Bruxa de Blair

Leopoldo Jereissati
Fala Man
Published in
4 min readJul 22, 2020

Quem não assistiu vai ver esse ano.

Assistindo à uma entrevista do Tony Blair conduzida por um cara que tenho enorme admiração, Fernando Ferreira, durante um evento espetacular — o Expert XP — percebi como o cenário de troca e aprendizado entre China e EUA, ocidente e oriente, está ficando cada vez menos provável nos próximos anos. Vai ser a eleição mais feroz no âmbito da polarização, prato cheio para populistas de direita e esquerda, péssimo para quem anda no centro. Sabe que toda vez que alguém com mais idade mostra enorme domínio e clareza sobre o mundo atual eu me surpreendo?! Como se não fosse o óbvio, que a sabedoria viesse exatamente de quem habita e influencia o globo há décadas. Acho que a fiquei muito tempo vendo unicórnios under 30, ou a mídia tem dado pouco espaço para conteúdos relevantes.

Nesse rolê da quarentena, que tá mais para quatro-meses-tena, discutimos com amigos e seus pais em uma video-aula de filosofia pelo Zoom, sobre como ficamos mais indiferentes e mais frios em relação aos outros. Como nos adaptamos rápido como seres-humanos à essa nova realidade e até que ponto podemos chamar uma sociedade ainda de humana cuja a regra é o distanciamento social. Nesse embate China vs. EUA, perguntei ao grupo o que diferencia os países asiáticos de nós, por que eles conseguiram “achatar a curva” mais rápido e as reflexões foram incríveis.

  1. Até que ponto vale o controle abrindo mão da liberdade? Em tese os regimes totalitários ou mais submissos ao governo conseguiram êxito na contenção do vírus.
  2. Considerando que a China não tem estoque de alimento para sua população para pouco mais de 30 dias, segundo um dos alunos, como é que faz para alimentar esse povo todo sem uma relação comercial construtiva?
  3. E a tecnologia? Que tende a avançar muito mais rapidamente e com maior eficiência em bases teste de 1 bilhão de habitantes com seus dados completamente expostos e entregues ao governo por lá? Um dos alunos comentou sobre o acesso que o governo chinês tem aos dados da criançada do mundo inteiro enquanto se divertem fazendo videos no Tik-Tok.

Será um duelo em que todos sairemos perdendo. Aqui e lá.

Voltando a entrevista do Blair, em uma pergunta pertinente sobre o que tem que ser feito nos governos para resolver as questões que emperram o país de andar para frente, a resposta veio de forma simples e clara:

“É relativamente fácil dizer o que deve ser feito: eliminar a corrupção, precisa ter uma regulamentação/legislação apropriada, regras previsíveis para investidores, um clima apropriado para que negócios possam crescer e prosperar, prover educação de forma adequada para a população e tem que ter uma máquina púbica enxuta e eficiente, não super-inflada. Também tem que garantir que as oportunidades sejam dadas de forma ampla e igualitária para a população pois o capital humano é o maior ativo de uma nação”.

Ainda segundo ele, fazer de fato é que é complicado, pois são diversos interesses e pessoas que entram cruzando o caminho. Eu achei super interessante o fato da fundação/consultoria dele ser então especialista em ajudar as pessoas e governos a conseguirem construir um caminho político para fazer a agenda andar. Aí voltando para minha aula de filosofia de ontem, vem nosso professor já há quase 5 anos, Oswaldo Giacóia, com uma tese pertinente que eu nunca sei se é dele ou do filósofo que ele traz para a aula como tema (no caso Giorgio Agamben), dizendo que a coisa não anda aqui no Brasil e em diversos outros países pois o sistema político atual só funciona sob estado de exceção — e não de regra; como proposto originalmente. Traduzindo pra nós leigos, é só na base do decreto, da emenda, da urgência, que a coisa flui. Aquele que deveria nos representar no congresso na prática não representa mais. Aqui tá um exemplo atual de como funciona a Pirâmide de Kelsen no Brasa para você ver na prática como o caldo desandou:

Pirâmide original à direita, pirâmide atualmente no Brasa criada por algum gênio da internet.

Ainda to pensando na Brahminha do último texto que escrevi… A Brahma Duplo Malte só chegou na minha geladeira porque o CEO da Ambev teve um insight de inovação que veio da China! Foi por lá que ele observou e aprendeu vendo o sucesso de um sorvete diferente no KFC, chamado Okinawa Sea Salt Milk Ice Cream que gerou inspiração para toda uma transformação de uma das maiores indústrias de bebidas no mundo. Imagina quantas Brahmas Duplo Malte deixaremos de conhecer com essa visão separatista, de Estado Nação, que só tende a aumentar nos próximos 5 anos.

Pohan.

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