Gratidão

Leopoldo Jereissati
Fala Man
Published in
2 min readOct 6, 2020

25 mil pessoas meditando em uma live…

Já há algum tempo minha esposa e alguns amigos comentavam sobre um senhor muito fofinho que religiosamente as 6h e 20h conduzia sessões de meditação ao vivo em seu instagram.

No meio da Pandemia, um monte de coisas acontecendo ao mesmo tempo, começava a ver seu nome aparecendo em diversos outros canais de conteúdo além do próprio. Acompanhando a distância pensei: esse cara deve estar fazendo sucesso. Passa mais algum tempo e começo a ler reviews sobre a experiência de pessoas de diversos setores com ele.

Tadashi Kadomoto é o nome da fera.

Ontem, por falta de sinal de internet na praia onde estava, quase a sessão não acontece e pensei: logo agora que resolvi participar?! Ele abriu pontualmente a live 20h, em segundos 3 mil pessoas, minutos 8 mil pessoas e minutos mais 25 mil pessoas ao vivo enquanto ele conversava com sua voz branda sobre seu dia e suas reflexões olhando para o mar. Citou Aristóteles (“Nós somos aquilo que fazemos”) e Freud (Sobre comportamentos repetitivos).

Além da sessão de meditação guiada e rounds completos de respiração (3 segundos inspirando, 3 segurando o ar, 6 soltando o ar) ele nos ensinou sobre como gostamos de repetidamente cometer os mesmos erros na vida, sempre terceirizando a culpa, ignorando os fatos e buscando aquele sentimento de pena de nós mesmos que nos faz companhia há tantos anos. Eu nunca tinha ouvido falar dele até esse ano. Com certeza há mais de 30 anos ele vem trilhando seu caminho ao iluminar o dos outros. Esse é o segredo da vida.

+30 anos ralando ali…

Antes de sair, nos deixou um sorriso e um poema maravilhoso e atual, extraído de “O Livro Tibetano do Viver e do Morrer”, de Sogyal Rinpoche (Ed. Talento/Palas Athena):

1.

Ando pela rua.

Há um buraco fundo na calçada.

Eu caio…

Estou perdido… Sem esperança.

Não é culpa minha.

Leva uma eternidade para encontrar a saída.

2.

Ando pela mesma rua.

Há um buraco fundo na calçada.

Mas finjo não vê-lo.

Caio nele de novo.

Não posso acreditar que estou no mesmo lugar.

Mas não é culpa minha.

Ainda assim leva um tempão para sair.

3.

Ando pela mesma rua.

Há um buraco fundo na calçada.

Vejo que ele ali está.

Ainda assim caio… É um hábito.

Meus olhos se abrem.

Sei onde estou.

É minha culpa.

Saio imediatamente.

4.

Ando pela mesma rua.

Há um buraco fundo na calçada.

Dou a volta.

5.

Ando por outra rua.

“Gratidão!”

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