Transporte público no Leste Africano

Munike Ávila
Exploradores
Published in
4 min readJul 24, 2018

Em 2015 morei em Nairóbi, dentro de uma comunidade chamada Kabiria, onde trabalhava com refugiados da R.D. do Congo, Ruanda e Burundi. Compartilhei muitas histórias sobre esse período aqui.

Uma das características que me chamou a atenção foram os meios de transportes usados não só no Quênia, mas em toda região da África Oriental.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Comunidade_da_%C3%81frica_Oriental

Antes de falarmos sobre o transporte, um lembrete: dificilmente você verá uma faixa de pedestres. Provavelmente você encontrará essa raridade no centro de cidades maiores, como em Nairóbi, mas isso não significa que a mesma será respeitada, assim como o semáforo. Então para atravessar a rua devemos passar pelo meio dos carros, fazendo com que eles parem.

Para se locomover pelas cidades você pode pegar ônibus, matatu ou moto. Existem dois tipos de ônibus: o da prefeitura e os temáticos — mais conhecidos como matatu. O primeiro é como um ônibus público no Brasil, silencioso e com cobrador fixo. Já o segundo é algo que eu só vi por lá.

Ônibus pintado por fora e por dentro com temas diversos como futebol, Jesus, Ferrari, Adidas, Reggae, já vi até um do Brasil! Na verdade, os motoristas competem para ver quem tem a melhor arte no busão, desde que foi novamente autorizado esse tipo de transporte no país, em 2015. A música é altíssima, como se você estivesse numa festa. Alguns tem luzes coloridas que brilham durante a noite. Parece um Diablo Rojo do Panamá, não fosse o tamanho pequeno com um corredor super estreito e os cobradores, uma incógnita que demorei um tempo para entender.

A esquerda: Diablo Rojo. A direita: Matatu

O cobrador muda durante a viagem. Eles ficam na porta, que está sempre aberta, chamando as pessoas para entrarem no ônibus. Durante a viagem alguns se penduram na porta, sentindo o vento bater, como se estivessem num bondinho em São Francisco, na Califórnia (experiência, aliás, que recomendo!). Para parar o ônibus eles batem com força na janela do motorista e para partir eles batem na lateral do ônibus.

Ao contrário dos ônibus públicos, os matatus não respeitam o horário de partida, a regra é basicamente partir com um número suficiente de pessoas, ou seja, você pode acabar esperando muito mais do que imagina (uma vez levou 40 minutos). A passagem só é cobrada depois de estar relativamente cheio, onde o cobrador passa no corredor estendendo a mão. Se você não tem a quantia certa, pode ser que leve um tempo para conseguir seu troco, mas eles vão te devolver, não se preocupe.

O interessante do cobrador é que ele muda aleatoriamente durante o percurso. Conversando com Jacob, um amigo refugiado, ele me explicou que os motoristas sabem quais são seus cobradores e por cada viagem eles ganham parte do dinheiro das passagens, em torno de 0,20 shillings (moeda local) por passageiro. Vão fazendo isso o dia todo, sempre no mesmo ônibus e nos mesmos pontos.

Os matatus também podem ser menores, uma espécie de van com 15 lugares que desafia as lei da física sobre corpo e espaço. Uma vez peguei um com 21 pessoas. Onde sentam? No vão entre uma pessoa e outra. O espaço fica tão pequeno que é possível sentar onde não tem banco e não cair, pois o quadril encaixa perfeitamente entre as pessoas.

Matatu com Jesus Jedi você só vê por aqui — Arusha, Tanzânia (Arquivo pessoal)

A maioria dos pontos de ônibus/matatu não tem sinalização. Vale perguntar para locais onde é possível pegar o transporte. Não se assuste se, ao chegar em um ponto, o cobrador tentar te puxar para dentro do ônibus/matatu. Diga que não é seu destino e aguarde o ônibus correto.

Além disso, é possível pegar o moto-táxi. Essa só peguei uma vez, em Arusha, pra fazer um caminho curto a noite, o que pra mim foi uma vitória porque eu morro de medo de moto! Superei-o com uma linda vista do céu estrelado enquanto a brisa batia no rosto.

Não importa qual dos transportes você escolha, eu garanto duas coisas: a primeira é saltar do banco algumas vezes devido aos buracos nas estradas nos lugares onde não são asfaltadas, como onde morei. A segunda é pegar um longo trânsito nos horários de pico. Já passei duas horas no tráfego em um caminho que levaria 20 minutos.

Apesar de tudo, as músicas tornam a viagem divertida. Faça como um bom viajante e aproveite o caminho.

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