nataliatrotte
5 min readApr 12, 2016

Crianças no mundo virtual

Muitas crianças ultrapassam o limite de horas recomendadas na internet

É notável que a era digital está mudando o comportamento e o estilo de vida de crianças e adolescentes. Smartphones, tablets, notebooks e seus diversos aplicativos fazem com que a relação entre as pessoas no mundo virtual se torne mais frequente do que no mundo real. Mas até que ponto isso é produtivo?

Sofia aos oito anos ganhou um tablet, aos dez o primeiro celular, hoje aos doze anos costuma usar a internet de quatro a cinco horas por dia. Quando você pergunta a ela com que mais gosta de brincar a resposta é: “ Eu adoro brincar com meu cachorro e com o meu tablet, tem muitos jogos divertidos”, diz Sofia Vidal.

Sofia brincando com o cachorro — Foto: Paula Vidal

A mãe de Sofia conta que ela adora jogos de culinária e corrida. “Ela gosta muito de cozinhar no tablet mas quando peço pra ela me ajudar a fazer algo a preguiça aparece. No virtual isso parece ser mais fácil né? Você monta tudo e depois deleta”, diz Claudia Vidal.

Sofia usando o tablet no conforto de casa — Foto: Paula Vidal

Tudo o que Sofia faz pela internet ela poderia fazer no seu dia-a-dia. Cozinhar em casa, conversar pessoalmente com seus amigos, brincar de pique-pega. Mas por quê fazer sujeira em casa e para que ir até os lugares se é possível conhecer tudo e o mundo todo através de uma tela, deitada no sofá no conforto de casa?

Para Márcio, pai de Sofia, ela não sabe usar a internet a favor da escola. “Se depender dela só usa para jogo e conversar com os amigos, eu que ensino a pesquisar na internet para fazer os trabalhos da escola e mesmo assim ela as vezes esquece. Agora ela ganhou um computador só para fazer os trabalhos, mas ela mal toca nele. Já aconteceu dela não fazer o trabalho e passou o dia todo na internet. Depois disso tirei o celular dela e passei a controlar”, diz Márcio Felga.

“Controlar” é a palavra usada também por Steve Jobs em relação aos filhos. Apesar de ser um executivo do ramo da tecnologia, Jobs limitava ao máximo o tempo que os filhos podiam mexer em ipads e iphones.

Em entrevista ao repórter Nick Bilton do jornal The New York Times, em 2010, Jobs disse que os filhos ainda não tinham usado ipad e que controlava o tempo de uso dos filhos em relação a todo tipo de aparelho tecnológico em casa.

Por que será que ao contrário da maioria dos pais que numa tentativa de conter os filhos e mantê-los quietos dão logo um aparelho tecnológico para a distração das crianças, Jobs determinava um tempo de uso para os filhos?

Steve Jobs — Foto: Matthew Yohe / http://migre.me/tuTLw

Talvez, como um dos inventores desta tecnologia saiba também os males que o uso em excesso desses aparelhos pode causar. O uso se torna perigoso qutornar um vicio na vida das pessoas.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria cada vez mais a insônia e a irritabilidade das crianças têm relação com o excesso no uso de tecnologia.

“As horas de sono no início da noite são fundamentais para o desenvolvimento da criança, já que o hormônio do crescimento é estimulado a noite, além disso, uma noite mal dormida pode provocar déficit de atenção, prejudicando o aprendizado e o desenvolvimento da criança”, disse o Presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, Eduardo Vaz, em entrevista a coluna Saúde em Pauta, na TV Bandeirantes.

Ainda segundo Eduardo Vaz, crianças de até dois anos não devem ter acesso a nenhum tipo de tecnologia e após essa idade é necessário que seja imposto um limite de até duas horas diárias, incluindo televisão, para evitar dor de cabeça, dor no corpo, irritabilidade, agressividade e queda do rendimento escolar.

Para Vaz é fundamental o equilíbrio, por isso, buscando amenizar esses impactos foi lançada a campanha Receite um Livro, pela Sociedade Brasileira de Pediatria. Agora os pediatras não devem apenas receitar remédios para cuidar da saúde da criança, mas também estimular o incentivo à leitura, receitando um livro sempre que a criança for a uma consulta.

Criança lendo um livro — Foto: Pinterest /http://migre.me/tuTJ0

Alguns pais postam vídeos no YouTube dos filhos brincando em casa e o número de acesso a esses vídeos vem crescendo a cada dia, isso acontece porque muitas crianças gostam de assistir as brincadeiras de pessoas da mesma idade na internet e ficam horas hipnotizadas vendo o outro brincar. Como se fosse mais interessante ver a brincadeira do outro, acompanhar a vida de outro do que brincar.

A psicóloga Julia Cristina Trotte explica que a geração Z, formada pelas crianças que nasceram a partir da segunda metade da década de 90, lidam com computadores, tablets, smartphones e internet como nova forma de aprendizado. Além de que com o aumento da violência, os pais acabam optando pela acomodação e segurança de sua casa.

Com isso, a socialização pode se tornar complicada. Não é apenas o problema social ou de desenvolvimento.

“É fundamental que as atividades ao ar livre, brincadeiras com grupos, existam na programação educacional das crianças, estimulando o contato, as trocas de experiências, visto que, alguns estudos demonstram os comprometimentos da saúde física e mental como obesidade, dificuldade de relacionamento, auto estima rebaixada, ansiedade, frequentemente constituindo sintomas em crianças que permanecem mais de três horas diárias no computador”, diz Julia.

A tecnologia se usada com critério, limites de tempo e objetivos, torna-se um instrumento que pode favorecer o desenvolvimento de algumas habilidades. Quando utilizada excessivamente, pode prejudicar a vida social, atividade física e a descoberta de coisas novas fora do mundo virtual. O segredo, segundo a psicóloga é despertar algo novo nas crianças, brincadeiras ao ar livre, leitura de algo que tenha interesse para eles e eventos diversos.

A Juliana Baltar tem uma conta no YouTube que possui muitas visualizações e em um dos vídeos ela mostra a diferença das brincadeiras anos atrás e agora com toda tecnologia presente.

Acesse o link https://www.youtube.com/watch?v=jnsZ98tGInc

Por: Natália Trotte e Paula Vidal