O empreendedor não aprende como o universitário

Rafael Avila
Fala Clara
Published in
8 min readMar 14, 2017

Eu já falei sobre como a educação passou a ser a nossa grande prioridade e de como buscamos um modelo interativo e prático para a Clara no meu último post.

O que eu não falei foram os motivos que nos levaram a escolher o modelo pedagógico da Clara como ele é hoje e isso tem uma forte relação com a experiência que eu e meus sócios tivemos na universidade e na forma como o empreendedor aprende.

Minha experiência na faculdade

Na faculdade de Turismo eu passei por todo um calvário de aulas chatas, extremamente teóricas e aprendi coisas que eu não fazia ideia se utilizaria algum dia. Tirando os amigos que levei comigo, seria justo dizer que não devo ter usado nem 10% do conteúdo que estudei por lá.

Talvez com a esperança de que as coisas seriam diferentes e melhores, acabei topando o desafio de fazer um outro curso superior (é, eu sou perseverante). Dessa vez, a minha empreitada seria na faculdade de administração da UFRJ.

Tirando o fato de que as disciplinas agora estavam voltadas para um currículo de gestão, a diferença para a minha primeira experiência foi muito pequena. Mesmo indo para um dos melhores cursos de administração de empresas do país (quarto para ser mais exato, segundo o ranking universitário Folha de 2016), todo o ensino continuou teórico e pouco aplicável.

Dessa vez eu fiz diferente. Além de ir nas aulas, comecei a trabalhar na empresa júnior de gestão de negócios da própria UFRJ e, a partir da metade do curso, mais ou menos, já estava empreendendo com a LUZ.

A discrepância entre o que eu aprendia na faculdade e o meu dia a dia empresarial era enorme.

A maior parte do que era ensinado nas aulas de administração talvez até servisse para profissionais com desejo de trabalhar em grandes empresas e corporações, mas a aplicabilidade em um pequeno negócio, como a LUZ, era quase nula.

Era muito frustrante ter que aprender/decorar um monte de matérias para tirar uma boa nota, manter um bom CR e passar em uma disciplina que muito provavelmente não seria aplicável na minha vida. Já na LUZ, tudo que eu aprendia (na prática) era usado para entregar mais valor no dia seguinte para nossos clientes ou mesmo para otimizar os processos e funcionamento da própria empresa.

Conversando com meus sócios (eles cursaram faculdades de administração e economia), percebi que a visão de que existia alguma coisa errada na forma como essas faculdades estavam ensinando não era só minha. Se gestores de pequenos negócios e futuros empreendedores tinham desafios tão diferentes, por que deveriam aprender igual a todos os outros universitários?

As primeiras descobertas

Quando começamos a desenvolver a Clara e estávamos validando nossas ideias, contratamos a Lupa, uma agência cuja proposta é conectar marcas aos seus públicos de interesse. Eles fizeram uma pesquisa em nível nacional para nos ajudar a entender as preferências educacionais dos nossos clientes.

Essa pesquisa nos apontou para dois caminhos completamente diferentes, identificando os principais perfis com os quais tínhamos contato:

  • Perfil Competidor - Disputam os espaços de trabalho existentes e buscam sua realização profissional dentro de empresas.
  • Perfil Criador - Criam novas estruturas e buscam de forma autônoma a concretização de seus objetivos.

Como você deve imaginar, os objetivos de aprendizado, o que eles esperam de uma instituição de ensino e desejos educacionais são bastante diferentes um do outro.

Enquanto o perfil competidor normalmente busca instituições notáveis que dêem um peso maior aos seus currículos profissionais e ajudem com promoções e a crescer dentro da empresa, o perfil criador quer aprender habilidades específicas para realizar algo dentro dos seus projetos e superar desafios, independentemente do renome ou currículo que isso gere.

No final das contas, parecia que estávamos fazendo uma mistura de propostas para atender esses dois perfis diferentes. Ao mesmo tempo que tínhamos uma proposta inovadora e prática, ainda nos comunicávamos como todas as universidades fazem.

  • Tínhamos uma lista de cursos
  • Usávamos uma grade para nossas "aulas"
  • E até oferecíamos um certificado ao final dos cursos

O que tínhamos desenvolvido não ajudava completamente nenhum dos dois perfis. A nossa proposta de ensino atendia o criador, pois era um modelo prático, interativo e flexível, mas o nosso produto tinha uma "embalagem" que se comunicava mais com o competidor.

Precisávamos entender mais a fundo como o criador aprendia para criar uma proposta de ensino com uma metodologia mais bem definida.

Além da nossa percepção, a Lupa também fez um teste de aderência, conversando com pessoas que se enquadravam nesses dois perfis. Esse teste nos deixou com a certeza de que tínhamos muito mais possibilidades e afinidades com os criadores/empreendedores do que com os competidores.

Como os empreendedores aprendem

Normalmente, no processo de abertura e gestão de suas empresas, a grande maioria dos empreendedores vai se deparar com uma quantidade enorme de desafios.

São dúvidas de como se formalizar, dificuldades para começar a vender, para analisar o financeiro, de organização e mais uma infinidade de questões das mais diversas áreas que vão surgindo no dia a dia.

O problema é que o conhecimento de gestão disponível hoje é restrito e muito pouco aplicável para a realidade da maioria desses empreendedores. Veja como as principais opções de educação de gestão que temos disponíveis não ajudam:

  • Faculdade presencial: Começar um curso completo visando o empreendedorismo e ficar preso em uma sala de aula não funciona. Para piorar, na maioria das vezes a faculdade de gestão não vai nem te ensinar o que você precisa saber sobre o seu negócio.
  • Ensino à Distância: Essa até é uma facilidade para o consumo do conteúdo que cada vez mais universidades e plataformas de ensino (MOOCs) como o Coursera e o Udacity vem disponibilizando. Mas se você for analisar a essência do que é ensinado, verá que tem muito mais teoria do que prática e problemas similares aos da faculdade presencial.
  • Google/Youtube: O empreendedor mais autodidata até consegue buscar respostas para seus desafios, mas fica sem saber se pode confiar ou não nos resultados que encontra em um mar de conteúdos fracos e poucos relevantes.

A verdade é que temos milhões de empreendedores perdidos, resolvendo muitos de seus problemas na tentativa e erro, buscando alguma solução em um mar de possibilidades e, no final das contas, percebendo que não mudaram em praticamente nada suas realidades.

Eles precisam de soluções rápidas que respondam aos desafios que surgem em seus negócios naquele momento. Eles precisam correr, apagar incêndios, conseguir soluções para mil tarefas diferentes, com a corda no pescoço diariamente, sozinhos e famintos.

Como a educação para empreendedores deve ser

Não é fácil mudar um modelo que já existe e "funciona" há séculos. Mas se ele está igual há tanto tempo, com tantas pessoas insatisfeitas, reclamando e percebendo problemas cada vez mais graves, será que ele funciona mesmo?

Acreditamos que o modelo tradicional coloca o “aluno” em uma posição passiva e isso não cola para empreendedores. Essas pessoas precisam fazer e ver acontecer. Estão cansadas de ler livros e assistir a vídeos teóricos que não funcionam quando a prática chega.

Por acreditar que o empreendedorismo é uma área estratégica para o país e que os empreendedores não estão tendo a atenção que merecem, resolvemos comprar a briga e criar um novo modelo educacional prático e interativo!

Toda essa reflexão fez com que a gente mudasse completamente o conceito inicial da Clara. Hoje ela não tem mais listas de cursos ou certificados. A nossa plataforma tem uma proposta e objetivo muito claros: ajudar o empreendedor a superar seus desafios.

Isso é feito de uma maneira interativa. Em uma conversa agradável com a Clara, você decide o caminho que vai seguir, baseado nos problemas que enfrenta no seu negócio.

E a partir do caminho escolhido, você se coloca no papel de um empreendedor em uma história real, tendo que tomar as suas próprias decisões.

Dessa forma, todo o seu aprendizado se dá de maneira prática, com conteúdo específico para ajudar a resolver o desafio que você está enfrentando no seu negócio.

Nada de consumir conteúdo inútil só porque ele faz parte de um currículo "obrigatório" ou porque talvez você precise dele em algum momento da sua vida. Aqui você é o protagonista. É você quem diz o que é importante e o que quer aprender.

Além disso, só a pegada prática e conversacional não basta, é preciso mais. O empreendedor tem um comportamento e rotina completamente diferentes do profissional que quer aprender como um universitário.

Por isso a educação para o empreendedor precisa:

- estar onde ele está: preparada para celulares, na palma da mão

- ser real: mostrar casos reais e a experiência de outros empreendedores

- ser prática: com conceitos, mas muito mais mão na massa e interativa

- conectar: com uma comunidade de empreendedores com desafios em comum

Ela não pode se pautar nos modelos tradicionais e formais que encontramos nas principais instituições de ensino do Brasil.

E é por isso que a Clara é do jeito que ela é. Uma mentora virtual que pode ser acessada de qualquer lugar, a qualquer hora, em qualquer momento, com jornadas práticas baseadas na história real de milhares de empreendedores e com uma comunidade que facilita a troca dessas experiências e desafios.

Ainda temos muito o que evoluir, mas estamos enxergando cada vez mais para onde estamos indo. Se você tiver alguma opinião sobre como prefere aprender, uma crítica ou sugestão sobre a Clara, eu adoraria ouvir (ler), basta comentar aqui embaixo.

No meu próximo post vou te mostrar a nossa metodologia, como ela tem evoluído desde a nossa primeira versão e o que ainda falta melhorar.

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