Roadtrip. Destino: Montevidéu

Émerson Hernandez
Exploradores
Published in
8 min readMar 11, 2019
Monumento à Carreta, Montevidéu.

Tem gente que tem uma estação do ano preferida para viajar de carro. Em Porto Alegre parece que o verão é a escolhida pela maior parte da população. Normalmente o destino é algo entre os litorais gaúcho e catarinense. De uns anos para cá, as possibilidades aumentaram ao incluir também destinos na costa do Uruguai.

Verdade seja dita, Punta del Este é bastante popular faz algum tempo. No entanto, outros lugares também começaram aparecer na lista de destinos de brasileiros que viajam por terra. Dos que mais ouço falar, cito Punta del Diablo e o Forte de Santa Tereza.

Mesmo não tão perto da fronteira como os dois locais citados, Montevidéu também é uma possibilidade. Mas para isso se concretizar, você precisa de mais tempo e paciência. A distância entre Porto Alegre e a capital uruguaia fica perto dos 900km. Como fazer isso num final de semana não parece ser um bom plano, havendo um pouco mais de tempo disponível, começa a valer a pena a viagem. Com os cinco dias e meio a disposição do último carnaval, colocamos em prática o trajeto, que pode ser visto no mapa abaixo.

Em letras, os pontos de parada. Em cores, pontos de interesse visitados nessa viagem.

Trajeto de Ida, Dia 1: Porto Alegre — Rio Grande

Sabíamos que pegaríamos a estrada no final do dia, então tocar direto até Montevidéu não parecia boa opção. Uma pela distância, outra por termos de atravessar a reserva do Taim à noite.

Por essas razões, procuramos por uma acomodação em algum lugar entre Pelotas e Rio Grande. Eu particularmente preferia a segunda opção, para ficar mais perto do destino, tendo as duas pernas da viagem mais equilibradas em tempo. Por sorte, achamos um hotel honesto para passar a noite.

Atravessamos a Ponte Móvel às 19h, paramos no meio do caminho para jantar por uma meia hora e chegamos ao nosso primeiro destino perto da meia-noite.

Trajeto de Ida, Dia 2: Rio Grande—Montevidéu

O plano do sábado era rodar até Montevidéu e tínhamos a expectativa de chegar lá pelas 16h. Na prática, chegamos lá 3 horas depois disso. Aqui, deixa eu detalhar um pouco mais o relato pra justamente mostrar o que o Google Maps não nos fala.

  1. Ainda dentro do município de Rio Grande, ela BR-471 se chega ao Taim, essa grande área de preservação localizada entre o Oceano Atlântico e a Lagoa Mirim. A estrada cruza um pequeno pedaço da reserva e fazer esse trajeto de dia é mais interessante e seguro. Nesse curto trecho, de velocidade reduzida, já é possível ter uma noção da beleza do lugar. Se não estiver dirigindo, tente identificar as múltiplas espécies de aves que habitam a região. Para entreter crianças (e adultos) conte que ali moram jacarés. Eles ficarão vidrados no vidro, a procura. Se tiverem sorte, avistarão algum.
  2. A fronteira terrestre via Chuí possui do lado uruguaio um pequeno posto de aduana. Por causa disso, a grande dica é: cuide bem do horário que você vai passar por ali. Em um feriado popular como foi o Carnaval, muitas pessoas tiveram a mesma ideia de destino. Todos os trâmites normalmente não levam mais do que 10 minutos. No nosso caso, isso durou um pouco mais de uma hora e cheguei a ouvir relatos de pessoas que enfrentaram filas de duas horas. Talvez a dica mais importante de todas está relacionada à documentação necessária para cruzar a fronteira: serve tanto o passaporte quanto a carteira de identidade. Mas apenas esses dois. Imediatamente a minha frente na fila, presenciei um casal que teve sua entrada barrada e acabou dando meia-volta por tentar entrar no país vizinho portanto suas CNH.
  3. O restante do trajeto foi feito numa estrada com pavimentação melhor que a brasileira e velocidade máxima de 90km/h. É bom ter cuidado com o nível de combustível, já que não há muitos postos no caminho. Todas as praias ou cidades possuem trevo de entrada que obrigam o motorista a diminuir a velocidade. Nos arredores de Punta de Diablo, aprecie a floresta de butiazal, ecossistema que já fez esteve mais presente na vegetação gaúcha mas que acabou sendo substituída pelos campos de pastagem para o gado.
  4. Quase chegando, dá pra dizer que a região metropolitana de Montevidéu é bem sinalizada. Você pode facilmente encontrar os pontos-chave da cidade apenas seguindo o fluxo das grandes avenidas e se guiando pelas placas.

Montevidéu: Dias 2, 3 e 4

Chegamos a noite no apartamento que alugamos via Airbnb e aproveitamos para fazer uma volta na orla e comer no Café Bacacay, na frente do grandioso Teatro Solís. Com isso, tivemos dois dias inteiros para aproveitar alguns pontos da cidade.

Ciudad Vieja: é onde você encontra a Plaza da Independência, o Teatro Solis e o Mercado del Puerto, entre outras atrações de restaurantes, bares e lojas. Aproveite bem as caminhadas, tire bastante foto mas fuja de comer no Mercado. As filas são grandes, a comida não é tudo isso e o preço é para turista.

Feria Tristan Navaja: para ver o movimento de pessoas, vale a caminhada. Por outro lado, achei a feira bastante bagunçada e com menos charme do que San Telmo ou mesmo o Brique da Redenção. As lojas abertas podem valer mais a pena, com opções de livros e elepês.

Centenário e Monumento a Carreta: um grande símbolo do país, outro templo mundial do futebol, ambos estão dentro de uma grande área verde que vale caminhada, piquenique e mate. Por 70 pesos uruguaios você tem direito a entrar no estádio e ficar lá o tempo que quiser. Menos conservado do que ele merece, ainda é o palco da primeira Copa do Mundo e por isso lugar sagrado para quem gosta do esporte.

Estádio Centenário, Monumento Vivo do Futebol.

Letreiro de Montevidéu: toda a cidade com mais de 10 mil habitantes deve ter construído um desses nos últimos 3 anos. É bonito e sempre tem um monte de gente. Vale pela fotinho clássica de rede social, mas não muito mais do que isso. Em compensação, é na beira do Rio da Prata e caminhar por ali é mais vantagem.

Mercado Agrícola de Montevidéu: a versão uruguaia do nosso Mercado Público, possui menos lojas originais mas está em melhor estado de conservação. Vale a visita, tanto pela compra de hortifruti e laticínios quanto para ver outros produtos produzidos pelas bandas orientais.

Farol de Punta Carretas: para mim foi a surpresa positiva da cidade. Muitas vezes um ponto renegado nas listas de interesse da capital, o farol está extremamente bem localizado e possui uma grande vista mesmo para aqueles que não se aventurarem a subir o edifício. Lá de cima, uma ótima vista de grande parte da cidade, banhada pelo Rio da Prata. O ingresso custou 70 pesos.

Vista panorâmica a partir do Farol de Punta Carretas, no final de tarde.

Trajeto de Volta, Dia 5: Montevidéu — Punta del Diablo

Antes de sair, tínhamos o plano de passar um dos dias da viagem em Colônia do Sacramento. Pelas distâncias percorridas, resolvemos curtir mais Montevidéu e parar em Punta del Este no caminho de volta. Com isso, o novo plano foi curtir o trajeto e dormir em Punta del Diablo. Saímos de Montevidéu pelas 11h e chegamos a Casapueblo perto das 13h.

A casa-ateliê, construída e aumentada ao longo de anos é hoje museu e hotel. Do alto de Punta Ballena, é uma parada obrigatória para quem vai por ali, tanto por ser uma bela construção quanto pela magnífica vista que possui. Muitos que admiram a construção fazem associação a moradias erguidas à beira-mar na costa grega. Entretanto, seu idealizador, Carlos Vilaró, conta que a inspiração na verdade veio da observação dos forneiros, que desse lado da fronteira chamamos de João de Barro. Conta a lenda que a música "A Casa", de Vinícius de Moraes, tem na Casapueblo sua inspiração!

Por Punta del Este, fizemos o roteiro básico na cidade: além da casa-ateliê, Estátua dos Dedos, volta na praia, pracinha com farol e igreja, além do almoço ostentação para colocar foto na rede social. A cidade oferece bem mais do que isso e sem sombra de dúvidas merece mais tempo. Saímos de lá pelas 19h e chegamos em Punta del Diablo pelas 22h.

À direita, os viajantes no Monumento dos Dedos. À esquerda e no centro, a Casapueblo.

Aqui, vale outro ressaltar o trajeto de volta: ao invés de pegarmos direto a Ruta 9, fomos pela beira da praia (via Ruta 10) para conhecermos a premiada Ponte sobre a Laguna Garzón. A ponte é lindíssima e vale o passeio. Só leve em consideração que nem todo o percurso está asfaltado. Para chegarmos novamente à rodovia de número 9, tivemos de enfrentar quase 15 quilômetros de estrada de chão.

Trajeto de Volta, Dia 6: Punta del Diablo — Porto Alegre

De Punta del Diablo até a divisa dos países não levamos mais do que 40 minutos. A passagem na volta pela fronteira foi tão tranquila, que eu tive o sentimento de estarmos quase implorando pro agente da fronteira carimbar nossa saída do país em nosso passaporte. Tenho a impressão que um monte de gente simplesmente cruza pela aduana sem dar satisfação alguma.

Logo após o posto, há uma rótula que leva ao centro da cidade e a zona comercial repleta de free-shops. A dica aqui é: se for comprar produtos uruguaios (como doce de leite e chimichurri), prefira o comércio local. Os preços são mais atrativos.

Dali até Porto Alegre levamos as seis horas que o mapa apresenta. Sem correr, rodamos o que faltava num ritmo bem tranquilo, com paradas rápidas para esticar as pernas e visitar o banheiro.

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