Produções Bollywoodianas

Renata Alchorne
Exploradores
Published in
5 min readApr 14, 2018

Quando se fala em Índia, vem à cabeça uma infinidade de cenários, adjetivos, mitos, piadas, costumes e tudo o mais. Taj Mahal, pobreza, desenvolvimento de software, inglês “carregado”, Dalai Lama, Madre Tereza, hinduísmo, Ganesha, Shiva, um dos países mais populosos do mundo e tudo o mais.

O roteiro seria clássico, contemplando a "Gold City" - Jaisalmer, a "Blue City" - Jodhpur e a "Pink City" - Udaipur. Também, entra na conta a "Lake City" - Jaipur, cidade bastante representativa nessa região chamada Rajastão, localizada no Oeste indiano. Não se tem dúvida que Agra seria ponto certo, onde conhecemos uma das maravilhas do mundo antigo, o imponente Taj Mahal. Por tabela, uma passadinha em Nova Délhi, apenas uma hora e meia de Agra, não iria deixar escapar a oportunidade de estar em uma das metrópoles mais caóticas do mundo.

Mas, faltava algo que, não sei porque, acabei enfiando na minha cabeça: Mumbai. Criei um modelo mental desta cidade quando me falaram que era onde tudo de Bollywood acontecia. Poxa! Eu que curto as mega produções bollywodianas, acompanho filmes e clipes musicais, quando eu iria ter essa oportunidade de conhecer de perto esse mundo ímpar? Bom, convenci meu querido marido a passarmos uns diazinhos em Mumbai, diga-se de passagem, uma das maiores cidades da Índia.

Lavagem de roupas em Mumbai

O objetivo era, basicamente, dar umas voltas e visitar o "projac" de Bollywood. Quando estava a caminho, tomei conhecimento de que Bollywood é o mercado de produções de entretenimento, existem empresas que geram esses conteúdos, assim como as emissoras brasileiras de TV, as americanas de filmes hollywoodianos. Bom, foi um ponto esclarecido para mim.

No hotel em que ficamos em Mumbai, pegamos informações sobre como funciona a visitação a esse "projac". É onde se encontram as cidades cenográficas, os sets de gravações. Entramos em contato com um guia que nos explicou que os estúdios da empresa que estávamos interessados em visitar (era tipo o SBT, por isso, mais barata, não era a top, tipo Globo, huahuahuahua), ficava distante do Centro em que nos hospedamos. Logo, a ideia seria ir de carro e lá nos encontraríamos com o guia para ter acesso às instalações e conhecer um pouco mais sobre esse segundo maior mercado de produções cinematográficas do mundo.

Vale dizer que eu e meu marido costumamos fazer, pode-se dizer, 80% dos passeios, deslocamentos, visitações, etc, por conta própria. Nosso estilo é mais de pesquisar e escolher individualmente cada item da viagem, pois acreditamentos que isso nos dá mais flexibilidade. No entanto, na Índia, as coisas funcionam um pouco diferente, principalmente quando se está passando alguns dias de férias, que não desejamos passar perrengues.

O transporte é meio precário. Logo, a mobilidade para lugares mais distantes é carente. As coisas não são tão intuitivas. O trânsito é bastante agitado, gasta-se muito tempo em deslocamento. Adicionando-se o fator do selo "turista" estampado na testa, o que não é difícil, pois as características físicas do povo indiano são marcantes, logo, torna-se fácil identificar estrangeiros. Os turistas acabam sendo muito abordados para fazer passeios, comprar itens dos mais variados ou mesmo são parados para uma foto. Mas, voltando ao tema Bollywood, a volta toda foi para justificar que, se eu realmente quisesse conhecer essa mega produção, iria desembolsar com um traslado e um guia. Nas dependências desses estúdios, só é possível transitar com guia local.

Bom, marcamos o dia, o carro nos pegou no hotel e levamos muito tempo para chegar! Para quem conhece o Rio de Janeiro, foi como se saíssemos da Barra da Tijuca às 18h de uma sexta-feira em direção ao Maracanã, via zona sul.
Mas, férias, quem liga pra isso!? Chegamos! Emoção, expectativa. O guia nos recebeu e explicou brevemente sobre as instalações. Era um complexo considerável. A parte aonde ficavam os estúdios de gravações internas, tinha uns quatro andares. Além disso, a parte externa contava com umas mini cidades cenográficas.

Encenação de um show em uma gravação.

Ele contou que ali tinham cenários de algumas produções diferentes em paralelo. Uma parte era de um filme, outra de novelas e por aí vai. Passamos por uma parte que era a representação de um hospital, depois tinha um palco com umas manequins de gesso, como se fossem dançarinas.

Foi quando o guia nos sinalizou que estava rolando a gravação de um mega filme e que nós poderíamos assistir de perto!

Subimos no andar dos estúdios internos e ficamos no cantinho aguardando as cenas. Nesse meio tempo, o guia nos apresentou uma das protagonistas, uma moça muito bonita, que estava aguardando entrar em ação. Eu me aproximei dela e pedi uma foto.

Depois, iniciaram as gravações e foi bem divertido. Repetiram algumas vezes a cena e depois ainda consegui falar com outra moça, uma coadjuvante, que entrou muda e saiu calada. Mas, foi bem mais simpática!

Voltamos para a parte externa e, dessa vez, o guia nos prometeu que iria falar com o mega astro bollywoodiano que estava aguardando as gravações para tentarmos uma foto com ele. O guia estava cheio de "dedos", estava vendo como se aproximar para abordar o Leonardo DiCaprio indiano. O ator estava conversando descontraídamente com outros colegas de set. Finalmente, o guia chegou nele, timidamente, e falou algo para tirarmos uma foto. Após isso, ele nem se abalou, continuou altos papos e nem tchun pra gente.
Ficamos ali alguns bons minutos e eu fiquei pensando "caramba, o homem nem deu um olhar do tipo, legal, pessoas de fora conhecendo nosso trabalho, nossa cultura." Sei lá, esse foi o meu pensamento... até que enfim, o guia se chegou novamente e Leonardo Indiano DiCaprio se virou e tiramos a bendita foto!

Não rolou "hi", nem "bye". Foi isso, deu. Fiquei passada! Huahuahuahua, pegamos o carro, seguindo o longo caminho caótico de volta ao hotel e eu me perguntando "o que eu fui fazer lá?".

Essa foi a minha passagem cômica por Mumbai, a típica dualidade da expectativa x realidade. Se me perguntam se vale ir a Mumbai, eu digo que, se estiver no seu roteiro, beleza, pode ser que uma voltinha enriqueça sua visão de mundo. No nosso caso, chegamos à Índia via Mumbai. Por sinal, eleito um dos melhores aeroportos do mundo. Mas, se não está, acho que não incluiria, sinceramente.

No entanto, não tiro nada do que vivi lá. Foi, no mínimo, engraçadíssimo.

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