prova envolve a sua dificuldade, mas acredito que envolva muito também do imprevisível do trajeto, do clima, de todos os participantes estarem ali em um acampamento, desfrutando das mesmas condições, comendo do mesmo alimento, sem diferenças, condições melhores ou piores.

Eu agradeço MUITO ao companheirismo de Marcelo que, mesmo correndo mais rápido do que eu, decidiu fazer todo o trajeto no meu ritmo, compartilhou meus medos, principalmente no dia 8/dez, no qual enfrentamos muita ventania e frio no alto da montanha. E agradeço demais ao meu Coach Lucas Xavier, da Winners Assessoria Esportiva, por ter me preparado para esse super desafio, ter me apoiado nos momentos difíceis, adaptar treino nas semanas em que estive doente, com muito trabalho, desmotivada, enfim!

Já deu saudades! E falta ainda contar um monte de coisas de Pucon, parte 2 dessas férias, em breve!

Obrigada por poder compartilhar um pouco dessa aventura com vocês.

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