Egito: dicas sobre a cultura local

André Fernandes
Explorando!
Published in
5 min readOct 21, 2015

A população egípcia em geral é amigável e receptiva, inclusive com estrangeiros. Procuram ajudar da forma como podem, mesmo quando não sabem informar o caminho para uma rua e já chamam outro para ajudar. O ponto chave é demonstrar respeito à cultura local, caso contrário, as reações já costumam ser passionais e explosivas. Eles também têm pavio curto! O inglês é bastante falado no país e vi estrangeiros vivendo lá há anos sem falar nada de árabe.

É uma sociedade extremamente conservadora, sobretudo para as mulheres. Não é um país onde as pessoas tem liberdades com as quais estamos acostumados. Eu confesso que, mesmo numa curta estadia de 3 meses, eu me senti num inferno. Me incomodava o fato de não poder tomar uma cerveja na rua, de não poder beijar uma mulher em público. Quem vai a turismo, não percebe isto, mas quem vai a intercâmbio e fica por mais tempo entende o que digo e nem todos tem a coragem de falar. Muitos encaram a experiência como uma transa sem camisinha, você curte na hora, mas não faria de novo, sabe?

Como mulheres estrangeiras são alvos “fáceis” no Egito, já vou direto ao ponto. Com egípcia, não rola nada! Ir a uma casa de uma egípcia, só se for para pedir em casamento naquele estilo do tempo dos nossos bisavós — pagar dote, cerimônia e tudo mais. E pedir uma mulher em casamento no Egito significa ouvir dos sogrões algo como “Quero uma cerimônia para 30.000 pessoas, com o show do tal cantor famoso, decoração com tal frescurice…” e a lista de exigências é longa! Quanto custa? Depende do nível social e do acordo feito com a família da noiva, mas em qualquer caso, é uma grana estupidamente alta. Mesmo num orçamento baixo, um cidadão da classe-média não pode pensar em casamento por menos de USD 80.000. Fica a dica!

Para quem for a intercâmbio, ter em mente que muitos egípcios não aceitam apartamentos mistos com homens e mulheres. Mesmo em áreas onde os moradores estão acostumados com estrangeiros, vizinhos costumam ser hostis ao verem rapazes entrando e saindo de um apartamento onde moram mulheres. Costumam ligar ao landlord num tom como “Hey Mohamed, você alugou seu apartamento para prostitutas?” E logo, todos são despejados. É radical, eu sei, mas nada de criar expectativas irrealistas, certo?

Outro ponto a ter atenção, mulheres, é com a vestimenta. Roupas discretas, nada de mostrar as curvas. Também não é aceitável para muitos egípcios mulheres fumando e bebendo. Só se veem mulheres fumando em shopping centers, cafés e locais mais elitizados no estilo ocidental. Nas ruas, as reações tendem a ser agressivas e os olhares bem atravessados. Passei pela mesma situação ao correr sem camisa na rua, como um bom brasileiro….

A religião islâmica dita o cotidiano dos cidadãos. Muçulmanos normalmente rezam 5 vezes ao dia, baseado nos movimentos do sol ao longo do dia. A primeira chamada para a reza começa lá pelas 5 h da manhã, com o anúncio nos minaretes das mesquitas. Ao longo do dia, é comum os motoristas baixarem o volume dos sons ou sintonizarem para uma rádio tocando orações. A religião também é visível vale nas regras sociais, nos valores, nos hábitos de muitas pessoas, etc.

A maioria das mulheres usa o veú, o hijab. Muitas tem tirado o véu de vez, e isto costuma dar o que falar: xingamentos, polêmicas, pressões sociais, etc. Por que elas tiram? Hijab dá uma imagem de boa menina, santinha, religiosa que não pode nem falar palavrão e beber uma cervejinha, sabe? É normal chegar a um ponto em que ficam de saco cheio de não poder ser elas mesmas por causa de um hijab, de ter que provar por tudo.

Mulheres no Egito costumam ficar confinadas à vida doméstica. Não se vêem muitas mulheres casadas levando a carreira adiante. Para muitas, ou carreira ou casamento. Mães egípcias costumam fazer tudo, literalmente tudo em casa, a ponto de muitos filhos chegarem à idade adulta sem saber se virar sozinhos.

Para quem quiser ficar mais por dentro da cultura e sociedade egípcia, vale conferir os sites Cairo Scene e Scoop Empire. Ainda que ambos os sites são voltados para um público mais elitizado, em língua inglesa, dão uma ideia da cultura e dos assuntos que vem sendo discutidos no país.

Quanto à situação socioeconômica, o país vive um momento difícil: economia estagnada há décadas, desemprego e baixos salários; o que motiva muitos locais a pensarem em sair do país. Contudo, o passaporte egípcio não ajuda nem para turismo. A maioria da população é pobre e uma minoria, super rica e acostumada a extravagantes padrões de vida.

Junto com a Primavera Árabe, Egito vem experimentado sinais de crise

O complexo de colonizado também é normal no país, não é estranho entre os mais afluentes ouvir reclamações e preconceitos para com o próprio país, idolatrando os estilos de vida europeu e norte-americano como status.

Outro ponto que causa choque é a dinâmica de tempo e e aquela preguiça de esperar que o destino ou algum poder externo resolva um determinado problema. Você ouve algo como “cinco minutos” que se traduzem em 40 minutos, 2 horas, dias, meses… Para quem for pra lá, que já fique ciente!

O assédio sexual no Egito

O assédio sexual é um problema sério no país. Por todos os cantos, sobretudo fora dos circuitos turísticos, é evidente. Olhares encarados, homens passando a mão em mulheres, os caras não querem nem saber se é egípcia ou estrangeira, se está sozinha ou acompanhada com pai, marido, namorado, irmão. Os assediadores andam normalmente em grupo à procura de encrenca. A dica é tomar cuidado. Como?

– Mulheres, nada de andar sozinhas, menos ainda nas áreas periféricas. Nas áreas em volta da Tahrir Square também costumam acontecer assédios, principalmente à noite;

– Nos metrôs, pegue os vagões reservados às mulheres. Se pegar o microbus, vá acompanhada, mas não aconselho…

– Ao pegar um táxi, tire uma foto do veículo e da placa, deixe claro ao taxista que você está ligada.

– Mulheres estrangeiras costumam ser vistas como “fáceis”, logo, cuidado em quem confiar ao lidar com homens locais. Bom lembrar que no Egito homens e mulheres não tem as mesmas liberdades.

Para ter uma clara ideia do que acontece, vale checar este trailer de um documentário que transmite como é para uma mulher andar no centro de Cairo e este post do Hypeness sobre o mesmo assunto.

Espero que estas informações sejam úteis.

--

--

André Fernandes
Explorando!

My purpose: help others to discover different places, cultures and perspectives! Born in Brazil to be a global citizen!