Pedras
Espero que gostem dessa curta, mas profunda divagação sobre dificuldades.
Como a boa filha de Xangô o rei das pedreiras, eu entendo bem de pedras, não que eu as ame, mas eu as respeito e sei que é por saber de seu peso e da dor que podem causar. Mas as pedras sempre estiveram lá. Do dia em que nasci até hoje.
Uma pedra no meio do caminho é sinônimo de dificuldade, algumas são como as pedrinhas do colégio que só ralam o joelho e te fazem chorar por um minuto e meio, outras são como paralelepípedos na chuva prontos para te fazer escorregar e causar uma queda brusca, e tem aquelas que são pedras rolando em um desabamento, prontas para te esmagar.
Os homens pré-históricos fizeram fogo a partir do atrito entre duas pedras, os romanos fizeram estrada, os senhores feudais castelos, os chineses muralha. Jesus defendeu Maria Madalena de um apedrejamento. Faz-se arte esculpida em pedras, tratamentos de cura, jogo de criança.
Ter medo das pedras no caminho, é ter medo do caminho, é guardar cada pedra em uma bolsa para que elas não fiquem visíveis para outros, já que ninguém quer ter suas dificuldades expostas. Mas as pedras pesam e então como caminhar ?
Ter medo de ser apedrejada, também é ter medo de sentir dor, é ter medo de só sentir, então não se vive com o pavor de uma possível dor.
Mas então tu guardas as tuas pedras, aquelas que colocou na bolsa e joga no outro: juri, juiz, carrasco. As pedras então já não são mais tuas, não é mesmo ? Errado, pois assim como arremessastes as suas, alguém arremessou as dela em ti. Que ciclo.
Faça fogo, estrada, castelo, muralha. Defenda alguém de ser apedrejado. Faça arte, se cure, transforme.
Cada pedra é uma etapa, uma parte do caminho, independente do tamanho, do peso, do formato, elas são pedras e a não ser que tu permitas, jamais poderão te parar.
Aprenda com as pedras, leia-as, e lembre-se que uma hora elas virarão areia de praia, perto do mar da morada de minha mãe Iemanjá.
