Como nosso conteúdo virou educação

Rafael Avila
Fala Clara
Published in
7 min readJan 31, 2017

Quando entrei na LUZ, em 2011, a gente acreditava profundamente na capacidade do empreendedorismo para mudar a vida das pessoas para melhor. A nossa contribuição no alcance desse propósito acontecia por meio de consultorias de gestão para micro e pequenas empresas, startups, empreendedores e incubadoras.

Além das consultorias, também desenvolvíamos posts diariamente com temas atuais sobre modelos de negócios e tendências, por exemplo, cheios de opiniões e com pontos de vista fortes para o nosso blog.

Aumentando o impacto

Na época, atendíamos com a nossa capacidade máxima, uma quantidade média de 100 empresas por ano, concentradas majoritariamente no Rio de Janeiro. Por mais que soubéssemos do impacto positivo que a gente proporcionava para esses clientes, acabamos mudando o modelo de negócios para a venda on-line de planilhas empresariais e ampliando o nosso alcance para além da nossa cidade.

Quando paramos de fazer consultorias e fomos para o mundo on-line, gradualmente percebemos que só as planilhas não satisfaziam por completo o nosso objetivo de ajudar o empreendedor. Por mais que elas fossem muito boas para auxiliar na gestão prática, sem conhecer pelo menos um pouco dos métodos usados nelas, as planilhas perdiam aplicabilidade.

Por isso, ao longo dos anos seguintes começamos a produzir conteúdo com dois objetivos: ajudar nossos clientes a usar melhor as planilhas e gerar crescimento orgânico para a nossa marca.

Desenvolvemos textos sobre métodos de gestão e Excel, mostramos exemplos de aplicação das planilhas em diferentes situações, inserimos conteúdos e vídeos nas próprias planilhas, gravamos palestras e tutoriais on-line, entre outras atividades.

Esse foi um dos primeiros passos de um processo de amadurecimento do nosso conteúdo, iniciado em 2013 e que ainda contou com diversas outras estratégias. Nos anos seguintes, fomos da produção exclusivamente interna para a criação de posts, em parceria com uma produtora especializada.

Depois de um tempo, com publicações diárias focadas em palavras-chave específicas, nosso blog passou a ficar conhecido e com um bom posicionamento nas buscas do Google, crescendo com um resultado de mais de meio milhão de visitantes únicos por mês.

Esse crescimento não foi só de visitas, pois todo esse conteúdo gerado passou a ser responsável por cerca de 20% do nosso resultado financeiro.

Um resultado inesperado

Um outro efeito que a gente não esperava desse esforço foi o fato de diversas pessoas e parceiros nos enxergarem, em parte, como uma empresa educacional. Nessa época havíamos feito parcerias com empresas e instituições como a PEGN (Pequenas Empresas, Grandes Negócios), HSM, SEBRAE, MBA60, entre outras, que reforçaram essa ideia de que o que a gente fazia tinha a ver com educação.

No caso da PEGN, a parceria era relacionada à divulgação das nossas planilhas dentro de uma área do site deles destinada à educação.

Ou seja, apesar de não ter sido o nosso foco inicial, tanto quando fazíamos as consultorias como quando desenvolvíamos as planilhas em excel, a gente acabava usando a educação como forma de aumentar a satisfação e a eficácia dos nossos produtos ou serviços.

As limitações desse conteúdo

Apesar da felicidade de ver uma estratégia de marketing funcionando e gerando resultados (tanto de acessos, como de comentários e interação), existia um grande problema que só agora, nesse momento de transição, nos pareceu pertinente.

Se por um lado estávamos sendo vistos como uma empresa de educação, por outro, estávamos descobrindo uma grande limitação desse conteúdo que havíamos desenvolvido.

Internamente, a gente sentia que tinha perdido o contato com o cliente. Nós não monitorávamos se ele tinha se desenvolvido, se a empresa dele tinha melhorado, apenas desenvolvíamos conteúdos "educativos".

Para você ter uma ideia, ao longo desses anos, produzimos mais de 850 posts sobre gestão e Excel para o nosso blog, umas 150 planilhas, mais de 770 vídeos entre tutoriais, palestras on-line e cursos de Excel, cerca de 20 e-books, infográficos, PPTs, entre outros.

O problema é que todo esse conteúdo criado sempre esteve totalmente desestruturado e espalhado por diversos canais diferentes. No final do dia, ele não cumpria um verdadeiro papel educacional de oferecer feedbacks, ter uma continuidade e de evoluir em uma linha pedagógica bem definida.

Não estou dizendo que esse material não tinha ou tem valor. Pelo contrário, a maior parte desse conteúdo trazia pontos de vista sobre gestão inéditos e diversas dicas úteis, mas se estávamos realmente dispostos a ajudar nossos clientes, leitores e usuários a resolver seus problemas e desafios, precisaríamos fazer isso de maneira mais profunda.

Nesse momento, no início de 2016, a educação passaria a ser o nosso foco principal.

Por onde começamos

Com nenhum background em educação e uma necessidade de definir o modelo que seguiríamos, nos perguntamos “quais ferramentas educacionais oferecem uma experiência inovadora?”

Duas empresas ligadas ao universo da educação foram as respostas que nos inspiraram fortemente nos primeiros dias de planejamento da Clara:

A característica em comum de ambas é o foco na prática.

Toda a experiência no Duolingo é de atividades práticas e de exercícios de tradução, ou seja, o tempo inteiro você interage com o aplicativo para construir um novo conhecimento.

Já o Codecademy tem no seu design algo muito forte voltado para a prática: 25% de espaço é destinado para conceitos (lado esquerdo) e 75% de espaço para praticar programação (lado direito).

Também contamos com alguns livros que abriram nossas cabeças e ajudaram no direcionamento sobre o que queríamos em relação à educação on-line:

O cenário atual

Além dessas referências iniciais, paramos para refletir sobre toda a nossa experiência com educação formal. A verdade é que a gente sempre questionou o formato e a aplicabilidade do que é aprendido nas universidades e na maior parte dos cursos on-line voltados para gestão.

Para você ter uma ideia, três das principais competências necessárias para administrar o seu negócio (controle do fluxo de caixa, criação de um processo de vendas e contratação de pessoas) não estão nos currículos das principais universidades do país. Caso você queira ler mais sobre esse buraco na nossa formação, recomendo esse post.

Se olharmos para MBAs, cursos de gestão empresarial e muito do conteúdo que está disponível na internet veremos mais uma vez uma grande quantidade de conceitos e teorias que têm um grande distanciamento da vida real.

E, do outro lado, se você parar para analisar as principais soluções de ensino a distância atuais, terá um modelo majoritariamente baseado em vídeos que, por mais que tenham uma proposta de modernidade interessante, possuem a mesma proposta de conceitos sendo absorvida de maneira passiva.

Ou seja, durante a maior parte da sua experiência nas universidades ou em cursos on-line você está apenas em contato com atividades ou conteúdos mais abstratos e conceituais. São pencas de textos para ler, muitos power points mal feitos e aulas chatas (por vídeo ou não).

O foco na abordagem prática

Todas essas percepções foram sendo absorvidas de maneira rápida e em pouco tempo nós já tínhamos uma oportunidade que queríamos perseguir: desenvolver uma plataforma de ensino de gestão com uma abordagem majoritariamente prática.

Em primeiro lugar, escolhemos juntar o conteúdo textual de gestão que havíamos desenvolvido com o ferramental das nossas planilhas para criar uma educação prática e proativa.

Esse foi o nosso primeiro modelo e o passo inicial para transformar o abismo do nosso conteúdo desorganizado em algo realmente prático e que a gente acreditasse que pudesse fazer a diferença na aprendizagem de gestão por empreendedores.

O conteúdo e a estrutura da plataforma foram evoluindo a partir de muitas conversas e testes que realizamos com a nossa equipe, amigos e clientes em potencial até chegarmos ao modelo atual da Clara, uma mentora virtual que ajuda empreendedores a resolver seus desafios de gestão de maneira prática.

Acreditamos ter conseguido fazer a transição dos nossos conteúdos educacionais desestruturados para um modelo completo, interativo e que faz o empreendedor chegar mais perto de um ensino que tenha ligação com a sua realidade.

Esse modelo de interatividade e pegada prática é o que acreditamos que qualquer conteúdo, material educativo, curso ou plataforma tem que ter. Não podemos mais aceitar formatos de aprendizado de empreendedorismo 100% passivos e conceituais.

Dessa forma, acreditamos que teremos mais empreendedores ajudando a mover a sociedade para frente.

E você, acredita que estamos no caminho certo? Como podemos melhorar? Converse com a Clara e me dê a sua opinião aqui nos comentários. No próximo post eu vou explorar como o empreendedor aprende.

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