Leopoldo Jereissati
Fala Man
Published in
5 min readNov 12, 2018

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Nada é por acaso. Nadar, também não é.

Casa, Piscina e Churrasqueira (CPC)

Poucas coisas na vida superam os momentos tão gostosos que esse combo nos proporciona. Com 32 anos de muitos churrascos e algumas piscinas finalmente descobri o segredo. Assim como na comunicação, essa ocasião parte de uma estrutura funcional replicável, e busca sua unicidade (diferenciação) no emocional: o que só a sua Casa (marca) transmite? Olha só que doidera...

Sob a ótica Funcional…

A Casa:

Saindo da dos seus pais, você começa normalmente rachando uma República na faculdade em alguma cidade que não seja a sua, migra para um local menor porém mais exclusivo para ter maior privacidade, enche esse espaço com namorada/namoridos, crianças, diaristas e babás, pets e sai em busca de novos espaços no campo e/ou na praia, pois há muita energia e pouco espaço na cidade para todos. Uma incansável corrida atrás do rabo (ou da felicidade). Mudança, reforma, manutenção e atraso na obra são companheiros da rotina.

A Piscina:

Tem a da casa da Vó, da Tia, da Mãe. Do clube, do condomínio e a do prédio (que ninguém usa nunca). Tem rasa, funda, retangular, circular, vista infinita, vista pro muro. Tem a do alojas com trampolim nos jogos da facul, aquela raia aquecida nos prédios novos, a da casa do seu amigo no interior de dar inveja branca. Tem também um hiato na vida sem piscina (há outras prioridades no momento). Tem aquelas tipo da Estrada, iluminada em azul de noite, e aquelas tipo hotel lua-de-mel, uma pedra que deixa a água em um tom turquesa, irresistivelmente digna de um stories no insta.

O Churrasco:

Nem sei por onde começa. Talvez pelos espetinhos de rodeio, churrasqueira na lajota, latão cortado ao meio, gradil da roçadeira servindo como chapa. Alcatra no máximo pra economizar o salário do estágio. Asinha, Toscana, farofa e vinagrete e dá-lhe. Os churras da facul só tinha breja - só comia carne quem era do DA/CA e Atlética. O resto bebia e dançava feliz - era barato. Costelão no chão pra dar conta de muita gente no sítio, upgrade pra picanha - uma peça, maminha e fraldinha pra variar, queijo coalho e pão. Na grelha de Paulista, no Espeto de Gaúcho e filé duplo no molho de festa em SC. Daí o tempo passa e surgem os cortes gringos e nomes chics. Prime isso, Flat aquilo, gordura virou marmoreio e as carnes exoticamente comuns ficaram com preços salgados. Parrillas, espetos que giram, coifas vaporizadas, madeira de macieira e o escambau. Gourmetizaram o churras, e o danado continua fantástico.

O problema…

Onde entra o problema?! O problema é que o cara (a mina) rala, rala pra ganhar dinheiro, constrói tudo aquilo e não usa. Trabalha, trabalha pra comprar o apto com aquela churrasqueira na varanda e não usa.

Ao invés da prosa, do olho no olho e do contato ao vivo, busca a endorfina nos likes. Nos smartphones "todo mundo fica perto de quem ta longe e longe de quem ta perto". Conectados e multi-telados a alegria passa rápido e logo vem a necessidade de encontrar uma estrutura maior e melhor em um lugar diferente pra suprir todo esse vazio e reencontrar o eixo; o lar.

Sob a ótica Emocional:

Casa é lar. Haus em Alemão. Sua etmologia deriva de “Ser”. Portanto sua casa reflete o que tu és.

Andamos muito preocupados com a mobília, os cômodos, as suites. Não convidamos mais quem a gente gosta de estar junto. "Vai sujar"; "Vai dar trabalho pra arrumar". O tempo vai passando e vivemos com a agenda cheia de compromissos que não gostaríamos de ir, mas acabamos indo.

As piscinas andam vazias. Não de água: de companhia. O combo CPC foi montado por um sentido que não está sendo compreendido pela nossa geração.

Não é o corte da carne, tipo da churrasqueira, o tamanho da piscina e nem o local da casa que contam. É a companhia e as histórias que contamos em volta delas.

Amizade é piscina: tem que cuidar sempre e tem que usar pra valer a pena tanto esforço.

Para os que curtem literatura brasileira, Guimarães Rosa nos apresentou A Hora e Vez de Augusto Matraga. "Matraga, não é nada" ensinuando que somos aquilo que nos tornamos e que nos tornaremos aquilo que somos.

Nessa pira concluo e te peço para que não se esqueças de quem és para que se lembrem de quem foste.

Cuide dos seus amigos, da sua família e da sua comunidade. Mantenham-nos por perto. Se envolva mais.

Feriado tá logo ali. Enche essa piscina de gente, e toca fogo nessa churrasqueira!

Bora comemorar a vida.
Quantas vezes ja nadou esse ano?

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