O que aprendi viajando sozinha

Munike Ávila
Exploradores
Published in
6 min readDec 3, 2017

A primeira vez que viajei sozinha eu tinha meus queridos 18 anos. Demorei muito a entender porque tanta gente me olhava espantada e dizia que isso era um ato de coragem.

Tinha amigos que viajavam e voltavam cheios de história, mas quando era eu a protagonista a primeira pergunta que ouvia era “mas você foi sozinha?”

Infelizmente a reação é compreensível: tem muito lugar que é perigoso se aventurar como viajante solo (a.k.a. mundo inteiro) mas a gente vai mesmo assim porque viver com medo não te leva a lugar nenhum, literalmente.

Estar só te faz aprender muitas coisas e viajar sozinha não é diferente. Você aprende que é mais forte do que pensava e que há mais coisas boas no mundo do que você imagina. Você também esbarra com mais um monte de mulheres, de vários cantos do planeta, que te fazem ter mais certeza que viajar por aí com sua mochila não é nenhum super poder, mas algo comum e possível.

Muitas amigas me pedem informações, ajuda e conselhos sobre viagens e, pensando nisso, resolvi compartilhar algumas coisas que aprendi nesses anos perambulando, para as mulheres que também querem se aventurar por aí.

Se informe: use a internet a seu favor e se informe antes de pisar no seu próximo destino. Além de informações básicas sobre visto, pesquise em fóruns e/ou fale com mulheres que já exploraram o destino se é seguro, onde é melhor ir, o que evitar, comportamento cultural perante às mulheres, etc.
Alguns foruns: TripAdvisor, Lonely Planet, Boots’n’All, GirlsLOVEtravel.

Hospedagem: Se você, como eu, adora ficar na casa das pessoas, procure casa de mulheres. O couchsurfing te dá a possibilidade de filtrar apenas anfitriãs. O mesmo vale para o airbnb, em caso de quarto ou casa compartilhada. Se você optar por hostel, a maioria oferece quarto apenas para mulheres.

Transporte: em transporte público é recomendável sentar do lado de mulheres ou no corredor. Se você pegar táxi ou uber, se informe sobre estas opções no local. Por exemplo, é sempre recomendável pegar o táxi oficial da cidade ou usar apps de táxi feito para mulheres, como o FemiTaxi. O Uber não funciona da mesma forma em todos os lugares que opera (em Nairóbi, por exemplo, se paga apenas com dinheiro) e em algumas cidades o táxi sai mais em conta.

Conhecendo a região: muitas cidades oferecem um “Free Walking Tour” — uma tour pelos principais pontos a pé e de graça. É legal para conhecer a história por trás das coisas, pessoas locais e outros viajantes. Ficar em casa de locais te dá o privilégio de conhecer mais a fundo a cidade, sem contar várias informações úteis que vão te ajudar nesse processo. Hostels também te dão essa abertura de se juntar com outros viajantes para explorar o lugar juntos. E enquanto você conhece a cidade, pode descobrir espaços que mulheres fizeram história, com esse app. Massa, né?

Instinto: vai parecer conselho de vó, mas nossos instintos podem nos salvar de roubadas ou nos colocar em boas histórias que iremos lembrar pro resto da vida. Crescer no Brasil já te dá uma aula básica de saber quando confiar ou pular fora. Em Kiev eu já tive que correr de uns caras no meio da tarde e em Nairóbi eu tive que saltar de um ônibus em movimento. Mas foi também me perdendo pelo centro da cidade que um cara me guiou até o ponto que eu queria, enquanto a gente conversava sobre a vida, o universo e tudo mais. Se chamava Lawrence, queniano, trabalhava em uma agência que organizava safaris. Foi assim, por acaso, que consegui viver uma das experiências mais incríveis antes de ir embora do Quênia. Aliás, sempre recomendo a agência pros amigos.

Suíço, Etíope, Indiano, Americana, Brasileira, Israelense, Tcheco e Queniano. Nos conhecemos dentro de uma van indo para a Savana Africana.

Comunicação: inglês básico nem sempre significa que você está tranquilo/favorável. Em vários lugares, inclusive capitais, muitas pessoas só falam o idioma local. Nem por isso tudo está perdido: elas vão te ajudar quando você precisar, inclusive tentarão se comunicar com você da melhor maneira possível. Se você está afim de passar um longo período, é legal aprender o básico (escrevi sobre aqui).

Sororidade: a primeira vez que fiz um mochilão foi em companhia de minha mãe, somente nós e duas mochilas. Ela me ensinou a viajar sem medo e que nem tudo precisa ser planejado tim tim por tim tim. Não fez a reserva de hospedagem? A gente bate na porta dos lugares; Não deu pra ir onde queria? Muda a rota; Tá perdida? Pergunta. Foi nessa primeira experiência que entendi que mulheres sempre estarão dispostas a te ajudar seja com um conselho, uma mão amiga ou apenas um olhar; sem julgamentos e estereótipos. Mesmo sozinha você nunca estará, de fato, só.

Noite no trem com a melhor companheira de mochilão: Mami.

O que levar?

Essa história de que mulher só anda de mala e homem de mochila tá pra lá de ultrapassada. Já são quase 10 anos que viajo apenas com mochila, e isso inclui mudanças a longo prazo. Não existe regra sobre o que você deve ou não levar, mas saber algumas coisas podem te ajudar na hora de arrumar a mochila/mala: qual o propósito da sua viagem? Quanto tempo você vai ficar fora? Qual o clima do local? Qual o tipo de acomodação? Pense também nos imprevistos: sua mala pode se perder por aí ou você mesma pode perder o voo. Dica amiga: sempre leve uma calcinha na bolsa de mão.

Mochilas preparadas para a maior aventura da minha vida: destino desconhecido sem data de retorno.

Absorventes: Se você, como eu, ainda é adepta ao famoso absorvente descartável (estou em transição e aqui tem várias outras alternativas) prepare-se para viver na pele o que seu pai já deve ter passado quando você pediu pra ele te comprar absorventes. Isso mesmo: você vai olhar por toda a prateleira e não vai encontrar o que quer, pelo simples fato de que essas coisas mudam de país para país. Em compensação pode ser que você encontre algo até melhor do que era acostumada (aconteceu comigo na Ucrânia).

Além disso tem a pílula. Quando mudava de país eu sempre levava as caixas suficientes pro tempo que eu ia ficar por dois motivos simples: é muito provável que você não ache a fórmula exata ou que você precise de uma receita pra isso (não esqueça que é importante comunicar seu médico sobre qualquer mudança). Se você está de mudança definitiva, procure se informar sobre como funciona no país.

Cabelo: se você tá afim de fazer uma longa viagem, prepare sua tesoura e descubra novas habilidades cortando seu próprio cabelo. Pode ser que não saia como você planejou, mas a experiência é divertida. Mais importante que o corte, porém, é o cuidado. A qualidade da água, assim como dos produtos, muda de país para país. Por exemplo, a água na Itália contém muito calcário, deixando o cabelo e pele secos e, em muitas mulheres, acelera a queda dos fios. Aí vale dar uma olhada em fóruns, falar com mulheres locais ou seu próprio cabeleireiro (se você tiver um). Minha máquina está sempre a disposição, just in case.

Minha próxima viagem já tem data, destino e companhia: uma amiga. Porque melhor que viajar sozinha, é ganharmos o mundo juntas!

E aí, vamos?

Mulheres viajantes para se inspirar: Gaia Passarelli, Lívia Aguiar, Laura Lazzarino.

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