Velejando o mundo: França, Espanha e Portugal

Felipe B Cabral
Exploradores
Published in
7 min readApr 9, 2018

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Nessa viagem:
Arcachon, França
Santander, Espanha
A Corunha, Espanha
Porto, Portugal

Como tudo começou

Estava em um pequeno tour pelo norte da Europa, vendo como eu estava para o mercado de lá, não me eforçando como deveria para conseguir uma vaga, porém revisitando bons e velhos amigos. Aproveitando e indo conhecer Israel no meio do caminho.

Chegando perto do período de voltar para o Brasil, finalmente uma resposta do Find a Crew. Um capitão holandês estava a realizar um cruzeiro de longa distância. O plano era o norte da Europa, Açores, Caribe. Uma travessia? Sempre quis ter uma dessas no currículo. Não deveria ser muito diferente do período até a Ilha de Páscoa, o período de tempo é muito parecido e o meu corpo já conhecia os desafios.

Entrevistas, perguntas, preparo

O capitão veleja há muitos anos, porém é o seu primeiro barco com chuveiro e leitos. A vontade do capitão era ter alguém a bordo que ele pudesse confiar quando estivesse cansado e somado a experiência de instrutor de vela, eu estava em uma verdadeira entrevista de emprego onde eu teria que pagar pela experiência (alguns euros que cobria diesel, parte das taxas nas marinas, uma prática comum, quase a taxa do Bla Bla Car). Era um barco que eu já tinha entrando em contato e havia liberado uma vaga.

As perguntas dele:

  • Qual os passos da manobra de resgate de homem ao mar?
  • Como parar o barco com as velas içadas?

As minhas perguntas foram na linha:

  • Há quanto tempo possui o barco?
  • Está iniciando essa viagem porque acabou algum relacionamento? (Tentem se isolar com alguém em crise para entender a natureza dessa pergunta.)
  • Quais as condições físicas do barco? (Lembrar sempre do capitão do Sea Witch, quem está vivo pode velejar, mas quem afunda tem muita chance de morrer.)

Avisei que tinha uma mala gigante, porque meus planos eram outros e estava mudando eles para embarcar. Combinamos local e iniciei viagem.

França

Alguns aeroportos eu conheço o cantinho de dormir, por isso os que são novidades para mim são sempre digno de nota. Uma espécie de admiração e análise. Pela primeira vez na França a vontade era entender como eram as coisas lá. Bordeaux não pareceu ser um bom exemplo. O aeroporto não é muito maior que o aeroporto antigo de Porto Alegre. A viagem de trem até Arcachon é tranquila.

Arcachon

A cidade de 150 anos possui construções vitorianas, o que dá um certo charme. Minha missão é descobrir onde fica a marina e localizar o barco, para isso me informam que devo pegar o “ônibus”, são três vans que servem como transporte público gratuito. Todos passageiros se cumprimentam ao entrar ou sair, o motorista muito solicito e animado.

Ao desembarcar na zona portuaria, estou de frente ao mole, recebido por uma loja de lanchas e barcos. A marina que surge atrás é gigantesta

Google Maps

Localizar o barco foi uma aventura particular. Eu não falo frânces, o povo de Arcachon não fala nenhuma outra língua. Sem internet eu não tinha como achar barco. Tinha fotos dele, mas a busca seria árdua. Depois de algum tempo eu consegui usar a wifi do restaurante do clube náutico e segui para o trapiche.

Arquivo pessoal — Arcachon

Reconheci o capitão das nossas conversas por Skype, nos cumprimentamos e começamos a ver os detalhes do barco. Como funciona banheiro, regras de boa convivência e algumas histórias.

Junto com ele estava o outro tripulante. Um alemão que me pegou de surpresa ao iniciar uma conversa em português, aprendeu com uma ex-namorada.

Arquivo pessoal — Arcachon

Ficamos alguns dias em Arcachon preparando o barco. Foi o suficiente para poder ter algumas experiências como andar pela praia, jantar fora e comprar baguete as 6am na padaria, me senti o típico francês.

No último dia chegou o terceiro tripulante. Sam. Como o Alemão estava de saída, não experimentamos um ambiente lotado dentro do barco. No final ficamos só nos três a bordo.

Alemanha, Holanda, Brasil e Austrália

Espanha

Santander

Saímos pela manhã e velejamos 24h até Santander. Isso significa que sempre havia uma ou duas pessoas acordadas. Uma viagem tranquila até Santander. A marina civil fica no fundo da cidade, o que nos deu a oportunidade de velejar toda a enseada, passando por fortes e palácios.

Arquivo pessoal

Marina de Santander

Arquivo pessoal

Após dois dias revivendo o meu espanhol, ouvindo que era melhor sempre dizer que era brasileiro, porque portugueses não são vistos com bons olhos pelos vizinhos.

Decidimos fazer uma perna de dois dias. As condições de tempo permitiam e o time parecia capaz de aguentar a tarefa. A viagem foi relativamente tranquila, tirando um episódio de um barco pesqueiro que por regra sempre deve oferecer passagem para um barco com menor manobrabilidade, no caso vela restrita pelo vento e baixa velocidade deve ter prioridade sobre motor, salvo caso onde o barco estivesse engajado em atividade de pesca ou restrito a canal (caso clássico de Porto Alegre onde o Guaíba é raso, salvo canal). Esse barco veio em velocidade total em nossa direção, não respondeu as chamadas por rádio e se não tivessemos virado o barco a tempo ele teria nos atropelado. Pela velocidade e estrutura do barco de pesca, nós teriamos partido ao meio.

A Coruña

A cidade por si é uma jóia. Dias de Sol, arquitetura lindissima e parques públicos.

Arquivo pessoal
Arquivo pessoal
Arquivo pessoal

No primeiro dia optamos por separar nos três, queríamos explorar coisas e lugares diferentes na cidade. No final do dia encontrei o australiano e paramos para tomar uma cerveja. No final da long neck eu olhei e disse “Percebeu que criticamos o capitão o tempo todo? Isso fede”.

A falta de experiência em mar aberto do capitão, somadas a pitadas de personalidade do Sheldon, deixou a gente pensando.

Durante a madrugada, na solidão da noite, sob as estrelas, tomei a decisão de desembarcar, mas iria comunicar com calma e em momento propício.

Portugal

Porto

Ao chegar em Porto, depois de dois dias, recebemos aviso de mal tempo. O porto seria fechado por alguns dias. Teríamos uma semana parados.
Resolvemos explorar. A marina estava cheia e fizemos alguns amigos e é sempre divertido compartilhar histórias com outros marinheiros.

Noruega e Australia — Arquivo pessoal

A cidade do Porto MERECE uma semana para se explorada. Cada cantinho, cada ponte, as vinículas, as súbidas e descidas. Tudo merece atenção minuciosa.

Arquivo pessoal — Porto

No final do primeiro dia, com as cervejas na mão eu optei por informar que iria desembarcar. Como estavamos todos com boa relação, fiquei hospedado no barco até o dia de seguir viagem. Meses já longe de casa e dos amigos eu queria reaver laços e viver a vida que escolhi. Iria voltar para Porto Alegre.

O australiano estava com dúvidas em deixar o capitão sozinho ou não. Mas mais alguns dias e ele teve a ajuda necessária para decidir. Como estavamos em uma marina, não foi difícil para ele achar barco com uma vaga extra.
Peguei o trem para Lisboa, onde fui hospedado na casa de excelentes amigos e logo mais retornei a casa.

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