Atenção Seletiva

Leopoldo Jereissati
Fala Man
Published in
7 min readMay 18, 2020

Escolha viver melhor

Com mais de 60 dias na quarentena, dá para dizer que criei novos hábitos. Talvez o mais gostoso deles foi o de contemplar. Contemplação vem do Latin contemplāri: olhar atentamente, considerar e meditar. Das coisas que tenho curtido e vocês também, com certeza, é o outono; mais especificamente as tardes e seus pores do sol. Eu particularmente tenho 34 outonos nas costas, mas esse está sendo o primeiro que escolhi voltar a minha atenção para.

O Chamado — Todos lembram desse dia…

Hoje a tarde, resolvi fazer uma caminhada pela Vila Nova Conceição com um único objetivo: contemplar as casas do bairro. Você já deve ter ouvido ou dito a frase: “a gente nem repara de carro”. Pois bem, não mesmo; e já que o prefeito restringiu o rodízio para dias pares e ímpares, ficou ainda mais fácil de você por sua máscara e esses pés na rua. Eu podia ter reclamado do absurdo desse “decreto” mas escolhi não dar atenção para isso. Você já tinha olhado para o mês à luz de dias pares e ímpares? Foi a primeira vez que encarei dessa forma. Talvez muitas coisas na vida agora possam passar a ser dia sim e dia não, e não mais segunda a sexta vs. final de semana. Por exemplo depois da quarentena vou ficar 6 meses sem beber — um dia sim e outro não! Rsrs. Você quem escolhe como quer acumular os próximos 6 meses da sua vida.

A rota que fiz tem aproximadamente 2 quilômetros e segue abaixo:

Vila Nova Conceição — ao lado do Parque do Ibirapuera

No dia a dia, recluso em casa com a minha esposa, passei de quase não a ver pela correria, para conviver intensamente e mais recentemente a contemplá-la. Agora quando olho para ela não vejo simplesmente alguém com quem me casei mas toda a trajetória maravilhosa que ela construiu. Como ela cresceu, evoluiu, aprendeu, ensinou, viajou, comprou, vendeu, trabalhou, se divertiu: viveu! E que benção eu poder ter feito e estar fazendo parte de tudo isso ao lado dela. Já pode ser mãe viu… só dizendo… não que eu esteja doido para ser pai não… A gente combinou que ela escolhe quando e eu quantos rsrs.

As plantas que eu mal sabia em que canto da casa ficavam agora as rego e contemplo suas transformações. To pensando em dar nome para elas. Podei a jabuticabeira da agência que há muito precisava de uma forcinha para dar aquela arribada, passei “veneno” nas jibóias que estavam cheias de coisas brancas nas folhas. Até uma lagarta apareceu embaixo do meu sofá rsrs. A danada tava tão gordinha que imagino que vivia há alguns meses no vaso e a gente nem teria se ligado em nada disso em outros tempos.

A cozinha que sempre foi um lugar de certa aversão para mim, confesso, tem se tornado um cantinho agradável onde começamos a preparar juntos diversos pratos novos que ainda que básicos para muitos, um novo mundo para mim. Começamos a tomar vinho atrás de vinho, hábito que não tínhamos. Passei a contemplar as uvas e o design dos rótulos. Até tranca começamos a jogar noite a dentro juntos e isso me lembrou um hábito antigo do meu avô que estendia na mesa de madeira da fazenda no MS uma manta xadrez paraguaia para que as cartas não escorregassem e colocava um “purinho” (dose de Old Parr) do lado para jogar; Paciência no caso.

Quando faço um “call via Zoom” com a minha equipe na agência, não vejo apenas pessoas do lado de lá, mas toda a trajetória e evolução deles ao longo dos últimos três ou quatro anos. Muitos já liderando equipes com mais de 4 colaboradores cada e dando show com a clientela em meio a todo o caos. Estamos crescendo e segurando os empregos. Vejo como privilégio isso até o momento e grande responsabilidade de recolocar no mercado muita gente boa que perdeu o seu posto do dia para noite. Já geramos 6 novas vagas até agora e se tudo der certo serão mais 8 em breve.

Uma expressão que escuto bastante na comunidade do Sistema B é: “me senti contemplado(a)”; por algo. Por exemplo, pelo seu comentário ou pelo que lemos hoje aqui no artigo e etc. Um jeito gostoso de dizer “é isso aí porra, tamo junto!”. Falando em contemplação, lembrei de um comentário do Lemann em algum evento sobre ele e seus amigos:

“Tenho amigos importantes que sempre se encontram para observar passarinhos nos Estados Unidos. À noite, as conversas eram sempre sobre a beleza do canto dos pássaros. Fiquei uns cinco anos sem fazer esse programa. Fui recentemente com eles e as conversas foram sobre os dados estatísticos da migração dos pássaros. Até olhar passarinho agora se baseia em dados”.

Enquanto muitos senhores escolheram se acomodar, ou desistir, esse cara escolheu se adaptar e passou a investir uma grana em Unicórnios, as chamadas startups que deram certo pra caramba! Assim como os pássaros migratórios o mundo está migrando aceleradamente para o full digital. Até quanto você consegue fazer com que seu negócio seja operado remotamente e ou como tem repensado os canais digitais, de delivery e de prestação de serviço? Eu nunca fui fã de estudar mas sempre gostei de aprender e não tem escola melhor do que a da vida e a da necessidade. Esse final de semana comecei meu curso EAD (ensino a distância) de Lógica de Programação. Estou aprendendo a fazer os códigos que ficam por trás dos emails-marketing que enviamos e por exemplo dessa tela que você está lendo agora, chamado HTML (HyperText Markup Language), javascript e CSS. Tudo isso é front-end. Eu sei que são nomes complicados e um assunto, que assim como o outono, nunca tinham me chamado à atenção para. Agora, escolhi olhar para eles de outra forma e mergulhar nesse novo mundo da programação. Que programa faremos hoje? A interpretação antes direta já passa para uma nova ambiguidade e apontamento da resposta à depender quem estiver me perguntando isso.

Meu primeiro código em HTML. — 16 horas ou 2 temporadas de algo no Netflix.

Se você ainda não entendeu, não será o Mandarin a língua obrigatória depois do Inglês como diziam há 20 anos que seria e sim as linguagens de programação. Uma não exclui a outra mas por foco, entra em contato com a galera da Happy Code que é a nova Alumni/Cultura Inglesa para os seus filhos aqui no Brasil. Fora eles também tem Osmo Coding, Tynker, Khan Academy, edX, Udacity, Coursera, code.org, Codesters entre outras muitas formas de aprender a “codar”. O mais curioso é que aprendi isso com um senhor de mais de 60 anos chamado Ray Kurzweil, fundador da Singularity University ano passado no Vale do Silício. Ele publicou recentemente um livro chamado “Danielle — Chronicles of a Superheroine”. Eu acabei de dar de presente para a minha sobrinha de 10 anos. Talvez seja puxado para ela entender agora, mas meus sobrinhos próximos aos 20 anos (+/- 2 anos) podem ler e ajudá-la a compreender o novo mundo de possibilidades que se abre para essa nova geração, para os três na verdade, e para nós também.

Programa Executivo #50 — Singularity University — Ray Kurzweil & Eu.

Com saudades das conversas fiadas e prosas de boteco com meus amigos, enquanto eu contemplo o bar aqui da esquina da Santo Amaro, me lembrei de uma passagem quando o meu amigo Ruano perguntou para o seu Tio, sobre a origem etimológica da palavra Araçatuba, mais conhecida como Texas Brasileira. E ele então disse:

Tio: — Araçá é uma frutinha da região.

Ruano: — E o Tuba?

Tio: — Hhhmmm… Tuba era a tribo de índios que ficava comendo o Araçá.

Tem fundamento pois uma das versões da toponímia é essa mesmo: Do fruto araçá presente na região e sua abundância. O “tuba” é que é controverso e replicável para dezenas de cidades Brasil a fora: Ubatuba — Uba era uma frutinha… Tuba eram os índios que comiam a Uba… e por aí vai. Como disse, conversa fiada…

Essa é de hoje (17.05.2020) — Fui no mínimo 20 vezes acompanhar o por do sol nos últimos 40 dias

Ps: Calendário 66 Days — baixe agora e comece já seu novo hábito.

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