A informação como produto: Como diferenciar?

Fabrine Bartz
Fabrine Bartz
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7 min readMar 29, 2021

Desde quando a informação se tornou um produto? Desde o início da terceira fase da Revolução Industrial (RI) em meados do século XX, o acesso à informação de forma rápida e eficaz atingiu praticamente todas as partes do globo terrestre. Porém, algumas regiões não possuem autonomia de forma completa. Além disso, juntamente com o cenário da (RI), o sistema capitalista industrial e financeiro contribuíram para construção de uma sociedade na qual visa o lucro antes da veracidade dos fatos. Com base em leituras na área de comunicação, trataremos sobre esse assunto no decorrer deste artigo.

Com o conceito de sociedade em rede interligado com comunicação de massa, a ideia de que a informação se tornou um produto diante o mundo capitalista e globalizado é pertinente. Com base nisso, o artigo de Ignacio Ramonet, professor da Universidade Danis-Dirtot, publicado em 2011 no Le Monde diplomatique, intitulado “Autômatos da informação” faz uma análise de quão emblemática é essa questão associada ao meio jornalístico. De acordo ele, cerca de 15% das publicações realizadas pelo jornal realmente interessa o público. Ou seja, todo o resto é associado ao mercado publicitário vinculado ao lucro.

O jornalista revela que para reverter esse processo há dois caminhos: entender que tipo de informação deve ser transmitida e quando fazê-la. Com o advento da internet foi possível encontrar soluções para o questionamento. Atualmente, há ferramentas que estão disponíveis de forma gratuita aos usuários e facilitam a análise de estatísticas. O Google Trends oferece um serviço capaz de visualizar a frequência em que determinado termo foi procurado no navegador, dando a possibilidade de optar por região e idioma. Com essas informações, outros sistemas de análise foram desenvolvidos de acordo com a necessidade de cada plataforma.

De forma jornalística, esse procedimento ocorre por meio de freelancers — profissional autônomo que trabalha em diferentes empresas, atendendo seus clientes de forma independente — aumentando a lucratividade das empresas. Em uma esfera onde praticamente tudo é comercializado, com a informação não seria diferente. Porém, no jornalismo a questão da veracidade dos dados é algo a ser discutido e priorizado. Qual é a sua verdadeira função: fornecer conteúdo de qualidade ou simplesmente obter lucro? Será possível executar as duas coisas no contexto atual do Brasil?

Essas dificuldades caminham juntas com a disposição do empreendedor, onde muitos acabam sucumbindo essa função. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil fechou 2016 com 116 milhões de pessoas conectadas à internet. Cerca de 63% das casas brasileiras possuem acesso a web, além de consumir conteúdos na televisão, telefone e rádio. Logo, é evidente que mais da metade da população brasileira possui acesso à informação mesmo que de forma restrita. Mas, o ponto é muito mais abrangente do que isso, a questão atual não é mais o fato de obter a informação e sim como obtê-la. O poder de questionar a fonte ganhou outra dimensão. Embora 63,3 milhões de pessoas se mantêm off-line no Brasil, agora é possível saber de um acontecimento no outro lado do mundo sem a espera de semanas como antes acontecia na história da comunicação.

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No Brasil, 66% do consumo de notícias digitais parte de redes sociais, tratando não somente do crescimento desses sites, mas de sua importância na área das comunicações para engajar os usuários na produção e circulação de informações. O empreendedorismo passou a ser algo ainda mais forte do que era, onde não só as grandes empresas como também as pequenas passaram a se preocupar constantemente em como obter um público de qualidade. O diretor técnico da Contempory, uma das empresas mais prestigiadas no ramo da comunicação, Henrique Kelmer, relata que a maior dificuldade no decorrer de seu caminho é a necessidade de manter a informação bem armazenada e disseminada, uma vez que hoje, as pessoas precisam que a informação esteja disponível em qualquer lugar, seja em computadores, revistas ou livros.

As tecnologias de informação e comunicação (TICs)

Na obra de Hunder Everto Correa e Robert Gallicchino, “Publicidade, História e Teoria da Comunicação” os autores contam que os primeiros meios de comunicação foram feitos através de órgãos sensoriais — visão, audição, olfato e tato — essas formas de comunicação evoluíram com o decorrer do tempo, embora apresente suas raízes ainda na pré-história. Um bom comunicador deve ter habilidades para codificar mensagens através da fala ou da escrita. Assim como a comunicação humana, a publicidade acompanha o ser humano desde os primórdios. Os fenícios foram os primeiros que se notabilizaram como grandes navegadores e negociantes.

De acordo com cientistas a capacidade de armazenamento de informações de um cérebro normal é de 10 trilhões de informações, entretanto como já citado anteriormente, a questão atual trata-se em como essas informações são armazenadas, visto que não é possível comprovar algo em que está salvo somente no cérebro humano. Com isso, entre os anos 1940 e 1970, se inicia a era do desenvolvimento e avanços tecnológicos. Depois do surgimento do jornal, a ideia de levar conhecimentos importantes ao público começou a ser difundida passando pelo telefone, rádio e televisão até chegar onde estamos, a Era da Tecnologia e da Informação.

Essa era, formou-se através da fusão de três vertentes: a informática, as telecomunicações e as mídias eletrônicas. O surgimento do computador interligado à internet atua na sociedade de diversas formas, seja ela educacional, informacional, com forma de entretenimento e até mesmo com as fake news. As ferramentas digitais apresentam uma vasta gama de oportunidades de fácil acesso, onde a comunicação coletiva acaba se tornando alvo do capitalismo e consequentemente um produto. A inserção das TICs em ambientes educacionais por exemplo, surge com desafios pois a luta para encontrar o melhor meio de obter informações relevantes é árdua. A ideia inicial era não somente facilitar o trabalho dos educadores como também mostrar a realidade do mundo fora da sala de aula.

Como diferenciar informação coerente de fake News/produto?

Historicamente é impossível falar de comunicação sem lembrar ou citar a terceira fase da Revolução Industrial, conhecida como Técnico-Científico Informacional ou simplesmente “Era da informação” tendo como base o avanço da tecnologia, da informática e da eletrônica. A questão da democratização do conhecimento é amplamente questionada. Levando em consideração que embora seja viável obter informação de todos os lugares, essas informações não necessariamente serão confiáveis e por isso ferramentas de apoio servem como auxílio para se obter informações de forma segura. O próprio banco de dados é uma dessas ferramentas, embora seja pago, em grande parte dos casos, é uma maneira de contribuir para o serviço prestado pela fonte sem o correr o risco de cair nas mãos das fake news. Em suma, os argumentos utilizados por Marco Antonio Roxo e Seane Melo (2018, pg.4) o fenômeno das notícias falsas emerge a partir do ganho de autonomia do campo jornalístico sobre outros campos de produção cultural, tal autonomia seria expressa através da influência cultural do texto das técnicas utilizadas no jornalismo. Tendo como ponto central para o estudo de fake news as estratégias de autoridade jornalística.

Tal definição exclui vários primos próximos das fake news: 1) erros de comunicação não intencionais, como uma reportagem recente que informou incorretamente de que Donald Trump havia removido um busto de Martin Luther King Jr. do Salão Oval da Casa Branca; 2) rumores que não se originam de uma determinada notícia; 3) teorias da conspiração (estas são, por definição, difíceis de verificar como verdadeiras ou falsas, e são tipicamente originadas por pessoas que acreditam que sejam verdadeiras); 4) sátiras improváveis de serem mal interpretadas como notícias factuais; 5) declarações falsas de políticos; e 6) relatórios que são tendenciosos ou enganosos, mas não totalmente falsos (na linguagem de Gentzkow, Shapiro e Stone 2016, notícias falsas são “distorção”, não “filtragem”) (Alcott e Gentzkow, 2017, p. 214).6

Com todas as definições sobre fake News, cabe a sociedade aprender a diferenciar o que é, de fato, verídico do que é falso. As eleições de 2018 no Brasil, assim como as eleições dos Estados Unidos em 2016, foram marcadas por uma onda de notícias falsas que impactaram diretamente nos resultados final. Até hoje, questiona-se nos dois países se as eleições foram ou não alvo de fake news comprometendo sua validação. O G1 apresenta uma lista de dicas de como fazer esse processo de diferenciação de notícias, conhecer a fonte, verificar se a notícia foi assinada e por quem estão entre as cinco mais recomendadas. O site traz como exemplo o suposto cancelamento do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2012, onde o link da reportagem foi lançado nas vésperas da prova, sendo que datava uma notícia de 2009, quando o Enem foi adiantado devido ao furto das provas.

Deste modo, é notório que a informação pode servir de produto movendo o mercado capitalista, geralmente através de fake news, como também pode ser um produto de forma confiável e de qualidade, através de meios jornalísticos, livros didáticos, alguns canais de televisão e até mesmo podcasts. E ainda por último, é possível a informação ter somente a intenção de informar, sem fins lucrativos. Embora seja difícil manter um trabalho não remunerado ao mesmo tempo, a ideia de oferecer conteúdo de qualidade para qualquer público possui certa importância. Lembrando que a Lei de oferta e procura também se aplica na área da comunicação de forma lucrativa, onde a demanda busca estabilizar a procura e a oferta de um determinado bem ou serviço.

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Fabrine Bartz
Fabrine Bartz

Jornalista. Produtora da BandNews Porto Alegre e pesquisadora da interseccionalidade nos novos formatos jornalísticos