Uma luta constante

Fabrine Bartz
Fabrine Bartz
Published in
2 min readMar 4, 2021

A gente vive uma luta diária pela nossa existência. O medo é algo que nos acompanha todos os dias, desde o acordar até chegar em casa. Ao abrir os olhos, pensamos em qual roupa colocar, de preferência algo que cubra o máximo possível do corpo para evitar o assédio durante o caminho e no trabalho.

Photo by Molly Belle on Unsplash

Calça jeans e casaco longo escolhido, hora de tomar o café da manhã e estender as roupas, tudo feito por nós, enquanto eles ainda dormem. Café tomado, roupas estendidas, louças lavadas, cabelo devidamente penteado e nos lábios, um batom discreto quase imperceptível.

Ao sair na rua, os passos aceleram a cada movimento estranho. Obras em construção são desviadas sempre que possível, pois geralmente ocorrem comentários indevidos, mesmo que seja uma troca de olhar e um “nossa que maravilha”. Isso não é um elogio! E precisa ficar claro. Chegamos no trabalho, lugar este gerenciado por homens em que além de receber um salário melhor, nos pedem que sirvam café. Isso quando há trabalho, pois na hora da escolha da vaga, a empresa se diz aberta à inclusão, mas não toleram cinco minutos de atraso nos dias em que é necessário levar o filho para escola, pois o pai não fica responsável por isso. E quando este fica, quem recebe comentários como “com quem está seu filho?” somos nós. Uma vez que é completamente incompreensível que o menino esteja sozinho com o pai dele.

O mesmo ocorre durante as viagens, passeios e até mesmo entre a família. Ah! Já estava esquecendo de que amamentar a criança em público também é falta de respeito, pois estou expondo meu corpo e alimentando meu menino, mesmo que esse alimento contenha todos os nutrientes necessários para sustentá-lo. Sem contar que se em algum momento a sociedade descobre que não, não queremos ter filhos, pronto! Há todos os motivos para sermos julgadas de insensíveis, irresponsáveis e incoerentes, enquanto meu namorado nunca foi sequer questionado sobre isso. E se fosse, não teria problema porque homens são assim e eles podem escolher não procriar.

Há tantos outros fatores que nos levam em busca de direitos que nunca tivemos. Entre eles, o direito de escolher o que fazer com o nosso corpo, o direito de expor nossas ideias sem sermos menosprezadas e chamadas de fúteis, o direito de não ser violentada, estando ou não de short e batom vermelho. Estamos em uma luta diária pela nossa existência!

--

--

Fabrine Bartz
Fabrine Bartz

Jornalista. Produtora da BandNews Porto Alegre e pesquisadora da interseccionalidade nos novos formatos jornalísticos