Nosso guarda- chuva

Guta Dagnino
ExtranhaMente
Published in
5 min readNov 1, 2017
Nosso guarda-chuva

Li um texto que falava que não era certo distrair sua mente em um momento de ansiedade, e que o certo seria encará-lo o mais sinceramente possível, eu não sei se concordo, porque acho que o ideal seria tentar entender o que te leva a ser uma pessoa ansiosa e trabalhar para que as crises se tornem quase inexistentes. Se distrair algumas vezes ajuda, e como já falei o esporte me traz isso e quer saber eu acho natural procurar algo produtivo para focar a sua mente em momentos assim.
As minhas crises de ansiedade estão ligadas a depressão, então como existe uma correlação não sei se só o que eu entendo como ansiedade basta, por isso, pedi para uma mulher ilustre, Giovanna Dagnino, que tenho a honra de chamar de prima e amiga, descrevesse como é ter uma típica crise de ansiedade. Antes do depoimento dela, eu vou escrever o meu, talvez eles possam ser bem semelhantes, mas como nunca tive uma crise sem estar afetada com a depressão, achei que seria de extremo valor, ter o seu relato.
A ansiedade libera em mim a agressividade, e eu fico realmente parecendo um bicho raivoso e selvagem. Acontecimentos não me deixam ansiosa, eu não perco o sono ou fico nervosa com coisas que podem acontecer em breve, o que me causa ansiedade é a incerteza de como as pessoas se sentem em relação a mim.
Tive poucas crises na vida e em quase todas eu estava em lugares públicos e abertos e mesmo assim me sentia sufocada e claustrofóbica, uma compressão no meu peito me tirando o ar e o sentimento de desespero surgiam, e minhas mãos simplesmente se fecham como se eu estivesse pronta pra socar a cara de alguém, ou de me socar.

Ravena e Estelar — Guta e Jojo desde 1996

Comigo às vezes é um pouco diferente. Para começar, acho importante me apresentar — apesar da minha cã (como costumo apelidar minha prima) já ter começado. Meu nome é Giovanna Dagnino e divido a família com a gutinha/cã/prima/melhor amiga de sangue. Sim, a Guta é minha prima e não são somente nossos transtornos psicológicos que são semelhantes; nossas idades também são. Dezoito dias nos separam de ter nascido exatamente juntas. Apesar da grande proximidade de nossas datas de nascença, somos bastante diferentes em personalidade, mas nunca deixamos de nos dar bem (até demais, para a tristeza das inimigas).

Minha prima tem descrevido, nos últimos textos, sua personalidade, portanto, acho interessante colocar a minha para que vocês entendam o que é a ansiedade para mim. Sempre fui uma pessoa muito alegre e, algumas vezes, chegava a parecer boba. Como nosso avô descreveu em seu poema: o eterno sorriso em seu rosto — que inclusive é a frase da minha primeira tatuagem, mas isso não vem muito ao caso. O sorriso em meu rosto costumava sim ser eterno, mas o que o vovô não pode presenciar foram os momentos nos quais meus sorrisos passaram a ser forçados e não mais espontâneos. E isso dói. A vontade de dar uma boa gargalhada sincera mais de uma vez por dia continua, mas a gargalhada não vem. Hoje não costumo ser tão alegre como costumava ser. Sinto saudade da tranquilidade dos meus sorrisos inocentes e bobos.

Talvez tenha amargurado, talvez esteja somente perdida. O que me apavora é o talvez. Não sei ao certo o que me causa a ansiedade, mas sei que ela está lá. A cada falta de ar, a cada dor no peito, a cada agonia e tristeza desesperadoras; a ansiedade está lá. Respiro, tento pensar em coisas para me distrair, tomo homeopatia e chás, mas ela sempre volta uma hora. Eu não queria que ela voltasse. Quero que ela vá embora para sempre e não volte nunca mais.

Entender o que te leva a se sentir ansioso já é meio caminho percorrido. Após isso, entenda que o que você tá sentindo fisicamente são sensações produzidas pelo seu cérebro, mas eu sei que dói no coração, então vamos acalmar a cabeça primeiro.

Ansiosa

1. Respire igual quando sua mãe pedia pra você se acalmar durante uma crise de choro assim você poderia contar a ela o que tinha acontecido. Respire, conte 1–2–3, solte. Faça isso o quanto for necessário até você perceber que não está te faltando ar.
2. Pense no momento, e é aquele momento que você precisa controlar, não o daqui 2 segundos, muito menos o de uma hora.
3. Feche os seus olhos, sinta todo o seu corpo, você é capaz de fazer um milhão de coisas sem nem saber, tudo isso porque aquele corpo de pertence. Que dádiva.
4. Abra os olhos, após ter sentido cada partícula do seu corpo e de ter percebido que a ansiedade NÃO pode te matar.

5. Pense que o que te causa ansiedade não pode ter esse poder sobre você, nada nem ninguém podem. Repita isso algumas vezes. Tire o poder daquilo.
6. Se tudo isso não surtir efeito, ligue para alguém e fale com a pessoa, extravasar o que você está sentindo pode ser uma boa.

Ansiedade não é brincadeira e pode levar as pessoas a se sentirem realmente péssimas em relação a si mesmas, e causa um sofrimento real. Se você conhece alguém ansioso tente não tornar aquilo banal, cada transtorno de ansiedade é engatilhado por alguma coisa.
Todo mundo é sim ansioso, porque isso também move as pessoas, o problema é quando a ansiedade te paralisa.

Se você é ansioso não espere até a próxima crise, comece agora. Faça exercícios de respiração, associe o que te causa ansiedade e tente ao máximo compreender o porquê (terapia tá aí pra isso), pratique algum esporte, dança, academia, alguma coisa que você gaste sua energia e que naquele momento seja só naquilo que você tenha que pensar, produza algo, pode ser escrever, cantar, fazer artesanato, cozinhar, etc, tenha momentos para não fazer nada porque pra quem é ansioso isso algumas vezes traz angústia, só que é bom algumas vezes não fazer nada.
Viva um dia de cada vez, e então uma semana, depois um mês e quando você menos espera o ano já passou.
Você não está sozinho, ninguém nunca está lembre-se disso e procure falar mais sobre, quando a gente desmistifica algo, isso deixa de ser tão amedrontador e grandioso e perde o seu poder.

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