Então é Natal…

Caos, amor e união

Leopoldo Jereissati
Fala Man
6 min readDec 21, 2018

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Fim do ano é uma época agitada. Todo mundo se movimenta muito e ninguém consegue fazer nada direito. Mesmo o melhor dos intencionados querendo focar no trabalho, tudo o que consegue é meia dúzia de reuniões canceladas e algumas oportunidades de última hora — bom para os atentos, desespero para outros. A cidade vira um caos e não tem mais “hora do rush”, agora é rush até o Natal!

Se desse pra resumir essa semana que passou seria algo como: “De dia sobrevivo, de noite comemoro” — Rotina?! Esquece; “estou chamando a ressaca de Rê”: confraternização com todos os Grupos do Whatsapp + Trabalho + Família. Sabemos que não dá, mas queremos fazer tudo; e assim fazemos. Quem paga a conta?! Nós mesmos, mas vale tudo — afinal é Natal!

Sabedoria vem com o tempo, e esse ano antecipar a data com quem a gente gosta foi uma das soluções mais simples e gostosas ever. Foram momentos deliciosos e mais íntimos sem aquele ciceronear todo da tradicional virada do 24 ou almoço do 25. A vida tem ficado mais simples — menos rococó mais hahaha. O final do ano puxa a gente para encontrar e doar algumas horas do nosso tempo para as pessoas que realmente importam, e nos lembrar de que deveríamos fazer isso mais vezes ao longo do ano. Puxa também para aguentarmos uns minutos àqueles que temos que nos livrar do compromisso mesmo, seja lá por qual motivo, e vice-versa.

Outro dia li um artigo muito interessante do Peter Diamandis — (Singularity University) sobre como a tecnologia tem influenciado os momentos em família. Hoje em dia, e cada vez mais, as noites são marcadas por incansáveis posts, stories, likes, tweets, facetimes e etc. Muita gente odeia isso por “nos deixar mais sozinhos mesmo quando estamos perto um do outro”. Será que isso é verdade mesmo?! Foi a provocação que ele trouxe. Quando olhamos sob uma perspectiva maior, não é a tecnologia que nos afasta — somos nós mesmos.

Source: xkcd.com/1601

Nós sempre demos preferência para termos o que queremos, quando queremos. O que passa é que a cada nova tecnologia que chega conseguimos isso mais rápido, mais barato, com mais qualidade e instantaneamente. Conseguimos nos conectar com quem quisermos quando quisermos, e essa tendência não para de crescer. Fato é que gostamos de romantizar o passado e reclamar do presente (literalmente) além de sermos resistentes a mudança. Dêem uma olhada nas imagens abaixo, que resumem tudo.

Hoje em dia no Metrô…
Ontem.

Sob a ótica do meio copo cheio, a tecnologia permite hoje que tenhamos momentos com amigos e familiares espalhados pelo mundo todo e isso era impensável há algumas décadas atrás.

100 anos atrás… passar feriados com parentes distantes ou não acontecia, ou acontecia com pouca frequência via uma longa trilha a cavalo ou de charrete. Na prática ficávamos presos ao que tínhamos perto no local — o que era ok, a não ser que as pessoas que amasse estivessem em outra parte do mundo.

50 anos atrás… uma ligação a longa distância era o ápice da conectividade. O telefone já supria com certa instantaneidade a conexão, exceção nos feriados, para os que se lembrarem, era impossível conseguir uma linha — fora o custo que era caríssimo. Tinham postos telefônicos também, orelhões e fichas.

Hoje em dia… estamos conectados com o mundo, de graça via wireless, a cores e em alta definição.

Daí veio a grande pergunta e resposta do artigo: Distração e isolamento — o que anda causando isso? “Não é só a tecnologia, é também aquele seu parente chato, os assuntos e as conversas vazias” — completou Peter. Nós (seres-humanos) tendemos a dar preferência por passar nosso tempo com aqueles que nos trazem maior alegria e satisfação. Podemos por a culpa na tecnologia mas na prática é envio de mensagens para nossos melhores amigos e familiares próximos versus conversas chatas com parentes distantes que muitas vezes temos pouco em comum. A gente pode, e deve claro, fazer nosso melhor esforço para sermos educados e fazermos “o certo”, mas se segurar pra não mandar um whats pro amigo anda algo muito difícil de evitar a medida que a qualidade das nossas conexões estão cada vez maiores e as barreiras para nos conectarmos cada vez menores.

Voltando para o Caos Natalino, saí hoje de casa 4:00h da manhã sentido GRU para evitar o trânsito e pegar um vôo para Chapecó e até meu UberX tradicional estava caro. Abri, com muita resistência, um aplicativo de Taxi e acabei chamando por uma oferta com 20% de desconto. O maluco tava só o pó. Nitidamente exausto. Todas as janelas abertas, aquele piscar de olhos pesado de sono. Eu disse — Quer que eu vá guiando amigão? Dalí para frente ele semi-despertou e minha adrenalina tava a mil. “Essa época do ano é muita corrida, não dá pra perder”. E perder a vida, dá?! Ninguém pensa no outro mesmo. Chegando no Aeroporto de Chapecó, por tempo de chegada, entrei em outro Taxi do Ponto. Um rapaz de aparentemente 20 e poucos anos, fez o tradicional rolê e roteiro de um velho malandro:

— Você é daqui?

— Não. O senhor me leva para o shopping por favor?

— Não quer que eu te leve pra sua cidade destino? Compensa mais hein?!

— Shopping, por favor.

O taxista colocou bandeira 2 em plena sexta-feira 9:00h da manhã. Eu só reparei quando após 5 minutos no carro a corrida estava em vinte e três reais. O cara foi rodando pelo caminho mais longo, e uma corrida de R$25,00 de UberX terminou em R$60,50. Por alguma razão, preferi não intervir no início, vendo até onde a malandragem ia. Não me contive. No meio da corrida eu falei:

— Bandeira 2?? Como assim?? O taxista já foi logo apertando pra voltar pra bandeira 1.

— É final de ano né. “Nosso décimo”!

— Sai da estrada e vai por dentro amigo. Esse caminho que estamos é o mais longo.

Que preguiça desse abuso, assistencialismo e vitimismo. Pensei: Que décimo meu? Que papo estranho é esse? Eu lá sou seu patrão pra te pagar 13o salário.. VSF… Mas fui dando corda… Chegando no Shopping eu falei a palavra mágica que faz qualquer taxista malandro tremer:

— Aceita cartão? De Crédito.

O cara não tinha como falar não, de tão sem graça. Enquanto ele dificultava o pagamento, dizendo que teria que carregar a maquininha do cartão, eu abri a tela do celular e mostrei para ele:

— Você é jovem, vai ter que aprender que nosso país já mudou. Obrigado Luiz Cláudio por me lembrar de usar o Uber por mais um ano. Obrigado Uber por toda tecnologia a nosso dispor. Melhor presente de Natal até agora.

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